Saúde Integral

O que há por trás da irritação frequente? Conheça a Distimia

Mulher sentada ao lado de u m lago com as mãos na cabeça
RODNAE Productions/Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Todo mundo conhece uma pessoa que está sempre de mal com a vida. Aquele que quando vai ao cinema, sai reclamando, o tema foi mal explorado, os atores são inexpressivos, os cenários são mal feitos e os figurinos não condizem com a época. Abandonam um livro depois de poucas páginas, porque não conseguiu suportar os erros gramaticais e a superficialidade do enredo. Para essas pessoas nada é bom e as pessoas não lhe agradam. Levam tudo para o lado pessoal. Vivem com a cara amarrada, de cenho franzido, um olhar de reprovação e sempre prontos para brigar.

Momentos de mau humor são comuns. Quando as causas são resolvidas consegue-se voltar às atividades e, principalmente conviver com as pessoas de forma saudável. Porém, em algumas pessoas o mau humor estende-se por meses e até anos. Essa irritação frequente mascara a frustração pela incapacidade de controlar situações ou pessoas.

O mau humor e a irritação constantes têm um nome, distimia, palavra grega que significa mau humor. Por vários séculos serviu para definir a pessoa constantemente irritadiça. No entanto, hoje o termo distimia é empregado para classificar um tipo de depressão de moderada intensidade que pode se manifestar na infância e na terceira idade, porém, a maioria dos casos tem início na adolescência. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 3% da população mundial – aproximadamente 180 milhões de pessoas sofrem desse transtorno. No Brasil, estima-se que a distimia atinge entre 5 e 11 milhões, segundo a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA). A maior incidência é nas mulheres, mas não tanto a depressão clássica. Na distimia, são duas mulheres atingidas para cada homem.

Sintomas

Mulher de olhos fechados segurando seus braços
Engin Akyurt/Pexels

As pessoas com distimia possuem baixa estima, sempre fazem comentários de autodesqualificação. Tem elevado senso de autocrítica com quem está a sua volta. Os portadores desse distúrbio são inquietos, tensos e expressam suas emoções com gritos. Por enxergarem apenas o lado negativo das coisas, tornam os momentos difíceis ainda mais complicados. A intensidade dos sintomas varia de acordo com cada pessoa. Uma queda súbita nos níveis de testosterona causa alterações de humor nos homens. Ganho ou perda de peso superior a 5% em um mês, insônia ou excesso de sono também são sintomas observados no distúrbio.

Causas

As causas da distimia vêm, geralmente, de três fontes diferentes: os próprios acontecimentos da vida, que podem afetar o nosso humor e desenvolver transtornos; a genética e a hereditariedade, caso existam casos de distimia ou depressão na família; e pensamentos e atividades intencionais, como ser otimista/pessimista, cultivar boas relações, ter metas e objetivos, manter o corpo em movimento e a espiritualidade.

Segundo o médico Dráuzio Varella, a distimia também afeta o sono e é afetada por ele. As pessoas com distimia, segundo ele, têm o mesmo padrão de sono das pessoas com depressão. Isso significa que a fase REM do sono delas (rapid eye movement), em que os olhos se movimentam rapidamente e os sonhos são mais vívidos, acontece antes dos 70 minutos da noite de sono.

É comum, entre os distímicos, o uso de drogas tanto lícitas quanto ilícitas, com o objetivo de diminuir a irritação, o mal-estar e a angústia. O álcool é o mais comum deles, porque inicialmente proporciona tranquilidade e melhora no humor, mas, passado o efeito da bebida, a irritabilidade volta com força ainda mais.

Então o malefício do uso de drogas para os distímicos é duplo, porque pode causar dependência química e atrapalhar a luta contra a distimia, especialmente se já estiver sendo ministrado algum tratamento.

Diagnóstico

De acordo com Varella, a diferenciação entre distimia e depressão é mais acadêmico do que prático, visto que o tratamento é feito com antidepressivos. Contudo, a principal diferença entre os dois distúrbios é que o deprimido perde a vontade de viver de uma hora para outra. Já os distímicos apresentaram quadros graves de depressão ao longo da vida. Pacientes com depressão quando retornam para a consulta após a medicação, apresentam animação e disposição. Para os distímicos é difícil estabelecer um padrão de normalidade, parece que nasceram mal-humorados.

Homem apoiando sua cabeça com o braço que está na mesa
Andrew Neel/Pexels

Responda sinceramente as seguintes questões pensando no comportamento dos últimos dois anos. As respostas darão um panorama sobre a situação:

  1. Sente-se triste mais de quatro vezes por semana ou não se sente nem feliz nem triste na maior parte dos dias?
  2. É mal-humorado mesmo em situações em que todos parecem felizes?
  3. É agressivo?
  4. Sente-se incapaz de sentir prazer ou relaxar?
  5. Tem dificuldade para se concentrar?
  6. Tem baixa estima?
  7. Sente-se inferior aos outros?
  8. Tem dificuldade para se sentir feliz e satisfeito?
  9. Tem dificuldade em tomar decisões?
  10. Sente-se cansado ou sem energia?
  11. É rígido ou inflexível?
  12. Leva tudo para o lado pessoal?

