Os olhares, hoje sei, sentem sede. São muitas vezes indigestos, flagelados e grosseiros. Sofrem amálgamas das rotinas, transformam a poeira em melodia e ainda fazem dos sentidos uma proposição para não se parar de arriscar. Sentimos na pele as sensações postas para amar, sentenciando as certezas como estupidezes de uma chacina de jovens anciãos. Não fazemos parte, amanhecemos como que em um massacre, enunciando como primeira frase a necessidade de aceitação.
Trocamos virtudes, corrompemos laços. Somos desiguais e julgamos os fracos. Nossa redenção pressupõe a ancoragem das indigestões alheias, como se precisássemos provar o porquê de cada pergunta mal feita. Não é pelo desgaste que desistimos de certas desilusões, mas pela entrada na rotina cuja frequência renuncia as próprias predileções. Intrigados e enfeitiçados, cantamos, alijados, as correspondências prósperas e etéreas. No mapa prorrogado das ondulações postas em linearidade, induzimos as frequências e ditamos, falseados, as verdadeiras quimeras.
Sabemos das profanações de espírito que corroem os ossos de quem não se liquida por querer, mas a verdade é que a luta interna, dobrada e escondida em uma cela, torna apta a falta de costume sobre, de vez em quando, se desfazer. Sem lugar para as mutações, promulgando no ócio as punições por desanimar, desbaratinamos em trabalho, colocamos as prioridades de vida no assoalho, e voltamos aos horários que justificam o nunca descansar.
Sem perguntas e com respostas, desenhamos as razões que dispensam dúvidas. Angariando os postos fúnebres, alimentamos a alma com a sombra do que não permite que ela permaneça nua. Assim, pelas vilas e ruelas de cicatrizes abertas, alimentamos a dor como prerrogativa da espera. Exaustos do caminho, mas aparentemente ainda mais pela mudança. Sabemos os males, identificamos os desencaixes e continuamos transbordando nas lotações viciadas. Com capuzes e sem distinção, segmentamos as vistas pelo poder das lutas mascaradas.
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Enganamo-nos, pois, ao gritar honestidade às mentiras de espírito. Somos de alma podre quando amanhecemos sorrateiros, como quem promete segurança em meio ao próprio limbo. As dosagens incertas de uma rotina sem porquês, dando ao nada a vista liberta de qualquer coisa que afaste essa pressa de morrer. Dos sentidos enaltecidos, os mais recôncavos para louvar. Temos habilidade em desimportâncias, dando valor ao que já não se pode mais abraçar.