Eu nunca duvidei da brevidade da vida, porém jamais poderia imaginar que a vida me reservaria tantas surpresas como as que tenho vivido.
Entre momentos bons e não tão bons assim, eu vou seguindo no meio da multidão, deixando minhas pegadas e agradecendo minha intensa e humilde participação no show da vida.
“Gratidão”, palavra que vem acompanhando muito meus dias, e o bordão “Sigamos”, que sempre utilizo ao terminar meus escritos, mostram um pouquinho do que tenho vivido nesses tempos.
Quero compartilhar com vocês, queridos leitores, a riqueza do amor, da troca, dos detalhes de fazer a diferença entre tantos com este conto de hoje, para eternizar, por meio das palavras, um dos muitos instantes que eu nunca mais vou esquecer. Dia vinte oito de janeiro de janeiro de dois mil e vinte e dois, eu estava ali ao lado de pessoas queridas prestigiando o casamento de minha prima mais nova. Ao meu lado, você, que, não fosse pelo sapato número cinquenta, não estaria ali com seu sorriso incrível, suas lágrimas de emoção e seu choro de agradecimento pela vida e por esse momento, segurado minha mão num forte aperto.
Ao nosso redor, pessoas felizes, ansiosas e bem arrumadas esperavam o grande momento: a entrada da noiva.
Tudo impecavelmente planejado, desde o lugar, damas de honra, daminhas, madrinhas, padrinhos e um engraçado reverendo que selou e abençoou esse momento de união.
Mas vocês deve estar se perguntando: “O que o título do artigo tem a ver com esse conteúdo? Tantos nomes, por que esse?”.
Eu poderia inventar mil desculpas e simplesmente deixar uma explicação sem nexo, porém a verdade maior de todas é que procurar um sapato número cinquenta e presentear você com ele me ensinou que nunca devemos desistir daquilo que queremos. Depois de algumas barreiras, como o preço elevado, o tamanho exagerado ou mesmo a estranheza de buscar um item tão diferente para ser feliz por alguns instantes, me ocorreu escrever este conto.
Nada pagará seu sorriso, ao receber de minhas mãos uma caixa enorme com um sapato número cinquenta dentro.
Você se ajoelhou, olhou em meus olhos e disse: “Muito obrigada por isso!”. Para descontrair o clima de emoção, eu apenas sorri e respondi: “Sempre tem um sapato velho para um pé cansado!”.
E foi isso mesmo que eu observei nesse casamento. O quanto as pessoas buscam o amor, a troca, a felicidade de se realizar no outro. Eu não falo de um amor entre casais, falo do amor como forma sublime de existir. O neto no colo dos avós, o bisneto recém-nascido no carrinho, amigos, parentes e amigos de todos os escalões e o sentido do pertencimento a alguém.
Isso me fez perceber o quanto eu sou feliz, o quanto eu sou grata a vocês todos por terem me permitido viver mais essa experiência ao lado daqueles que eu amo, daqueles que eu conheço como família.
Nessa mesma noite, ainda tivemos uma surpresa que ninguém sabia ou esperava: mais ou menos na metade da festa do casamento do ano – quase do século, eu diria –, em que cada detalhe foi pensado e feito com tanto amor, fomos surpreendidos pela entrada de uma escola de samba, que nos fez cair literalmente no samba da vida. Depois de quase dois anos de isolamento social e da festa cancelada anteriormente por motivos de segurança, eu nunca vi tanta alegria, entrega e doação das pessoas.
Mas, para mim, o momento mais marcante foi o da bênção do reverendo sobre aquele jovem casal com a oração de São Francisco de Assis.
Usarei as palavras do engraçado reverendo para dizer que, independentemente da sua religião ou daquilo em que você acredita, Assis foi um ser humano simples e incrível. Ajudava seu pai no comércio, mas viver atrás de um balcão não era um trabalho que o atraia. O que o intrigava era a questão: “Como pode haver tanta injustiça, tanto luxo, ao lado de tanta pobreza?”.
Conta-se que, em 1206, orando na capela de São Damião, em Assis, Francisco ouviu de Deus as seguintes palavras: “Vá, Francisco, e restaure a Minha Casa!”. Imaginando tratar-se de reconstruir a Capela, voltou para casa, vendeu boa parte dos tecidos do pai e entregou-se ao serviço a Deus e aos miseráveis. Daí por diante, passou a viver somente para o “espírito”, e sua “lei” para aqueles que o queriam seguir era observar o Santo Evangelho, viver da obediência, da castidade e não possuir absolutamente nada e só dividir a pobreza.
E assim viveu Assis, cercado da simplicidade que tanto nos faz falta nos dias de hoje, auxiliando os irmãos que atravessavam seu caminho da maneira mais nobre que se pode: com o amor e a caridade.
E o que o sapato de número cinquenta tem a ver com isso?
Bem, para ser sincera eu não sei exatamente, sei apenas que se abnegar para ver o outro feliz é o que tenho tentado fazer, a exemplo de Assis e tantos outros que me inspiram a ser um ser humano melhor.
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Para finalizar, dedico este artigo aos noivos. Suas iniciais C&G podem indicar tantas coisas, mas, no momento, eu só penso em “Carinho” e “Grandeza” para dividir conosco esse sonho e nos proporcionar um momento tão feliz.
Acabo com esta linda prece de São Francisco de Assis, para que cada palavra aqui contida invada seu coração, faça morada na sua alma e deixe você em paz e agradecida, como estou agora…
“Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
Consolar que ser consolado;
Compreender que ser compreendido;
Amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna!”
Com fé em Deus e pé na tábua, sigamos!