Quando pensamos na racionalidade como modo de compreender o mundo, afastando-se da emoção, estamos cometendo um equívoco do ponto de vista humano, visto que somos constituídos de razão e emoções. Freud e Nietzsche entenderam que se não há fuga, não há vida; pois fugir, no sentido de um mecanismo de defesa, é parte de quem somos. Na Grécia do século V a.C., ser racional era visto como a tentativa de viver bem em sociedade, ou seja, harmonia em prol do bem comum. Com o tempo, essa ideia foi se afastando e trazendo uma frieza que nunca existiu; ser racional não é ausência de emoção; mas, sim, saber agir com elas.
Em muitas pautas sociais, é difícil termos uma noção real do que acontece quando estamos vivendo a tentativa da transformação. O mundo contemporâneo acontece rápido, e isso gera o tal “mal-estar” que autores como Freud, Baumam e Ehrenberg falavam, e é na concepção de cada um deles que iremos mergulhar.
Freud escreve o clássico “O mal-estar na civilização” em 1929, concluindo que grande parte de nossa infelicidade estava na repressão dos desejos causados pelos contratos sociais da época.
O que seria esse contrato social? Justamente na adequação para pertencer a um grupo, sempre será preciso abdicar de algo; logo, para Freud, era necessária essa repressão para que pudéssemos conviver e ser civilizados, pois sem regras e limites, não existe convivência. Sendo assim, para o psicanalista austríaco, viver civilizado nos distancia da felicidade. Desse modo, vivemos em uma sociedade infeliz.
Bauman, sociólogo e escritor polonês, ao ler Freud, teve outra percepção do que seriam esses sintomas. Por isso, em 1997, lançou sua obra “ O mal-estar na pós-modernidade”, fazendo uma crítica à falsa liberdade da época, o tal do “é proibido proibir”, o qual traz a ilusão de que as pessoas podem ser o que quiserem a qualquer momento, o que gera uma pressão por produção de massa, e como obviamente não funciona assim, gera frustração. Desse modo, essa liberdade mascarada leva as pessoas à escravidão por um desejo de filtragem, o que de fato faz sentido.
Um exemplo disso foi o que vimos durante a pandemia: slogans de cursos online dizendo que a hora era aquela e quem não fizesse três cursos ao mesmo tempo estava desperdiçando uma oportunidade.
Já se sentiu cansado de ser você mesmo?
É exatamente esse sentimento que o francês Alan Ehrenberg propõe em “A sociedade do mal-estar”, obra lançada em 2010.
Ele descreve o mal-estar atual como um tipo de sobrecarga por excesso de comparação, a sensação de nunca estar à altura do outro; e ser crítico demais cansa, pois carrega a responsabilidade de ter opinião e verbalizá-la.
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Quem crítica sem discernimento perde a raiz da crítica e se rende ao sistema da mesma forma. Um clássico exemplo disso é daquele que tem repulsa pela vida do funcionário comum alegando que ele não é livre e se torna empreendedor tendo que trabalhar 12 horas por dia, nunca podendo estar doente, pois, assim, perde dinheiro. Isso é ser livre?