Que criança nunca teve ansiedade de crescer, tornar-se adulta e ficar independente para “fazer o que quiser”? De fato, é muito sedutora, por exemplo, a ideia de aprender a dirigir, algo que perde toda a preciosidade quando você se depara com os custos para manter um carro e também o trânsito caótico de uma cidade grande. Ao externar essa vontade do tempo passar rápido e tornar-se adulto, muitas vezes a criança ouve de um adulto uma informação profética: “tenha paciência que pode demorar até você chegar aos 18 anos, mas a partir daí o tempo vai voar”. Finalmente, o aniversário de 18 anos chega e, num piscar de olhos, a casa dos 30 já está chegando.
A sensação de que o tempo começa a correr mais rápido quando ficamos mais velho existe em quase todos nós. A infância e a adolescência são marcadas por períodos em que são repletos de descobertas, portanto a falta de eventos memoráveis na fase adulta pode ajudar nessa percepção. Claro que isso é muito relativo. Por exemplo, é uma tortura inacabada ficar no trânsito em horário de pico. Nesse tipo de situação, parece que o tempo é uma eternidade. Como explicou bem o humorista Jô Soares: o tempo de cinco minutos é relativo se você está do lado de dentro ou de fora da porta do banheiro. Metaforicamente falando, a infância e a adolescência é a pessoa que está apertada e esperando a porta do banheiro abrir em cinco minutos. Já o adulto é o que está dentro do banheiro, fazendo palavra cruzada e quando vai ver passou quase meia hora lá dentro, sem que ao menos tenha se dado conta.
As pressões existentes, que estão chegando cada vez mais precoce aos indivíduos, também ajudam nessa percepção. O fato de tudo ser urgente e a intensa rotina nos faz pensar que o tempo correu mais rápido. Quantas vezes já não ouvimos alguém falar que teve um dia tão corrido que “nem viu a hora passar”? Esses dias atribulados ficam cada vez mais e mais comuns para todo mundo.
Sem falar na matemática, por mais óbvio que possa parecer. Um ano representa 1/10 na vida de uma criança de 10 anos, já na vida de um adulto com três décadas nas costas representa três vezes menos.
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Na mitologia grega, o tempo é representado por dois deuses: Chronos e Kairós. Enquanto Chronos representa o tempo linear, cronológico e quantitativo, o seu filho, Kairós, significava um tempo oportuno e qualitativo. Ou seja, existem duas formas de se medir o tempo: através do relógio e também das situações/sensações. Uma coisa boa ou ruim pode levar algum tempo para acontecer, porém fatos maravilhosos ou catastróficos podem se materializar de repente. Assim como Chronos e Kairós, a sensação de tempo varia para cada um de nós. Se existem duas palavras que podem nos alegrar e entristecer, dependendo da ocasião, é que “tudo passa”. O tempo vai curar aquilo que nos machuca, mas é preciso ter a plena noção que o tempo vai levar aquilo que nos faz bem também.
- Texto escrito por Diego Rennan da Equipe Eu Sem Fronteiras.