A chave correu suavemente pela fechadura, como se uma gota de óleo tivesse acabado de ser depositada naquele local.
Não ouvi o ruído habitual do portão envelhecido, tudo estava sereno e, apesar da neblina do início da manhã, o sol timidamente se anunciava.
Uma mulher passou apressada por mim com passinhos curtos, e um nervoso “toc toc toc” do salto estalava no asfalto contrastando com meu andar suave, como se a rua estivesse forrada com montinhos de algodão.
Acostumada com o rumor matutino, essas sensações logo me chamaram a atenção. Tive que correr um pouquinho para não perder o ônibus, mas ainda tinha lugar vago.
Interrompi a leitura durante o percurso: alguém cantarolava uma música desconhecida, mas tão melodiosa e agradável que revelou em mim aquele sorriso discreto que fica guardado no canto da boca esperando a oportunidade de se manifestar.
Sensações como esta estão fora de nosso controle. Tomam-nos pela mão, invadem nossa alma, instalam-se em nossos olhos como uma lente transformadora. De repente enxergamos as andorinhas voando de um prédio para outro nessa selva de pedra, uma mangueira com manga (!) no canteiro da Av. Nove de Julho e suspiramos… Longamente.
É um estado de espírito e o estranhamos, porque na correria cotidiana passa despercebido, tanto que desaprendemos como se chama. Apenas temos gratidão por senti-lo e saber que ele existe, mas não estamos certos de qual é o seu nome.
O deste deve ser PAZ.
Cenas como essa se repetem diariamente, seja para quem está imerso na loucura das megalópoles, seja para quem está dentro de casa observando uma borboleta pousar no jardim da varanda da sala.
Mas a sequência da vida é tão frenética que nos ocupamos em atender ao telefone, mandar uma mensagem de texto, pagar as contas, preparar o jantar, olhar os filhos, atender ao chamado do porteiro, que quase não nos damos conta da sutileza das emoções positivas e prazerosas que nos acompanham nas pequenas coisas.
A diferença entre a existência de sensações de conforto ou de desconforto está, diferente do que parece, não no acontecimento delas, mas no nosso olhar.
Teremos sempre algum problema para resolver, uma questão a nos preocupar, alguma angústia para administrar. Isso faz parte da vida e é importante que faça, para que saibamos distinguir o claro do escuro.
Os sentimentos que procuramos e dos quais nos queixamos tanto por não encontrar residem dentro de nós.
Algumas vezes não será fácil encontrá-los, mas é importante não perder a consciência de onde eles podem ser encontrados e chamar por eles nos momentos de dificuldades.
É fundamental praticar pensamentos otimistas diante das adversidades, perseverar e, sobretudo, discernir dentro de nosso caos interior o que está ao nosso alcance para a mudança de cada situação que não nos agrade.
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Alguns momentos na vida vão nos trazer desafios imensos, mas a lembrança e o coração aberto para perceber os pequenos sinais diários de encorajamento devem ser cultivados para obtermos sucesso na busca do equilíbrio emocional.
Ao nos esforçarmos para isso encontraremos ferramentas para uma vida mais saudável e harmoniosa, e nosso olhar ficará treinado para perceber os pequenos eventos cotidianos que nos revelam onde moram os sentimentos que procuramos.