Iniciarei este artigo com uma frase do livro “Mulheres que correm com lobos”, que me encanta sempre quando leio ou releio.
“Destruir o vínculo instintivo da mulher com seu corpo natural subtrai-lhe a confiança. Faz com que ela insista em descobrir se é uma boa pessoa ou não, e baseia sua autoestima na sua aparência em vez de na sua essência.”
Em um mês onde os apelos comerciais e até sociais se voltam para as mulheres, parece que nos falta muito ainda em autoconfiança e aceitação. Evidentemente que em primeiro lugar, de nós para nós mesmas, pois quantas vezes nos perdemos em comparações estéticas com os modelos apresentados pela TV e pela mídia.
Este artigo é só uma reflexão do quanto perdemos o caminho que nos leva ao Sagrado feminino e que a primeira parada para regressar ao verdadeiro poder é voltar-se para o corpo – o nosso Sagrado Corpo Feminino.
Sagrado porque vem do latim “sacratu” refere-se a algo que merece veneração ou respeito por ter associação com uma Divindade, com a natureza ou a essência Divina. Nosso Corpo é a própria Natureza que é pródiga em diferenças, cores, nuances, formas e é rica em manifestações maravilhosas e diferenciadas. E então, se o Corpo é Sagrado, é natureza, é multiplicidade, encanto e beleza, como pode seguir um Modelo, uma única forma, um único jeito, como a beleza pode ser só de um tipo ou caracterizada por só um formato?
Em um mundo diverso, eclético e totalmente moderno, já passou da hora de nós mulheres sairmos das planilhas das Confecções e dos desfiles de beldades e sereias que representam apenas mais um protótipo físico e de beleza! Mas, o que dizer da ação maravilhosa de nossos DNAs a nos esculpir com orgulho corpos vivos, naturais e perfeitos, vindos de uma família biológica exclusiva e rica.
Clarisse Pínkola nos fala com propriedade sobre isso: “Se lhe ensinarem a detestar o próprio corpo, como poderá amar o corpo de sua mãe, que tem a mesma estrutura que o seu? – Ou o corpo da avó, ou das suas filhas também? Como poderá amar o corpo de outras mulheres e homens próximos que tiverem herdado o corpo dos mesmos antepassados? No fundo, a agressão ao corpo da mulher é uma agressão de longo alcance que atinge tanto os que vieram antes dela quanto aos que chegarão depois.”
Este círculo repetitivo pode caminhar por tanto tempo que as nossas netas ou bisnetas nem saibam mais como encontrar o caminho de volta. É claro que faz todo o sentido cuidar de seu corpo da melhor maneira possível, mas isso pode gerar uma fome sem fim e as mulheres do futuro podem abrigar dentro de si uma fome insaciável, não por ter um certo tamanho, altura ou estereótipo, mas uma fome mais profunda, por ser tratada com respeito, por ser aceita como é, ser vista sem preconceitos ou sem projeções desrespeitosas que os outros lançam sobre seu corpo, rosto ou idade.
Mas, ainda estamos em tempo de mudar a própria atitude com nós mesmas, resgatando a nossa natureza, não renunciando a alegria do corpo natural, não comprando a ilusão da sociedade de que a felicidade só é concedida para mulheres com uma certa idade, um certo jeito, uma certa postura ou apresentação.
Estamos em tempo de mudar a própria atitude com nós mesmas, resgatando a nossa natureza
O reencontro com o Sagrado Corpo pode não só nos salvar de nós mesmas, mas de tudo que queira nos prender, encaixar, embrulhar ou nos colocar em uma vitrine. Esta reaproximação poderá fazer com que façamos as pazes com as mulheres do nosso passado que foram também excluídas e abandonadas por serem como eram.
Quem sabe essa reconexão poderá nos devolver o amor-próprio, a aceitação e a autoestima que garantirão que as nossas filhas e netas sejam livres, poderosas e bem-sucedidas como Mulheres e como mães e que possam ensinar esses valores para as novas gerações de homens que admirem e respeitem o Sagrado Corpo Feminino e de mulheres que se sintam satisfeitas de serem representantes da própria Natureza.
Você também pode gostar:
Dia 08 de março está chegando, que mais do que palestras, bilhetes e frases de parabéns nas redes sociais, nós possamos de fato, IN-CORPORAR o Sagrado e trazê-lo como parte de nós mesmas para as nossas viagens futuras pelo mundo do trabalho, da família, dos relacionamentos amorosos e da sociedade em geral.