Nos últimos 7 dias, em quantos deles você já acordou com a sensação de que estava sentindo exaustão, mesmo tendo acabado de acordar? Na maioria, né? Aquele meme que diz “amanheci cansada” nunca foi tão real. E tantas pessoas têm sentido isso que esse conceito já ganhou até mesmo uma definição: sociedade do cansaço.
Você já ouviu falar sobre sociedade do cansaço? Sabe do que se trata? Pois neste artigo vamos explorar esse conceito, o que o caracteriza e por que ele está fazendo tanto mal para nós, enquanto sociedade.
Direto ao ponto
O que é sociedade do cansaço?
O criador do termo é o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. Segundo ele, estamos vivendo numa sociedade em que cobranças excessivas foram naturalizada, seja no trabalho, no ambiente familiar, nos relacionamentos amorosos, nas redes sociais etc. Essa cobrança absurda é por produtividade, por ser “sempre melhor”.
Além disso, apesar dessa cobrança grande e da exaustão que isso causa, somos sempre cobrados por positividade também. Não abaixar a cabeça e sorrir mesmo cercado pelo caos é um dos pilares dessa sociedade do cansaço.
E todos ou quase todos estamos passando por isso. Ou seja, é um problema tão geral que já se tornou uma questão coletiva, daí vem o termo “sociedade” da expressão, já que todos estamos nos sentindo extremamente pressionados e cansados pela alta demanda e pela expectativa de performance.
Produtividade sempre
Quantas semanas você concluiu nos últimos tempos com a sensação de que deu conta de fazer tudo o que tinha se proposto a fazer — tudo isso sem se sentir extremamente cansado? Poucas, não é mesmo? A verdade é que atualmente temos demandas demais para tempo de menos.
Adicionalmente às demandas que fazem parte da nossa vida há séculos — trabalho, estudo, família, filhos, casamento, relacionamentos, amigos —, muitas novas responsabilidades e oportunidades surgiram: viagens, filmes, séries, notícias, podcasts, conteúdo de todos os tipos, memes, redes sociais e por aí vai.
Simplesmente não temos capacidade de processar tanta informação quanto estamos recebendo atualmente, e aí o cansaço é duplo: vem de não dar conta de tudo, mesmo se esforçando muito, e também da frustração justamente por não dar conta de tudo.
Comparações e mais comparações
Outro grande pilar da sociedade do cansaço é a comparação, essa coisinha que fazemos o tempo todo na era das redes sociais. Você compara seu cargo e a empresa onde trabalha no LinkedIn, suas viagens parecem sem graça perto das fotos incríveis dos amigos no Instagram, todo mundo lê dezenas de livros e assiste a centenas de filmes, e você não. Não dá tempo, não sobra energia.
E essa comparação constante nos faz sempre chegar a uma conclusão: estamos atrasados, precisamos alcançar o outro, precisamos fazer 2h de exercício físico todos os dias, ler 50 páginas de um livro, meditar, limpar a casa, cuidar dos filhos, da intimidade com nosso parceiro e ainda por cima sorrir!
Só de ler já dá uma exaustão, não é? E a verdade é que não estamos pensando em qual é o nosso tempo, porque estamos vivendo o tempo todo no ritmo dos outros, tentando acompanhar pessoas irreais (porque vemos nas redes sociais uma partezinha de quem as pessoas são), então é impossível mesmo dar conta disso.
Trabalhos cada vez mais exigentes
Nunca se falou tanto sobre síndrome de burnout como se tem falado atualmente. O excesso de demanda, de expectativa e de cobrança no ambiente profissional e na carreira tem feito muitas pessoas simplesmente perderem sua saúde mental.
Em busca de mais qualificação, de salários melhores, de cargos mais interessantes e de empresas mais conceituadas, vamos doando cada vez mais o nosso tempo à vida profissional, sem calcular as consequências desse esforço. Portanto vamos abrindo mão de quem somos na vida pessoal em busca de ser alguém na vida profissional.
Isolamento absoluto
Segundo Byung-Chul Han, o idealizador da teoria da sociedade do cansaço, vivemos tempos em que estamos conectados o tempo todo por meios digitais, mas a verdade é que nunca estivemos tão isolados e trancados dentro de nós mesmos.
De acordo com o filósofo, apesar da sensação de estar compartilhando tudo o tempo todo, as pessoas nunca tiveram tantos problemas mal-resolvidos, traumas e insatisfações com suas vidas como estão tendo agora, daí o boom de problemas como depressão, transtorno de ansiedade generalizado, entre tantos outros males de saúde mental.
E a positividade lá no alto!
“Deus ajuda quem cedo madruga”. “Eu cheguei aqui por merecer”. “Trabalhe enquanto eles dormem”. “No fim, tudo vai dar certo”. Isso se chama positividade tóxica, uma positividade que desconsidera os sentimentos reais e pinta de falso colorido situações abusivas.
Vivemos tempos, segundo Byung-Chul Han, em que é considerada fraqueza reconhecer suas vulnerabilidades e falhas, porque todo mundo é perfeito sempre: nas fotos, nos textões das redes sociais, nas conquistas profissionais. Então quem quer ser aquele que assume publicamente seus defeitos e reconhece seus erros?
A consequência mais negativa disso é que deixamos de respeitar o nosso direito de estar tristes, de não nos sentirmos bem, de estarmos passando por momentos difíceis. Tudo isso em nome de manter a produtividade alta e a positividade lá em cima. Afinal, rosto triste não faz sucesso na era da imagem, não é mesmo?
Como combater a sociedade do cansaço?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Não existe fórmula mágica nem receita de bolo, porque estamos ainda descobrindo como isso está acontecendo e como estamos lidando com esse novo momento da humanidade. Porém você pode adotar algumas pequenas medidas para cuidar de si.
1 — Pare de se comparar: entenda que cada um tem seu tempo e que as conquistas do outro não anulam a importância das suas. Viva sua vida no seu ritmo;
2 — Permita-se estar triste: não finja sorrisos, mesmo que você precise se afastar um pouco do turbilhão das redes sociais. Se preciso, procure ajuda, não fique sozinho, mas lembre-se: estar triste prova que você é humano, faz parte da vida;
3 — Fuja das telas: sempre que puder, deixe o celular, o computador, a TV e todas as outras telas de lado, bem como a ansiedade de saber o que está rolando agora, o que as pessoas estão fazendo;
4 — Menos estímulos: seguir o conselho anterior vai te ajudar a diminuir a quantidade de estímulos que você recebe e, consequentemente, você vai se sentir menos apressado e menos exausto;
5 — Procure ajuda: fazer uma psicoterapia vai te ajudar a entender de onde vem a sua sensação de exaustão. Portanto vai te auxiliar também a compreender o que pode ser feito para que você combata isso e se sinta melhor consigo.
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Enfim, a sociedade do cansaço é uma realidade e você precisa entender, acima de tudo, que não deve se sentir cansado por sentir essa exaustão. Muitos estão, quase todos estão, então procure se afastar um pouco do turbilhão de informações que estamos recebendo e se permita simplesmente descansar e relaxar.