Da janela de suas casas, no centro histórico de Manaus, duas amigas conversavam sobre o verdadeiro sentido do Natal. — Para mim, o Natal é a festa mais linda que existe — disse uma delas. — Eu também acho, amiga — respondeu a outra. — O período natalino aproxima as pessoas, deixa o ambiente mais alegre, festivo e colorido. — Verdade, amiga! — Eu adoro este período do ano. — Eu também! — Nada é mais lindo do que as luzes de Natal. — Elas são lindas! — O mundo inteiro se ilumina com as luzes natalinas. — O mundo inteiro, não, só o mundo cristão, amiga!
Houve uma pausa no diálogo entre as duas amigas, um breve silêncio, e, em seguida, uma delas perguntou: — Como assim, só o mundo cristão? — Acontece que tem muita gente e muitos países no mundo que não são cristãos, amiga. — Entendi. — Tem os judeus, os muçulmanos, os xiitas, os budistas… — Desculpa aí. — Relaxa! — Fui mal à beça! — Nada disso, a sua resposta foi natural, espontânea, sem maldade. — Obrigada pela compreensão. — Imagina. — Somos amigas. — Verdade. — Mas eu preciso lhe dizer uma coisa. — Diga. — A pessoa que é crente sempre tende a achar que a sua religião é melhor que a do outro. — Entendi. — Por isso eu não tenho nenhuma religião, sou ateia. — Há tanto tempo somos amigas e eu não sabia. — Pois é. Eu não acredito que exista um ser superior capaz de nos governar, de cuidar do nosso destino…
A outra amiga balançou a cabeça, incrédula. — Sabe, amiga, parece que no Natal as pessoas são tocadas pela bondade. — Nesse ponto eu concordo contigo! — As pessoas passam a fazer o bem, são mais solidárias, carinhosas, afetivas… — Mas eu tenho uma preocupação — contou. — Qual é? — Por que as pessoas não são assim, bondosas e solidárias o ano todo?
Novamente houve uma pausa no diálogo entre as duas amigas, um silêncio total, até ser quebrado pelo padre que passava pela rua, em cima de um carro de som, convidando os moradores para a missa na Catedral.
— Vamos, vamos para a Casa do Pai. Tem coisa melhor do que começar o dia louvando o Deus da Vida, o Nosso Senhor Jesus Cristo? — indagava o padre.
Cúmplices, as duas amigas trocaram olhares e uma delas disse em forma de poesia: — “A cidade toda colorida, cheia de pisca-pisca, um homem com fantasia, me deu até uma nostalgia”.
O padre, ouvindo aquela declamação, respondeu, também, em forma de poesia: — “Conheço bem este clima, todas as famílias reunidas, usando somente uma cor, que representa o amor”.
Os fiéis, dos mais variados credos, que seguiam atrás do carro de som em procissão, começaram a cantar:
— “Andá com fé eu vou Que a fé não costuma faiá… Que a fé tá na mulher A fé tá na cobra-coral Oh! Oh! Num pedaço de pão… A fé tá na maré Na lâmina de um punhal Oh! Oh! Na luz, na escuridão…” (Gilberto Gil).
Depois que a procissão passou e um silêncio se fez ouvir, uma das amigas, aquela que não era cristã, disse: — Tá aí o verdadeiro sentido do Natal. — Qual é, amiga? — Respeito à fé do outro, alegria, união, solidariedade e paz — respondeu.
Então, uma alegria prazerosa tomou conta da amiga cristã. — Obrigada, amiga, por pensar assim. É exatamente isso que eu penso sobre o Natal — disse. “Estas palavras são, para mim, que a fé é um mistério, que você não precisa ser crente para acreditar em Deus. Deus está acima de qualquer dogma, de qualquer religião”, pensou a amiga ateia.
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Ao mesmo tempo, parecendo irmãs siamesas, os olhos das amigas, doces, e mansos, encheram-se de lágrimas. E uma delas recitou Nietzsche: “Não acredito em um deus que não dance”. E puseram-se a dançar, cada uma na sala de suas casas. — “Viva o Natal”. “Viva a amizade”. “Viva a vida”. “Viva a fraternidade universal” — diziam.