Nascer e morrer, muitas vezes, são eventos dolorosos, que nos causam profundas perturbações, mas vocês já se perguntaram o que nasce e o que morre? Não estaríamos demasiadamente identificados com o corpo e com a mente e, talvez por isso, esses eventos sejam tão sofridos?
“Tudo é dor”, como dizia nosso querido Renato Russo fazendo referência às nobres verdades budistas, mas eu discordo. Em primeiro lugar, Buda dizia que tudo é sofrimento e não dor e há uma diferença grande entre os dois. Sofrer é processar a dor, pois a dor é apenas uma informação e será qualificada por aquele que percebê-la. A dor é natural, quase sempre necessária, mas o sofrimento é opcional.
Considero que apenas aquilo que não é real é feito com a matéria-prima da dor. A dor surge a partir de uma identificação criada com a experiência, com a vida de um personagem e com o enredo de um filme com o qual nos envolvemos, portanto, é um fenômeno muito mais físico do que consciencial.
Quando o sujeito está no Supremo não existe sofrimento, mas para alcançar essa condição, será necessário desapegar-se de tudo aquilo que o prende à matéria. Só conhecimento poderá libertá-lo.
A vida é uma experiência que deveria ser vivida sem objetivo, apenas como uma experiência, no entanto, acreditamos que precisamos buscar algo, alcançar objetivos, conquistar ou desenvolver a consciência ou o espírito e esse é o grande equívoco, simplesmente por não percebermos que estamos sendo movidos pelos desejos. Enquanto houver desejos estaremos presos na Roda de Samsara, ou seja, enquanto existirem necessidades ilusórias, estaremos presos à constantes retornos na matéria e sujeitos aos imperativos da dor.
Não há nada para ser desenvolvido em nós, uma vez que a nossa Natureza já é perfeita. Não podemos afirmar que somos divinos apenas da boca para fora, é preciso criar novos modelos de pensamento a partir desse axioma.
Não há o que buscar ou conquistar também, pois sendo divinos já temos tudo, todo o Universo é nosso. Todo o Universo é criação nossa! Se acreditarmos que somos a criatura e não o criador viveremos eternamente tentando realizar o objeto e não o sujeito. O objeto nasce e morre, o sujeito é eterno, apenas observa. Podemos não ter consciência ainda disto, mas somos a própria instância criadora. A única coisa que se desenvolve de forma gradativa na gente é a nossa noção de realidade.
Em nosso estágio, confundimo-nos com os pensamentos, acreditamos que somos os pensamentos, mas o que são, de fato, esses pensamentos? Nada! Eles não têm vida própria, são apenas objetos nunca o Sujeito. Como podemos acreditar que o pensamento pode pensar? Quem está pensando o pensamento? É curioso isso, mas todos os fenômenos mentais são apenas efeitos e não a causa de nada.
Sofremos com a morte por acreditarmos que nascemos e somos esse corpo de carne e essa mente carregada de desejos, totalmente insaciável. Na verdade, o que nasce e morre não é Real, o Real é eterno, imutável, incontaminável, indestrutível, perfeito e esses atributos não existem nem no corpo nem na mente, mas apenas na Consciência Pura.
O que fazer, então? Simplesmente nada! Enquanto houver a necessidade de fazer algo, você continuará preso, escravo em um plano mental e identificado com o corpo. Jesus precisou ficar sem fazer nada no deserto, renunciando a todas as oferendas do demônio, que não eram nada mais do que a sua própria mente resistindo àquele processo de libertação. Buda precisou não fazer nada, sentado embaixo de um árvore por longos seis anos, sofrendo todas as investidas de Mara, o demônio, que não era ninguém menos do que seu próprio ego tentando dissuadí-lo. Ramana Maharshi precisou ficar em silêncio por treze anos para iluminar-se e todos aqueles que se libertaram e conseguiram acordar, trabalharam no desenvolvimento de uma noção de realidade mais profunda para entenderem que não eram nem corpo nem mente.
A natureza humana é feita de amor e não de dor; é feita de paz e não de aflição; é feita de luz e não de trevas; tudo aquilo que nos faz sofrer apenas sinaliza o quão distante estamos da realidade e o quanto, ainda, nos desconhecemos.
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A coragem, a confiança, a alegria, a perseverança, a serenidade, a renúncia e a humildade, são apenas alguns atributos do verdadeiro Ser, fazem parte da nossa essência. Se você não consegue expressar essas virtudes significa que não está em poder de si mesmo. Todo e qualquer esforço humano, só poderá ser legítimo, se tiver como objetivo o reencontro com a própria essência.
Parece estranho afirmar isso, mas você não é aquele sofre.