As aves fascinam a humanidade desde tempos remotos, seja pelo canto, pela plumagem, pela capacidade de voar, de se organizar em bandos e comunidades, se proteger ou embelezar as mais variadas paisagens que nossos olhos podem contemplar. Em diferentes tamanhos, como o avestruz e o beija-flor, algumas podem voar, outras são exímias nadadoras e outras são terrestres e excelentes corredoras.
Neste artigo, você vai conhecer o pavão, uma das mais apreciadas aves terrestres, principalmente pela beleza da plumagem, usada como adorno em acessórios, vestuário e fantasias, entre outras aplicações. Exótica, essa ave pertence à família dos faisões, e há três espécies importantes: o pavão-azul ou indiano, originário do sul asiático; o pavão-verde ou javanês, proveniente do sudoeste da Ásia; e o pavão-do-congo, encontrado na África Central. Apenas os machos das espécies azul e verde têm a cauda com penas coloridas.
Apesar de estar adaptado ao cativeiro há milhares de anos, o pavão, quando está em seu habitat natural, é encontrado em florestas de planície, e à noite, dorme sobre as árvores. Os machos das espécies azul e verde podem medir de 90 a 130 centímetros; e as fêmeas são quase do mesmo tamanho – em ambas as espécies, elas se apresentam nas cores verde e marrom. A cauda do macho tem penas de cerca de 1,5 metro de comprimento, em cor verde metálica. Em cada uma há um ponto mais brilhante, semelhante a um olho. Tanto os machos quanto as fêmeas têm uma coroa de penas na cabeça.
O que mais chama a atenção é o fato de que o pavão exibe as penas da cauda, que ergue e abre em forma de leque, para atrair a fêmea ou para parecer maior diante de uma ameaça. De maneira similar, o corpo do pavão-do-congo é azul e verde, porém a cauda é pequena e arredondada. A pavoa (fêmea do pavão) tem tons verdes e acastanhados.
Um fato curioso é que o pavão-branco, bastante raro, é na verdade o pavão-azul parcialmente albino, diferenciando-se dos demais devido à ausência de melanina em sua quase totalidade. Essa condição torna-o sensível à luz solar e suscetível a predadores, caso ele esteja em seu habitat natural.
Embora as curiosidades acerca dos pavões sejam muitas, há o significado especial, místico e sagrado ao redor do mundo atribuído a eles. E é essa a abordagem principal deste artigo. Então aproveite alguns minutos do seu tempo na leitura do texto a seguir e saiba mais sobre o simbolismo do pavão!
Tudo sobre o pavão
O que o pavão representa?
Para o inconsciente coletivo, o pavão representa a beleza, a graciosidade, o amor, o poder pessoal, o orgulho, a autoestima, a leveza, a exuberância, a prosperidade e a realeza. Inclusive, quando se diz que alguém está pavoneando, a ideia é que a pessoa está se exibindo, mostrando ostentação, vaidade, soberba ou magnitude. As interpretações podem ser positivas ou negativas, contudo elas se referem à autoestima.
Além disso, mesmo essa ave sendo majestosa e bela, seus pés não têm o mesmo esplendor, sendo até desconexos com a beleza da plumagem, o que simboliza a dualidade que o ser humano experimenta ao longo de sua jornada: luz e sombra, belo e feio, e tantas outras oposições, deixando claro que na vida é essencial haver equilíbrio.
Ainda no sentido espiritual, esse arquétipo se refere à transformação, cura psíquica, paz interior, coragem para eliminar os medos e capacidade de regeneração, principalmente porque as penas do pavão caem todos os anos no inverno, e novas nascem na primavera. É o sentido do ressurgimento, da renovação, do êxito sobre a morte.
A cauda aberta de um pavão lembra o formato do sol nascente, da abóbada celestial e o “olho” de cada pena se assemelha às estrelas do Cosmos. Assim, o simbolismo do pavão é tão forte que muitas pessoas tatuam essa ave na pele, de um jeito real, estilizado ou reduzido a uma pena, para tê-la sempre consigo e lembrar de seu significado, principalmente a capacidade de transmutação.
Porém é o sentido espiritual atribuído ao pavão que perdura milênios, principalmente nas culturas orientais e com relação a grandes religiões. Considerado a ave das portas do paraíso, ele representa proteção, boa sorte, inteligência, sabedoria, compaixão, purificação, prosperidade e fertilidade.