Não confunda distimia com estresse

Alguns sintomas da distimia se parecem bastante com sintomas dos quadros de estresse, como irritabilidade, mau humor e falta de energia, mas há algumas diferenças entre esses problemas, diferenças que podem ser fundamentais para encontrar o tratamento certo.

O estresse é um problema pelo qual todos passaremos, em maior ou menor grau, porque ao longo da vida somos expostos a situações estressantes. Quando uma fase estressante se estende, seja por dias, semanas ou meses, um quadro mais grave pode se instalar, mas o mais comum é que esses momentos venham e vão.

A distimia, porém, é um problema no qual o mau humor, o desânimo, a tristeza, entre outros sintomas, já estão presentes há pelo menos dois anos na vida do paciente, ao contrário das fases cíclicas do estresse.

Além disso, o estresse muitas vezes vai embora de nossas vidas quando a situação que estava causando o estresse chega ao fim, ao contrário da distimia, que precisa de acompanhamento psicológico e tratamento psiquiátrico para que seja curado.

Portanto, se você percebe que os seus sintomas e que esse mal-estar (seja físico ou psicológico) já está durando dois anos ou um tempo parecido com esse, marque uma consulta com um psiquiatra e fale sobre essa situação.

Suicídio

Muitos distímicos suicidam-se. Há quem não aguente a incapacidade de relaxar e não conseguir manter relacionamentos. Desses pacientes, 15 a 20% tentam suicídio. Na infância ou adolescência, 90% das crianças e adolescentes que tentaram ou cometeram suicídio são portadoras de doenças psiquiátricas, especialmente depressão, esquizofrenia e distimia.  

Tratamento

O tratamento da distimia envolve psicoterapia e medicamentos.  As sessões de terapia ajudam o paciente a reduzir sentimentos autodestrutivos, como a negatividade e a desesperança. Também é feito um trabalho para a melhoria da convivência familiar e com amigos, além das relações profissionais. Geralmente, os pacientes distímicos precisam tomar antidepressivos por dois anos. Os medicamentos mais usados são:

Homem sentado em uma cadeira conversando com psicologa a sua frente
cottonbro/Pexels
  • Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs): Usado em casos de depressão leve, ataques de ansiedade ou pânico e distúrbio bipolar. Sedação, confusão e náuseas são alguns dos efeitos colaterais;
  • Inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (ISRSN ou SNRI): Usados no tratamento da depressão, transtornos de ansiedade e alguns tipos de transtorno de personalidade. É um dos antidepressivos mais receitados. Quase não tem efeitos colaterais;
  • Antidepressivos tricíclicos: Tem esse nome porque possuem três anéis de átomos. Usados no tratamento da depressão crônica ou profunda. Os efeitos colaterais são: boca seca, agitação, sedação e retenção urinária.

Tratamento complementar

A acupuntura (do latim acus – agulha e punctura – colocação) é uma técnica da medicina chinesa, e segundo resolução da Organização Mundial de Saúde (OMS), um método de tratamento complementar. Para os pacientes com distemia podem complementar o tratamento psicoterapêutico e medicamentoso. Seu fundamento é estimular o fluxo da energia “chi”, trazendo assim equilíbrio emocional. A estimulação feita pelas agulhas faz com que o cérebro libere serotonina. Como a acupuntura ajuda a emagrecer, também é benéfica aos distímicos, que podem comer exageradamente.

Os pontos estimulados estão localizados no tórax, couro cabeludo e punho. Os efeitos das agulhadas são os seguintes:

  • Canaliza a energia vital – chi;
  • Equilíbrio emocional;
  • Relaxa musculatura cervical;
  • Estimula concentração;
  • Elimina a energia estagnada.

Shiatsu (do japonês Shi = a dedo e atsu = pressão, ou seja, pressão com o dedo), também é um tratamento complementar. É a pressão exercida pelos dedos e palmas das mãos em determinados pontos que formam  canais energéticos, também chamados de meridianos, que se relacionam com os órgãos internos. Dentro dos Canais de Meridianos circula a energia vital Ki. O shiatsu equilibra o sistema nervoso, reduz a tensão muscular, regula os distúrbios do sono, dentre outros benefícios.

