Convivendo

Os Doze Sentidos na Antroposofia (parte 2)

Mulheres brancas sentadas com as mãos na boca, olhos e orelhas.
vadymvdrobot / 123rf
Escrito por Dulcineia Santos

Continuamos falando sobre os doze sentidos de acordo com a visão da Antroposofia, filosofia criada por Rudolf Steiner. Se não leu a parte 1, acesse o texto anterior.

Segundo o Dr. Norbert Glas, um órgão do sentido desgastado nos dá informações falsas sobre o mundo externo, o que tem um grande impacto sobre a nossa vida anímica (emoções), sobre como nos relacionamos com os outros e sobre o quanto nos sentimos com vitalidade ou velhos.

Sentido do calor

O sentido do calor tem implicância direta na vida anímica: o calor corporal estimula o calor da alma e do coração.

Quem mora fora já deve ter percebido que nos países mais quentes normalmente as pessoas são mais “calorosas”, e nos outros de temperatura mais baixa dizemos que as pessoas tendem a ser mais “frias”, ou seja, o “calor” externo tem um grande impacto na nossa personalidade.

Quando esse sentido está enfraquecido, pode levar à frieza dos sentimentos. Fisicamente, leva a doenças como reumatismo, dores nas costas, no pescoço, pneumonia etc.

Assim como o corpo não aquece tão facilmente na velhice, a alma também não se enleva ou se choca com facilidade.

Pode acontecer o contrário também; um exemplo são pessoas com temperamentos coléricos e/ou cujo acúmulo de vontade (querer, “will”, ação) intensa resultou num acúmulo de calor no corpo. Então, se na velhice houver poucas oportunidades para fazer uso dessa vontade, o calor é acumulado no corpo, principalmente na cabeça e no pescoço. Essas pessoas precisam sempre de um ar fresco na casa, dormir com a janela entreaberta etc.

O resultado anímico do excesso de calor é a irritação. A qualidade a ser desenvolvida para balancear isso é a paciência.

Nobert Glas diz que “se a alma for capaz de se tornar mais independente das pressões do corpo, resultará na retenção do calor moral.”

Sentido do Eu do outro

Esse é considerado o sentido mais elevado. É o que nos permite nos aproximar do Eu de outra pessoa.

Aqui, cabe lembrar que “encontros” exercitam pelo menos três sentidos: audição (não mecânica, ou seja, que não venha de um rádio, de um telefone), da palavra (comunicação) e o senso do eu do outro.

É imprescindível, por exemplo, estarmos com esse sentido apurado quando encontrarmos pessoas que serão decisivas no nosso destino.

Quando enfraquecido, esse sentido é um pouco como o intelectual, , só que ao invés de comprometermos a assimilação de ideias, fica comprometida a assimilação de “pessoas”.

Começamos a ficar muito críticos, por exemplo, julgando os outros baseando-nos apenas em como eles nos tratam, ao invés de ter um olhar mais amplo.

Considerando-se que conforme envelhecemos restringimos nosso círculo de amizade, perdemos contato com diversas pessoas, pode levar a um sentimento grande de dependência (ficar pegajoso) e de solidão.

Homem branco abraçando cachorro.
Eric Ward / Unsplash

Um exercício que pode ajudar é esquecer de si mesmo quando em contato com outros. Aceitar o outro como se apresenta diante de nós.

Agora, vamos aos sentidos mais conhecidos por nós, vistos sob o ponto de vista da Antroposofia:

Sentido do tato

É a habilidade de reconhecer o tipo de substância que se toca. O mundo existe porque pode ser tocado. Os objetos têm qualidades apenas em relação com o nosso corpo: quente, macio. A criança toca os objetos para, por meio deles, experienciar a si mesma.

Enfraquecido, esse sentido leva à perda de contato com o mundo exterior.

Um exercício que pode ajudar a treinar esse sentido é a prática de atividades manuais que pedem destreza, como tricô, croche, bordado, tocar um instrumento.

