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Onde está o Sol?

Mulher andando em campo com chapéu
123RF | Epicstockmedia
Escrito por Andrea Ralize

Dentro dos olhos há um rio. Manso na maioria das vezes, corre solto e calmo, levando as suas águas pra bem perto da alma, onde recebe abrigo e se multiplica.

O rio permanece assim, deslumbrante, levando umidade para os desejos, fazendo brilhar a preciosidade da vida interna do ser.

Mas ele às vezes é pego de surpresa e se torna ondas pesadas e escuras. Isso acontece quando o vento dos sentimentos se revolta e se perde no meio das cavernas das emoções, na escuridão do medo e na intensidade dos desejos.

Mulher vista de perto com lágrimas escorrendo do rosto de olhos fechados
Karolina Grabowska / Pexels

Nessas situações, o rio transborda e sai em forma de lágrimas pelos olhos e se vê não mais represado. O impulso para se libertar é tamanho que ele consegue mexer com a estrutura corporal, a respiração se perde, o coração se descompassa, os olhos incham e as mãos tremem. O rio se transforma num mar infinito, no qual a dor se mistura nas águas e as transforma em neblina gelada… Assim a visão se turva, não se enxerga mais nada pela frente… A visão se volta para dentro e aí acontece a tempestade, o tsunami, o desespero e a vontade de fugir de si mesmo.

Mas não há rota de fuga. O caminho do rio-mar é um só: a alma. E a alma está alagada. Tudo foi preenchido pelas águas sujas da tempestade, as enxurradas descem com força, levando tudo sem aviso prévio. Leva certezas, leva promessas, leva lembranças, leva a calmaria, leva a memória, leva a emoção, leva o prazer que impulsiona a vida…

São horas de muita dor. A dor da violenta onda do rio-mar que resolveu chegar numa manhã de domingo.

O mistério de todo esse temporal é que não é visto por fora… só por dentro.

Onde está o Sol? Onde está o Sol pra ajudar a secar isso tudo que se abateu aqui dentro?

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Estou sentada na ponta de uma pedra… Esconderijo temporário… Tentativa de me manter lúcida até o Sol chegar. Ele vai chegar com cor de chocolate… Vai chegar um dia… Preciso me manter firme aqui para não ser pega de surpresa e sucumbir à força do rio-mar. Por isso eu choro… por isso eu deixo esvaziar gota a gota até secar essa dor… não há resgate externo, pois ninguém se importa. Na verdade, ninguém existe além do rio-mar e do abismo… e do Sol, que insiste em se atrasar…

por isso, eu abro as comportas e deixo esvaziar, esvaziar, esvaziar… até o vazio tomar conta… até o silêncio se fazer presente e o som do rio manso enfim voltar…

Sobre o autor

Andrea Ralize

Escorpiana, professora de filosofia, revisora de textos, mãe de três seres de luz, praticante de yoga, estudante de Vedanta e, nas horas vagas, escritora de fragmentos da vida.

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