O pavão para diferentes filosofias
A forma de pensar, os valores e as crenças de um povo são amplamente estudados por áreas do conhecimento humano, como Filosofia, Antropologia, Sociologia, entre outras. Todas buscam a compreensão da vida na face da Terra, tanto no momento presente como no passado, e também para identificar possibilidades futuras. Nesse sentido, os símbolos são instrumentos referenciais significativos, pois retratam a ideologia no decorrer das épocas. Assim, o pavão vem se mostrando em diferentes filosofias. Acompanhe!
Grécia Antiga
O pavão foi um símbolo na mitologia grega. Era um dos animais da deusa Hera (Juno, para os romanos), regente da união matrimonial. Conta-se que seu marido, Zeus, que não era muito fiel, foi se encontrar com uma ninfa de nome Lo. Hera, entretanto, muito intuitiva, seguiu-o e, ao constatar o fato, transformou a ninfa em uma novilha. Ainda pediu a Zeus que lhe presenteasse com a jovem vaca. Para evitar desconfianças, ele atendeu o pedido. Assim, Hera pediu que Argos, seu fiel servo e um gigante com cem olhos, vigiasse a novilha o tempo todo. Mesmo dormindo com 50 olhos, ele a observava com a outra metade e a mantinha isolada. Contudo Zeus descobriu o fato e incumbiu Hermes de libertar Lo. Tocando uma melodia, Hermes fez Argos fechar todos os olhos e adormecer totalmente, e resgatou a jovem. Mas ele acabou matando Argos, enquanto este dormia. Quando Hera soube, ficou devastada com a perda de seu servo e, para eternizá-lo, ela coletou todos os cem olhos e os colocou na cauda de seu pavão sagrado. Embora com uma causa ligada ao ciúme, o símbolo denota a vigilância, a eternidade e a regeneração.
Cristianismo
Entre os cristãos, em função do padrão das penas da cauda do pavão, é atribuído o significado de onisciência (Deus, que tudo vê e tudo sabe). O leque formado pela cauda aberta representa o Universo.
Além disso, os “olhos” das penas também simbolizam as estrelas. Leque e olhos juntos representam a eternidade, a imortalidade e a totalidade, sendo a onipresença de Deus. Já a coroa (crista), semelhante a uma estrela de seis pontas, representa a majestade e o poder, ou seja a onipotência de Deus.
Budismo
No budismo, o pavão está relacionado com a evolução espiritual. Os “olhos” nas penas da ave simbolizam a vigilância; a cauda, quando está aberta, representa a acessibilidade para alcançar a pureza. O pavão é um símbolo de sabedoria e, em esculturas antigas de Buda, este aparece representado como a ave. Além disso, algumas lendas budistas relatam que ele foi um pavão de ouro em vidas passadas e que o Buda Amitabha (Buda da Luz Eterna) tem seu trono sob uma árvore, apoiado por oito pavões.
No budismo tibetano, a figura do pavão está presente em cerimônias religiosas, simbolizando o bodhisattva (aquele que transcende), que não se deixa atrair pelos venenos emocionais – como o ciúme, a inveja, a ira e a raiva – e tampouco se contaminar por aspectos impuros. Ele é capaz de conviver entre as pessoas para ajudá-las a conquistar a iluminação. Simboliza o bom agouro, a pureza e a purificação da alma. Já no budismo da China e do Japão, o pavão está associado à deusa da compaixão e da misericórdia Kannon Bosatsu ou Kuan Yin.
Hinduísmo
Embora o pavão se alimente de insetos, sementes, folhas, pétalas de flores e pequenos invertebrados, ele também pode consumir lagartos e cobras. Assim, o simbolismo do pavão no hinduísmo está relacionado com a imortalidade, pelo fato de a ave absorver o veneno e se manter viva. Além disso, ela ainda transforma algo negativo em positivo, o sofrimento em beleza, o mal em bem.
Ainda, o pavão é representado como a ave do deus Krishna, que usa uma das penas na cabeça, como domínio da vaidade pela iluminação e pela consciência. Da mesma forma, Saraswati – a deusa da música, da poesia, do conhecimento, da sabedoria e dos estudos – às vezes aparece montada num pavão. De modo similar, as penas do pavão representam as qualidades de paciência, prosperidade, bondade e boa sorte da deusa Lakshmi.
