Convivendo

O sentido da pedra

Uma mulher de braços erguidos.
Viktor_Kitaykin de Getty Images Signature / Canva
Escrito por Nina Veiga

Venho investigando a vontade. O que nos faz ter vontade? Como a vontade surge em nós? São algumas das perguntas que me movem ultimamente. Tenho lido artigos e livros, assistido a filmes nos quais a vontade é questão. Porém o enigma continua. Ainda não consegui perceber o que distingue a vontade do propósito. O que a fundamenta, qual é a pedra fundamental do nosso desejo e sua força motriz.

Rudolf Steiner, em sua “Filosofia da Liberdade”, diz que “para a compreensão dos atos da vontade, temos de levar em consideração dois fatores: o motivo e a força motriz. O motivo é um fator conceitual ou figurativo, a força motriz é o fator da vontade localizado na organização humana. O fator conceitual ou o motivo é a causa determinante momentânea do agir; a força motriz, a causa determinante permanente no indivíduo” (STEINER, GA 4, p. 106).

Ao investigar a pedra fundamental da vontade, deve-se considerar o motivo, o propósito, já que, ainda segundo Steiner, “metas individuais impulsionam a vontade”. Diz ele, na página 114: “Quero fazer o que está em mim”. Pergunto-me: O quê? O que desejo? Qual é a minha pedra fundamental? Aquilo que verdadeiramente impulsiona minha vontade, minha força motriz?

Um homem escalando uma montanha.
Martin de Pexels

Um filósofo brasileiro contemporâneo afirma em palestra transcrita que: “À medida em que nós perdemos a capacidade de acontecer, nós não sabemos mais qual é a fonte ou o motor do nosso desejo, nós não sabemos qual é a fonte ou o motor do movimento do corpo, das velocidades, das lentidões, das modificações que atravessam o corpo, de um corpo intensivo, de um corpo afetivo, de um corpo que vive na ponta do espaço, digamos assim, que toca com sua pele física o próprio ser do sentir…” (FUGANTI, 2007).

Investigar os próprios motivos, entender o fundamento, buscar a pedra fundamental, o propósito é condição de saúde, de manutenção da vida viva. Pois se o corpo perde a sua fonte, seu motivo, seu propósito, perde a maneira própria de se autossustentar, de se autorregular, de modificar si mesmo.

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Localizar e fazer nossa pedra fundamental mover-se, por meio da intensidade da vontade e da direção da força motriz, é exercício cotidiano para a manutenção da nossa potência nesses tempos em que estamos à mercê de um estado de coisas que nos faz enfraquecer.

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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