Sentido da audição

Permite que obtenhamos informações sobre o mundo externo, e é ligado ao sentido da palavra (speech). É um sentido muito ligado à vontade (querer, “will”) – quando ouvimos uma música, mexemos os pés; quando ouvimos barulho, tapamos os ouvidos.

Quando enfraquecido, perde-se a objetividade da percepção. Pode-se confundir uma percepção interna por uma externa (alucinações). Ainda, tentar “imaginar” o que está sendo falado leva à suspeição (“estão falando mal de mim”, “estão escondendo algo”) que, por sua vez, leva à agressividade.

O negar (tapar os ouvidos) também se mostra numa condição anímica de negação.

Exercício: Para aqueles que têm dificuldades auditivas, comunicar aos outros esse problema. Dessa forma, a pessoa eleva-se moralmente sobre a sua limitação física. Isso também diminui a agressividade (culpar o interlocutor por não falar direito etc).

É necessário ainda treinar o “ouvido ideal”, que é aquele que escuta sem colocar seus próprios pensamentos, sem argumentar – ouvir apenas para entender o outro.

Sentido da visão

Olho castanho.
Bacila Vlad / Unsplash

Para a Antroposofia é o órgão da satisfação, do contentamento e da paz.

É um sentido que, se enfraquecido, leva à alucinações, que por sua vez conduzem ao medo e à ansiedade (especialmente em pessoas idosas). Também favorece a timidez.

As forças da visão perdidas na idade avançada podem ser metamorfoseadas em gratidão – por “ver” o que foi conquistado, o que há de bom na vida, ao invés de focar nas limitações – aceitação e equanimidade, o que trará contentamento novamente.

Sentido do olfato

É aquele que nos conecta com o nosso ambiente. A alma é suscetível aos odores (lembranças, ou, por exemplo, o cheiro da lavanda usada como solução para os problemas do sono).

Quando enfraquecido, além de levar à perda da inspiração, esse sentido impede a aproximação da “essência” dos outros seres. Não é à toa que a compaixão está relacionada ao cheiro. Eu, por exemplo, tenho um amigo que relatou ter percebido que tinha se fechado para o sofrimento alheio quando percebeu que prendia a respiração quando passava perto de um morador de rua.

Sentido do paladar

É um sentido que quando enfraquecido faz com que a pessoa torne-se como uma criança (paladar infantil): comer só determinados alimentos; ficar irritado se a refeição é interrompida. Tal comportamento pode levar à avareza.

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O declínio do digerir, que começa pela boca, vai espelhar uma disposição anímica de digerir o ambiente, levando a sempre discutir e reclamar.

Pode ser metamorfoseado para qualidades de tato e cortesia no lidar com os outros seres humanos.

Quanto mais nos sentirmos livres das pressões da limitação do corpo, menos sentiremos os efeitos dos problemas que vêm com a idade. Que possamos cada vez mais usar nossa sabedoria e discernimento da melhor forma na melhor idade, para uma vida plena de bem-estar.

Sobre o autor

Dulcineia Santos

Dulcinéia Santos é consultora de desenvolvimento para a maturidade, praticante certificada da ferramenta MBTI® de tipos psicológicos e coach. É também autora do livro “A Namorada do Dom”, em que conta as lições que aprendeu nos relacionamentos e na sua jornada até a Suíça.

Acredita que a vida é cheia de lições e que se não as aprendemos não passamos pro próximo nível do jogo. Saiu de casa cedo e foi morar no mundo – agora está na Suíça, onde estudou antroposofia por três anos. Gosta de tomar cerveja no boteco enquanto papeia, de aconselhar, da língua portuguesa, de cozinhar, de ficar só e de flexibilidade de horários. É esotérica, mas acha que estamos encarnados para viver as experiências terrenas com o pé no chão – de preferência dançando.

Formações:

Bacharel em línguas aplicadas

Brain Based Coaching Certification
NeuroLeadership Group – Londres

MBTI® – Myers-Briggs Type Indicator – Step I and Step II
Myers-Briggs Foundation – Florida, USA

Antroposofia
Goetheanum – Dornach, Suíça

Terapia Multidimensional
Genebra – Suíça

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