Distimia e alimentação

A alimentação é uma aliada no tratamento. Veja quais são as vitaminas e minerais que não podem faltar à mesa:

Pão com ovo, amêndoas e abacate
Foodie Factor/Pexels
  • Selênio: Esse mineral ajuda a melhorar o humor. É encontrado nas amêndoas, peixes, nozes e sementes de girassol;
  • Ácido fólico: Garante o bom funcionamento do sistema nervoso. Feijão branco, soja, aspargo, maçã e laranja são as maiores fontes;
  • Vitamina B6: Promove a produção de serotonina. Invista nos cereais integrais, levedo de cerveja, gergelim, alho, banana e atum;
  • Ômega 3: Reduz o colesterol, fortalece o sistema imunológico e ajuda no combate à depressão. Salmão, atum, sardinha, bacalhau, óleos de peixe e semente de linhaça possuem grande concentração de Ômega 3;
  • Magnésio: Aumenta energia. Encontrado na aveia, arroz integral, soja, tomate, espinafre e caju;
  • Cálcio: Reduz a irritabilidade e estabiliza os batimentos cardíacos. É encontrado no leite e nos vegetais verdes escuros, como o espinafre, couve e agrião.

Outros alimentos que devem fazer parte dessa dieta:

  • Alface: Diminui a irritação. A lactucina presente no talo atua como calmante;
  • Uva: Fonte de vitaminas do complexo B, responsáveis pelo bom funcionamento do sistema nervoso. A vitamina C e os flavonóides são antioxidantes, que retardam o envelhecimento da pele, combatem o colesterol e dão energia;
  • Mel: Estimula a produção de serotonina.

Mudanças de hábito

Além da alimentação, existem outras medidas que ajudam a melhorar o dia a dia de quem tem distimia:

  • Não fume, nem beba: O cigarro causa doenças cardiovasculares e pulmonares, gerando ansiedade e depressão. O álcool, em um primeiro momento traz relaxamento e traz desinibição, porém, logo após passar o efeito, a ansiedade e a irritabilidade voltam;
  • Beber dois litros de água: A desidratação celular provoca estresse cerebral;
  • Durma oito horas por dia: Vá dormir no máximo até às 22 horas. O sono revigorante ocorre entre às 23 e 3 da madrugada;
  • Atividades excitantes: Antes de dormir não assista televisão, não faça ginástica, não acesse a internet. Prefira exercícios de relaxamento e músicas calmas;
  • Última refeição às 18 horas: Prefira sopas, saladas e sanduíches leves;
  • Chás: De maracujá, camomila e erva cidreira relaxam e eliminam a ansiedade. O chá de hipericão é eficaz no restabelecimento do sistema nervoso e atua como antidepressivo natural. Para fazê-lo, use uma colher de chá de hipericão e 200 ml de água. Coloque a erva em uma xícara e acrescente água fervente. Tampe e espere 10 minutos, coe e consuma. O chá preto e o mate possuem cafeína, por isso, causam efeito contrario e devem ser evitados;
  • Banho frio: Ou morno pela manhã ajuda a despertar graças ao choque térmico. O banho quente a noite causa vaso dilatação, provocando relaxamento;
  • Atividade física: Faça caminhada antes das 10 da manhã ou após às 4 da tarde. É um ótimo estimulante para a glândula pineal. Os raios solares promovem a produção de melatonina, hormônio que ajuda a deixar o sono mais tranquilo, aumenta a resistência física e melhora o humor;
  • Meditação: É grande a lista de benefícios. Só para listar alguns, abaixa a pressão sanguínea, aumenta a produção de serotonina e aumenta a criatividade. Dedique meia hora por dia e você verá a diferença;
  • Contato com a natureza: Visite jardins, praias, montanhas e rios. O contato com a natureza ajuda a revigorar.

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Apresentamos aqui um distúrbio ainda pouco conhecido. A distemia paralisa a vida da pessoa. Os portadores são vistos como chatos e mal-humorados, porém, eles se sentem angustiados por não conseguirem relaxar e curtir a vida. Eles sofrem por serem vistos como pessoas desagradáveis. Ficam frustrados por não serem chamados pelos colegas de trabalho para o famoso happy hour. A agressividade é comum nesses pacientes, e são a forma deles expressarem seus sentimentos e pedirem socorro. Aos amigos e familiares de um distímico ficam as seguintes dicas:

  • Esteja perto: Fique por perto. Sente-se ao lado da pessoa, segure as mãos dela e diga o quanto ela é importante para você;
  • Não julgue: Jamais diga “não é só você que tem problemas”. Além de lógico, mostra que os conflitos internos do distímico são vistos como frescura, coisa de quem não tem o que fazer;
  • Evite dar conselhos: Não diga o que ela tem que fazer, pois, o terapeuta já faz orientações nesse sentido.

Esperamos ter contribuído para a discussão desse distúrbio ainda pouco discutido, porém, tão comum. Conhecer uma patologia é sempre a primeira e melhor forma de estabelecer as formas de tratamento. Caso você tenha se identificado com tudo que foi relatado nesse artigo, não hesite em procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Agora, se você tem algum familiar ou amigo nessas condições, não tenha medo em conversar com ele, a fim de mostrar que seus comportamentos impedem a existência plena. A medicina está a nossa disposição e devemos recorrer sempre a ela para tornarmos a nossa vida melhor.

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Eu Sem Fronteiras

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