Rodrigo era uma criança que tinha especial encanto pelas coisas sagradas. Aos cinco anos de idade, quando a sua mãe lhe explicou sobre a importância da oração na vida do cristão, ele lhe perguntou:
– O que é ser cristão, mamãe?
– Ser cristão é ser seguidor de Jesus Cristo, meu filho!
– E onde Ele mora?
– Ele mora lá no alto, no céu, junto com os anjos!
– Mamãe, eu quero morar lá no alto com Ele e com os anjos.
Rodrigo era filho único. Morava com sua mãe e sua avó materna numa propriedade rural, no interior do estado do Amazonas.
Seu pai abandonou a família assim que soube da existência de Rodrigo, dizendo aos seus “amigos” mais próximos: “Esse filho não é meu”.
Com muita dificuldade, sua mãe conseguiu completar o período da gestação, e Rodrigo veio ao mundo no dia 8 de dezembro de um ano qualquer do século XXI, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do estado do Amazonas.
Quando Rodrigo cresceu um pouquinho, sua mãe voltou a estudar e concluiu o curso de Cuidador de Idosos, junto aos indígenas da região. Em seguida, conseguiu um trabalho no povoado mais próximo, Santa Luzia.
Rodrigo foi crescendo muito solitário. Além das poucas pessoas que iam “pedir bênçãos” a sua avó, poucas pessoas apareciam por lá. O mundo de Rodrigo era o universo dessas duas mulheres: sua mãe, uma “enfermeira” que passava o dia todinho fora de casa por causa do trabalho, e sua avó, uma mulher espiritualista que vivia dentro do quarto, cercada por cristãos, incensos e imagens de santos; ouvindo músicas celtas e recitando salmos.
– Mãe, vamos sair um pouco? Vejo que a senhora está muito em casa, sozinha, sem amigas, sem ninguém!
– Não, filha! Estou bem onde estou e como estou.
– Já disse, a senhora precisa ver gente.
– E eu já lhe disse, eu estou bem! Deixe-me com os meus afazeres. Eu sou feliz assim, sozinha! Não preciso de ninguém.
– Nem de mim?
– Não seja sentimental. Claro que só de você e do meu neto.
Pelo fato de não ter irmãos nem outras crianças da mesma idade com quem conviver, Rodrigo permaneceu muito isolado durante a primeira infância, a ponto de começar a falar só aos três anos e meio de idade.
Um dia, ao chegar do trabalho, sua mãe sentiu sua falta. Foi ao quarto do filho, e ele não estava lá. Procurou em todos os cômodos da casa, e nem sinal de Rodrigo. A avó de Rodrigo, pensando que a filha tinha levado o filho com ela para o trabalho, nem se preocupou com o “sumiço” do neto, e passou o dia inteirinho nos seus “afazeres espirituais”.
– A senhora não sabe mesmo onde está o meu filho?
– Claro que não, filha! Hoje eu não atendi ninguém. Ninguém veio aqui.
– Se ele não está aqui, para onde ele foi, mamãe? Será que raptaram o meu filho?
– Acalme-se! Ele não deve ter fugido.
– Então vamos procurá-lo.
A angústia de não saber onde Rodrigo estava nem o que tinha acontecido com ele prolongava-se por uma, duas, três horas…
Quando ambas iam saindo para buscar ajuda externa, mãe e avó avistaram Rodrigo de joelhos, orando junto a uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, nos fundos da propriedade.
Ao ser questionado sobre o que havia acontecido, ele respondeu:
– Hoje foi o dia mais feliz da minha vida!
– O que aconteceu? – perguntou sua mãe.
– Os meus amigos vieram me visitar!
– Que amigos? – perguntou a sua avó.
– A senhora não disse que hoje não veio ninguém aqui?
– Deixa ele falar – disse sua avó.
E, virando-se para o neto, disse-lhe:
– Conte-nos, Rodrigo. Quem são esses seus amigos?
– Vó, a senhora não vai acreditar.
– Vou sim, filho, pode contar – insistiu sua avó.
– Assim que a mamãe saiu para o trabalho e a senhora foi varrer o quintal, apareceram três crianças. Elas me chamaram para brincar debaixo da mesa da sala, dizendo: “Vem conosco! Vem conosco!”.
– Devem ter sido os filhos daquela mulher que a senhora atendeu semana passada. A senhora lembra como ela era?
– Não interrompa. Deixe o seu filho falar.
– Mamãe – continuou Rodrigo –, não se trata de seres materiais, mas sim de seres espirituais, de Anjos.
Muito assustada, sua mãe o pegou no colo e cobriu-o de beijos. Disse-lhe que o amava muito e que não queria lhe perder.
– Eles me convidaram para morar no céu.
– Você pode descrevê-los? Como eram essas crianças?
– Mamãe, deixa disso, o meu filho está abalado, parece que ele viu foi um fantasma.
Rodrigo, virando-se para a sua avó, disse-lhe:
– Vovó, não dava para ver claramente, mas a voz era nítida, e as palavras saíam articuladas.
– Eles se apresentaram para você? Falaram os nomes?
– Sim. O mais falante era o Gabriel. O Rafael era mais sério. Agora, o mais divertido era o Miguel.
– Venha, vamos entrar, essa conversa já está até me deixando com medo – disse-lhe sua mãe.
E sua avó completou:
– Eu garanto que você está morrendo de fome – disse, fazendo um cafuné – Passou o dia inteirinho brincando com os Anjos. Vamos comer? Vovó preparou um delicioso bolo de laranja para você e seus amiguinhos.
Rodrigo nutria um especial encanto pela existência do bem, isto é, acreditava que o bem não só existe como ele se manifesta nos seres humanos enquanto criaturas criadas por Deus.
Depois de comer o delicioso bolo de laranja da vovó Nair, Rodrigo disse:
– Deus meu, perdoe-me! Sei que aí no céu é um lugar muito lindo, mas por ora prefiro ficar aqui com a minha família, juntamente com a minha mãe e minha vó.
– É isso que Vossa Excelência realmente deseja? – perguntou o Anjo Rafael.
– Claro que sim! Gosto muito de brincar com vocês, mas eu gosto muito mais de minha família!
Quando Rodrigo terminou de falar, os Anjos desapareceram.
– Devo ter sonhado – disse sua mãe – mas parece que eu vi anjos aqui no meio de nós.
– Como eu ficaria feliz se isso fosse verdade! – disse vovó Nair.
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Por fim, falou Rodrigo:
– Deve ser muito chato ser adulto. Bom é ser criança. Nós brincamos com os Anjos!