O tempo é sempre incerto. Essa é a dificuldade primordial da mente. A mente quer certezas e o tempo é sempre incerto. Então quando a mente encontra um pequeno espaço de certeza ela se acomoda. Um casamento aqui, um concurso público ali, e aparentemente tudo está seguro. Isso parece bom, porque a mente sempre teme mudanças e por uma simples razão: quem sabe o que ela trará, o bom ou o ruim? Uma coisa é certa, a mudança perturbará seu mundo de ilusões, expectativas e sonhos.
A mente é como uma criança brincando na área da praia, construindo um castelo de areia. Por um momento parece que o castelo está pronto, mas ele é feito de areia, uma simples brisa e lá se foi seu castelo em pedaços. Mas começamos a viver nesse castelo dos sonhos. Começamos a sentir que encontramos algo que vai permanecer conosco. Mas o tempo segue continuamente tirando sarro de nossas certezas, parece implacável.
Assim, toda vez que o tempo derruba nossas maravilhosas ilusões, parece que ele extrai o que há de pior da vida das pessoas, mas na realidade ele traz à tona o que estava oculto por trás da falsa permanência de um sonho que você aceitou como sendo real.
O tempo arranca as máscaras. Ele expõe, obriga você a encarar a si mesmo, o que quer que você estivesse reprimindo, começa a aparecer. Naturalmente parece que é o pior, mas isso ocorre porque as pessoas escondem o que há de pior. É, isso dói, eu sei. Continuamente estamos tentando tornar as coisas permanentes, e é claro, vamos ser derrotados. Por manter essa ilusão, ficamos frustrados, zangados com a própria vida, perdemos a confiança e parece que tudo está conspirando contra nós. Parece que a vida não é justa, que tirou o brinquedo de nossas mãos. Mas não sejamos precipitados nas conclusões. Deve-se esperar um pouco mais para julgar. Talvez seja sempre para o seu bem.
As coisas estarão sempre mudando. Se essa lembrança penetrar bem fundo em seu ser, então você nunca ficará desapontado. Aceitação e paciência são as palavras chaves.
Finalizo com uma historia sufi bem conhecida.
Havia um mestre sufi já velho e pobre, mas ele tinha um lindo cavalo. Os burgueses ofereciam muito dinheiro pelo cavalo, mas o mestre dizia que jamais o venderia.
Numa manhã o cavalo tinha sumido. Seu amigo disse: Sempre tive o receio de que o cavalo seria roubado! Teria sido melhor vendê-lo, que fatalidade. O mestre disse: Não sei se é bom ou ruim, o tempo dirá.
O amigo riu do mestre, sempre soube que ele era um pouco louco. Mas alguns dias se passaram e, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta e não apenas isso, ele trouxe uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, o amigo disse: Você estava certo, é uma benção!
O mestre disse: Você está se adiantando mais uma vez. Apenas diga que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma benção ou não?
Desta vez o amigo não podia dizer muito, mas interiormente sabia que ele estava errado, afinal, agora eram doze lindos cavalos.
O único filho do mestre começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. O amigo mais uma vez julgou e disse: Você tinha razão novamente! Foi uma desgraça esses cavalos. Seu único filho fraturou as pernas e na velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.
O mestre disse: Não se adiante tanto! Diga apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos meu amigo.
Você também pode gostar:
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra repentina e todos os jovens do local foram forçados a se alistarem. Somente o filho do mestre foi deixado para trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentado-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. O amigo veio até o velho mestre e disse: Você tinha razão, o que aconteceu com seu filho foi uma benção!
É, o tempo é sempre incerto!