Quem nunca ouviu uma lenda do folclore quando era pequeno? Histórias de personagens como Saci, o Boto cor-de-rosa ou a Cuca embalam a imaginação das crianças brasileiras há séculos. Tenho certeza de que você foi uma delas!
Quando a gente cresce, essas lendas parecem apenas mitologia. Mas todas elas têm uma mensagem e um papel muito importante no fortalecimento da cultura do nosso país. Os mitos, os costumes, as crenças, as músicas, as danças e as festas populares de cada região do Brasil são uma forma de nos aproximar das raízes da nossa história.
Por quê? Porque elas proporcionam o contato com a sabedoria popular, com a natureza e com as características dos diferentes povos que construíram a nação brasileira. Quando os mais velhos contam uma lenda do folclore, é como se todo o país estivesse rememorando o seu passado.
Então vamos relembrar os principais contos que costumávamos ouvir na infância e entender o que cada um deles tem a nos dizer? Acompanhe!
O que você encontrará nesse artigo:
O que podemos aprender com a lenda do Saci?
O Saci é provavelmente uma das lendas mais conhecidas de todo o folclore brasileiro. A história surgiu na região Sul e conta com influências das culturas africana e indígena. Geralmente, ele é representado como um menino negro e baixinho que possui apenas uma perna e está sempre usando um gorro vermelho e fumando cachimbo.
Ele também é bastante agitado e travesso: gosta de dar nós na crina dos cavalos, fazer objetos sumirem, apagar velas e assobiar na estrada para confundir viajantes. Por suas travessuras, ele pode ser considerado um ser maléfico. Mas, em sua essência, acredita-se que ele não seja mau, apenas goste de se divertir.
E aqui está o primeiro ensinamento da lenda do Saci: a diversão é uma forma de tornar a vida mais leve e feliz, desde que não faça mal a ninguém. Precisamos compreender o limite entre o nosso espaço e o do outro, sempre levando em consideração o bem-estar daqueles que nos cercam.
Apesar do seu lado travesso, o Saci é um exímio conhecedor da floresta. Considerado o protetor das matas, ele não permite que ninguém pegue algo sem autorização. Com ele, podemos aprender a importância de cuidar da natureza como se fosse a nossa própria casa (porque ela é!), preservando a fauna e a flora e promovendo a sustentabilidade.
Além disso, as características do Saci, misturando costumes e trejeitos de diferentes culturas, leva-nos a pensar sobre o sincretismo nacional — ou seja, a fusão de vários povos na formação da população brasileira. Aceitar as diferenças entre hábitos, idiomas e valores de cada grupo é extremamente importante. E aprender isso por meio de uma das mais populares lendas do folclore é ainda melhor!
Agora, uma curiosidade: por seu papel de guardião das matas, alguns acreditam que o Saci tenha se inspirado em outro personagem muito famoso, o Curupira. Continue lendo para saber mais sobre essa lenda.
O que a lenda do Curupira nos ensina?
O Curupira é conhecido por sua força sobrenatural e pelo seu papel como protetor absoluto das florestas, das matas e dos animais. A história é muito popular no Norte do Brasil e tem origem entre os povos indígenas.
Ele é representado por um garoto de cabelos vermelhos, corpo peludo, dentes brilhantes e pés virados para trás. O objetivo? Enganar quem o persegue. A principal atividade do Curupira é proteger a floresta de caçadores, lenhadores e outras pessoas mal-intencionadas que queiram causar destruição. Ao perceber a presença de uma ameaça entre as árvores, ele imita o som de diferentes animais para confundir e afugentar a pessoa.
Em tempos como o que vivemos, que bom seria se tivéssemos um Curupira em todas as florestas. Nos últimos anos, vimos um grande aumento de queimadas, desmatamentos e tráfico de animais. Isso significa que estamos perdendo a capacidade de proteger a natureza, algo que poderíamos aprender com as lendas desse personagem.
Se todas as histórias buscam passar uma mensagem, a do Curupira é a de que deveríamos refletir sobre a conduta adotada pela sociedade atual em relação à preservação do meio ambiente, o maior patrimônio natural que ainda nos resta.
