Comportamento Convivendo

O tempo e o isolamento social

Mulher sentada em uma cama, com a luz de um abajur aceso ao seu lado, enquanto digita em um celular.
123rf/TORWAI Suebsri

O mundo atual exige de nós muita energia e produtividade, precisamos sempre estar em movimento. Temos que ter uma vida saudável, boa alimentação, fazer exercícios físicos, estudar e sempre aprender algo novo, pois a concorrência é grande e o mercado busca os profissionais bem mais qualificados. Para muitos, o dia ter 24 horas não é o bastante, pois boa parte da energia investida em seu tempo é destinada ao trabalho, gerando horas de trabalho excessivo, ocasionando stress, cansaço físico e mental. Após isso, muitas vezes ainda é preciso deslocar-se para os estudos ou cuidados com a família, essa é a realidade de milhares de brasileiros.

Mulher deitada sobre livros em uma mesa, dormindo.
Pexels/Andrea Piacquadio

A maioria das pessoas mora distante de seu trabalho. Em média, são perdidas de três a quatro horas no mínimo por dia durante o percurso entre ida e vinda ao trabalho. Além disso algumas pessoas têm a necessidade de estudar e trabalhar, levando mais tempo ainda para chegar em casa ao final do dia, porém ao chegar em casa nem sempre é o final do dia ainda, muitos precisam preparar o jantar, a refeição para o dia seguinte, revisar alguma matéria dos estudos ou até mesmo estender as atividades do trabalho.

E aí você deve afirmar: mas tem o final de semana para descansar!

Para poucos, aliás para bem poucos. Há os que trabalham aos finais de semana, os que estudam e os que além de fazerem tudo isso ainda têm os afazeres domésticos, ou seja, não há tempo disponível para o lazer, para os cuidados com a saúde e até mesmo para ficar sozinho.

Vivemos de forma mecânica, fazemos tudo no automático, priorizamos aquilo que julgamos importante e nos distanciamos do que também é importante, e muitas vezes não conseguimos enxergar, porque a prioridade é sobreviver.

E agora, em tempo de isolamento social, deveríamos ter mais tempo para executar nossas atividades, certo? Não.

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Quem pode ficar em isolamento? Alguns têm a possibilidade de trabalhar em casa, sua atividade permite isso, e ainda assim têm dupla ou até mesmo tripla jornada, trabalhando mais horas, cuidando das crianças e das tarefas domésticas. Já para outros, em sua maioria, não é possível trabalhar em home office, muitos perderam seu emprego, seus sonhos, seus projetos e seu próprio tempo também; o que era destinado a alguma atividade pessoal, a algum objetivo, pode ter se tornado uma grande preocupação.

Mas o que de fato estamos fazendo com o nosso tempo neste momento? Há dois meses, não tínhamos tempo para nada e hoje parece que há tempo de sobra e este deve ser preenchido com atividades físicas, aprimoramento profissional, lives de shows etc.

Mulher sentada em sofá, com notebook no colo, rindo enquanto digita.
Pexels/Andrea Piacquadio

Este é um momento de reflexão sobre tudo o que está acontecendo e sobre o próprio tempo também. Não fazer nada também é permitido e não há mal nenhum nisso, muitas vezes nos cobramos demais, porque as pessoas nos cobram sobre aquilo que não deveriam cobrar.

Use o tempo a seu favor, para você mesmo, pense nas possibilidades do que pode ser feito agora, para que e para quem. Tenha um tempo para pensar, para descansar, para ajudar, para se nutrir de boas ideias e boas notícias. Não desperdice seu tempo com algo em que não acredita. O tempo passa, e muitas vezes tão depressa, que só nos damos conta depois que ele passou.

Sobre o autor

Beatriz de Andrade Silva

Psicóloga Clínica, orientada pela psicanálise freudiana, Mestranda em Psicologia Social (PUC-SP), especialista em diversidade nas organizações (PUC-SP), pós-graduada em direitos humanos, responsabilidade social e cidadania global (PUC-RS), pós-graduada em psicologia e desenvolvimento infantil, mentora de carreira (FGV) e pesquisadora das relações étnico-raciais. Atuei por oito anos no mercado financeiro, na área de gestão de pessoas, com foco em talent acquisition, treinamento & desenvolvimento. Na área social, sou voluntária em um coletivo que busca colocar a diversidade e inclusão em pauta e ação.
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