Já se deparou com alguém gritando com outra pessoa sem motivo aparente? Quantas vezes no trabalho você já viu alguém descontrolado?
Outro dia eu estava em um ônibus e o motorista não parava de xingar, berrar, tudo parecia tirá-lo do sério – um carro que decidiu virar numa rua permitida, mas que, para isso, teve que aguardar passar outro carro para conseguir; outro que tirou uma fina do ônibus; o trânsito parado por conta de um semáforo.
Eu só pensava no que ele estava reprimindo, o que o fazia gritar tanto para ser ouvido. Será que ele não estava sendo visto pelo chefe? Será que ele não tinha espaço para se colocar dentro da família? A quanto tempo ele não tirava férias para descansar?
Acredito que nenhuma pessoa esbraveja por acaso, muitas vezes a dor é tão grande que berrar parece a única saída. Claro que ninguém é obrigado a aguentar uma grosseria porque entende que o outro tem uma dor não vista, mas é importante humanizarmos quem parece fora do controle.
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Vejo muita gente filmando, tirando foto, estimulando o outro a ficar ainda mais fora de si. Tudo isso para se divertir, postar, expor uma situação triste. Certamente, se alguém abraçasse quem precisa ser ouvido, o nervosismo desmoronaria. O que a pessoa precisa nesse momento é de afeto, de atenção.
Que possamos ser mais disponíveis e gentis com a dor do outro. Que possamos não menosprezar a nossa dor também e sermos mais amáveis conosco, porque podemos nos tornar esse alguém que precisa explodir para ser notado. Por trás de uma simples irritação, há algo muito maior: não ter um lugar seguro para trabalharmos nossos medos e nossas angústias.