Além disso, na Índia, a ave é tão venerada que, nos jardins dos palácios, templos hindus e lugares sagrados, ela é cuidada e alimentada pelos sacerdotes. Desde 1963 ela é a ave-símbolo do país. Também está associada ao Trono do Pavão, um dos objetos mais importantes da história indiana. Todo cravejado de esmeraldas, diamantes, rubis, safiras e pérolas, o trono foi levado como troféu de guerra pelo rei persa Nadir Shah em 1739 e nunca mais encontrado.
Religião tradicional chinesa e sincretismos
Entre os taoístas, confucionistas e budistas da China, o pavão representa a manifestação da Fênix Celestial na Terra, um dos Doze Símbolos da Soberania. Os “olhos” em sua cauda atraem sorte e sucesso. Eles trazem energia positiva e possibilitam a admiração pública. Além disso, acredita-se que a grandiosidade do pavão pode reacender a chama de um relacionamento amoroso.
Na dinastia Ming, o simbolismo do pavão estava relacionado com o divino, a santidade, a ordem, o poder, a beleza e a proteção. Inclusive na China e no Vietnã, do século XIII ao século XVIII, a ave se tornou símbolo de abundância, prosperidade e fertilidade. Os chineses acreditavam que o olhar do pavão era até capaz de engravidar uma mulher.
Islamismo
No islamismo, o pavão é visto como aquele que recepciona as almas nos portões do paraíso. Ele é um símbolo da visão de Deus, pois é o animal de “cem olhos”. Além disso, no ramo esotérico do islamismo, conhecido como tradição sufi, o pavão de cauda aberta representa a imagem do Eu Superior vista refletida num espelho no momento em que se fez a Luz no Universo, simbolizando as virtudes espirituais emanadas pelo Olho do Coração.
Xamanismo
Para o xamanismo, o simbolismo do pavão está relacionado com a bondade, a magia e a generosidade, pois a ave tem uma sabedoria ascendente, sendo capaz de utilizar a energia para criar qualquer coisa que queira. Inclusive, o Clã do Pavão, no xamanismo ancestral, glorifica a ave e seu elemento regente, o fogo.
O pavão é um animal que pode ser evocado para a cura psíquica, no sentido de proporcionar atitudes de coragem e apaziguar os medos. Também se acredita que uma antiga ordem xamã, conhecida por Ordem do Pavão Branco, descende do planeta Vênus. Então essa ave é vista como um ser protetor, aquele que guarda o templo dessa ordem naquele planeta e grita para avisar quando alguém se aproxima.
Teosofia
Na teosofia, doutrina espiritualista relacionada com a tradição ocultista e as religiões orientais fundada por Helena Blavatsky (1831-1891) no século XIX, o pavão é um ícone iniciático e da inteligência de cem olhos. Simboliza a sabedoria e o conhecimento oculto. Os “olhos” das penas dessa ave estão associados à glândula pineal e representam as habilidades extrassensoriais, o sexto sentido, a intuição, a clarividência e a mediunidade.
O mito Sufi do pavão
O simbolismo do pavão também está presente no mito Sufi. De acordo com a história, havia um rapaz chamado Adi, que almejava adquirir mais conhecimento sobre o mundo, então um professor que ele tinha sugeriu que Adi fosse para o sul, correspondente ao Iraque, e aprendesse o significado do pavão e da cobra.
No país, Adi conheceu os dois animais e conversou com cada um deles. Ele queria saber quais eram as realizações do pavão e da cobra para entender o que os tornava tão importantes. Primeiro, o pavão disse que era o animal mais importante, porque simbolizava o ser, a aspiração, a beleza celestial e o conhecimento divino, oculto dos seres humanos.
Depois, a cobra afirmou que representava, também, tudo o que o pavão dissera, porém ela simbolizava todas essas características estando sobre a terra, lembrando o ser humano que ele faz parte desse local. Tentando parecer mais importante, o pavão disse que a cobra era dissimulada e perigosa, não podendo ser melhor do que ele.
A astúcia da cobra, no entanto, fez com que ela dissesse que o pavão também tem defeitos, como a vaidade e a ostentação, além de ser um animal esquisito. Em meio a essa discussão, Adi, que ouvia tudo atentamente, declarou que não havia um animal mais importante entre os dois, e que tanto o pavão quanto a cobra traziam lições para a humanidade.