A esse ponto, você deve estar se perguntando: onde estão as lendas sobre personagens femininas? Abaixo, vamos ver o que é possível aprender com o conto da Iara.
Qual o objetivo da lenda Iara?
A Iara, especialmente popular na Amazônia, é uma bela sereia de cabelos longos e negros que seduz homens distraídos para as profundezas do mar. Muitas vezes, ela os mata, mas também pode deixá-los à beira da loucura.
A sua história, porém, não é tão conhecida quanto seus feitos. Diz a lenda que Iara era uma indígena muito bonita, que causava ciúme em seus irmãos. Juntos, eles resolveram matá-la, mas ela conseguiu escapar e acabou praticando o crime contra eles.
Com medo, fugiu, mas foi descoberta pelo pai — o pajé da tribo. Revoltado, ele a lançou no encontro do Rio Negro com o Solimões. Como era noite de Lua Cheia, os peixes a acolheram e a transformaram em sereia. Desde então, ela atrai pescadores com seu canto irresistível, mas também protege o mar e seus animais contra ações de destruição.
Assim como o Saci e o Curupira, aprendemos com a Iara sobre a importância de cuidar da natureza e das nossas águas que, a cada ano, vêm sofrendo mais com o aquecimento global. Porém, uma reflexão ainda mais importante se volta para as obscuridades do conto da Iara: a sua família foi completamente destruída pela inveja e ela dedicou o resto de sua vida à vingança. Como podemos cuidar para que a cobiça não destrua a nossa caminhada e a daqueles ao nosso redor? Até que ponto vale remoer o rancor por algo ruim que alguém nos fez?
Essas são algumas das questões que a lenda da sereia nos traz e que você provavelmente nunca reparou. Que tal continuar aprendendo com o folclore por meio da leitura?
Dicas de livros para aprender sobre o folclore brasileiro
Existem milhares de lendas brasileiras. Se fôssemos contar todas elas, este texto não teria fim. Então separamos cinco livros muito interessantes que tratam justamente das histórias que povoam o imaginário brasileiro. Confira:
“O Saci”, de Monteiro Lobato
Monteiro Lobato é considerado o pai da literatura infantil e um dos escritores que mais disseminaram o folclore brasileiro. Neste livro de 1941, Pedrinho encontra o Saci e descobre diversos relatos que ele não conhecia sobre os personagens folclóricos. É lúdico, simples e divertido.
“Abecê do folclore”, de Rossini Tavares de Lima
Se você prefere algo mais acadêmico, essa obra apresenta os conceitos e as metodologias presentes nos estudos sobre o folclore. Além disso, destaca outros aspectos importantes ligados à música, à linguagem e à literatura folclórica brasileira.
“As 100 melhores lendas do folclore brasileiro”, de A. S. Franchini
O nome desse livro já diz tudo: é uma viagem pelas histórias mais envolventes do nosso vasto folclore brasileiro. Ele retoma personagens, lendas e curiosidades dos mitos presentes em nossa cultura.
Você também pode gostar
- Entenda a importância da mitologia grega
- Conheça o universo da mitologia japonesa
- O que podemos aprender com a independência do Brasil?
- Dia do Saci X Dia das Bruxas
- Folclore Brasileiro — Tudo o que você precisa saber sobre
“Folclore brasileiro: contos populares do Brasil”, de Silvio Romero
Por meio da união entre as influências europeias, indígenas e negras, o autor apresenta as principais histórias do folclore, mostrando os princípios do sincretismo e da mestiçagem entre as culturas. É uma obra para fazer refletir.
“Nas águas do Rio Negro”, de Dráuzio Varella
O médico mais querido do Brasil, Dráuzio Varella, mistura folclore e fantasia ao relatar um caso que aconteceu em uma viagem pelos rios da Amazônia. Ele teria dormido no convés do barco, olhando para o céu, e vivido grandes aventuras.
Aproveite essas dicas para conhecer ou relembrar as lendas do folclore brasileiro. Você certamente vai descobrir muitos ensinamentos escondidos por trás das histórias dos personagens que marcaram a nossa infância…