A lição trazida pela cobra é a de que, mesmo podendo se elevar, ela continua rastejando, assim como os humanos, de forma simbólica. O pavão, por outro lado, não consegue ascender, por ser muito vaidoso, como tantas pessoas, ou seja, ambos representam os potenciais que os seres humanos têm, mas que não conseguiram alcançar por algum motivo, logo carregam uma mensagem de sabedoria.
Simbolismo do pavão-branco
Como dissemos lá no início, o pavão-branco é raro, sendo uma ave albina. Mais frágil que os demais em relação à luz solar e aos predadores, em função da falta de pigmentação nas penas, ele simboliza a neutralidade, a pureza, a paz e a generosidade.
Considerado um símbolo da morte, da ressurreição e da longevidade da vida, principalmente associado a Jesus Cristo, ele significa elevação espiritual e ligação com o divino. Além disso, ele simboliza a realeza e a pureza do coração de Jesus Cristo. A cor representa também o Espírito Santo.
Como utilizar o simbolismo do pavão na vida diária?
Eventualmente todos precisamos transformar as energias densas em energias elevadas para conseguir serenidade e paz de espírito. Também, diante das dificuldades, precisamos reforçar a autoestima e fazer do sofrimento um aprendizado, encontrando beleza nessa experiência. Para tanto, podemos admirar uma figura de um pavão, seja num quadro, num livro, num fundo de tela do computador, numa roupa ou numa imagem no celular. Alguns minutos diários são suficientes para resgatar os arquétipos que ele representa e conseguir a energia que se deseja.
Energia do pavão no lar
Você já pensou em colocar a imagem de um pavão na sua casa? Pode ser em uma estátua, em um quadro, em uma almofada ou até nas cores de alguma parte da decoração. Uma simples representação dessa ave já vai atrair a boa energia que o pavão apresenta.
Essa energia é a de grandeza espiritual. O pavão é um símbolo da alma, da paz, da beleza, da prosperidade, do amor e da compaixão, fazendo com que as pessoas próximas dele evoluam perante as dificuldades da vida. Essa figura, representada no seu lar, pode estimular o afeto, o diálogo e a superação, além de trazer sorte.
Além disso, o pavão é um símbolo de coragem, porque ele não tem medo de expandir a própria cauda e brilhar para o mundo, mostrando quem ele realmente é. Ao mesmo tempo, a mudança das penas do pavão indica que nós precisamos renovar as nossas energias e deixar para trás aquilo que atrapalha as nossas evoluções.
Um pavão no seu lar, representado da maneira que você desejar, portanto, é um sinal muito positivo. Ele vai te ajudar a enxergar o lado bom da vida e de quem você é, te dando a luz de que você precisa para agir com autenticidade, para se relacionar bem com as outras e para manter a sua casa com ótimas vibrações.
A visão de preservação ao pavão
Há uma crença de que encontrar uma pena de pavão traz boa sorte, paz de espírito e serenidade. Porém nem indo ao jardim zoológico no inverno é possível encontrar uma pena dessa ave. Essa plumagem é extremamente cobiçada, assim como de algumas outras aves, como o faisão e a arara.
No Brasil, em função dos desfiles das escolas de samba no Carnaval, para a confecção de fantasias das musas e de destaques de carros alegóricos, muitas penas de pavão são usadas todos os anos, tornando o país um grande importador desse material, que vem de países como Índia, China e África do Sul. É importante destacar que as penas são arrancadas do animal, num processo bastante cruel e doloroso.
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O pavão também representa um verdadeiro paradoxo, pois, uma vez que seu simbolismo destaca bondade, misericórdia, transformação e elevação espiritual, sujeitar uma ave tão esplendorosa a tal prática parece mesmo uma incoerência. Além disso, a indústria já apresenta, para fins carnavalescos, materiais sintéticos, bastante parecidos com os naturais. E muitas escolas – as mais conscientes – já fazem essa substituição.
Então, para finalizar, aproveite o simbolismo do pavão e as lições de generosidade e de espiritualidade que ele ensina há milhares de anos e abra a sua mente, expanda a sua consciência e transforme-se num agente de mudanças de paradigmas. Faça o bem para si mesmo e para os demais, independentemente da espécie a que pertençam. Preserve a natureza, a beleza e a vida! Transcenda!