O Brasil é o segundo país que mais consome pornografia no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo dados do site de conteúdo pornográfico Pornhub, 39% dos usuários dessa plataforma são mulheres brasileiras. Mas você já parou para pensar de que forma o consumo de pornografia impacta a vida sexual das mulheres?
Ainda que possa ser usada como estimulante para o prazer individual ou com parceiros, a pornografia traz consigo muitos malefícios para a vida sexual e para a autoestima feminina, especialmente por ser uma indústria que quase sempre foca em mostrar o prazer do homem. Confira os principais malefícios da pornografia para mulheres!
Só o prazer masculino importa?
É inegável que a maior parte do conteúdo pornográfico tenha como foco o prazer masculino. Considerando que mais da metade dos consumidores de vídeos pornográficos são homens e que boa parte dos membros dessa indústria também são homens, é natural que o conteúdo seja voltado para os homens.
Isso ajuda a reforçar o preconceito histórico de que, numa relação sexual, o prazer da mulher tem menos importância do que o prazer do homem, o que é uma grande mentira, já que sexo precisa ser uma troca em que a reciprocidade e o prazer de todos os envolvidos seja igualmente importante.
Sexualidade precoce
Se há 15 ou 20 anos um adolescente tinha muito mais dificuldade de ter acesso a conteúdo pornográfico, hoje, com a internet e a infinidade de sites de conteúdo pornográfico que existem, é muito mais fácil que os jovens consumam esse tipo de material, o que afeta a saúde mental e sexual desde muito mais cedo.
Um estudo publicado na Inglaterra, em 2015, pela instituição de saúde mental infantil ChildLine, mostrou um dado preocupante. Entre os adolescentes de 12 a 13 anos entrevistados, 1 a cada 3 havia consumido conteúdo pornográfico. Desses, 12% já havia até mesmo fotografado ou gravado seu corpo e compartilhado o material.
Desconhecimento do corpo
Como os filmes geralmente focam na postura masculina e no prazer do homem, é comum que a mulher seja relegada a um objeto que está ali somente para prover o prazer de que o homem precisa. O corpo feminino é sempre mostrado na perspectiva do que supostamente atrai o homem.
Isso é um dos responsáveis por fazer com que as mulheres conheçam muito pouco tanto seu corpo quanto aquilo que dá prazer a elas, porque acostumam a se preocupar com o que os homens supostamente acham atraente em seu corpo e com o que é necessário fazer para dar prazer a eles.
Expectativas irreais
Dentre os especialistas em saúde sexual, é quase consenso que a pornografia cria expectativas irreais em seus consumidores. Como já citado, as mulheres “aprendem” a deixar o seu prazer de lado, muitas vezes desconhecendo o que traz prazer a elas, em prol de valorizar o prazer masculino acima de tudo.
Além disso, a pornografia cria expectativas irreais para as mulheres em relação ao desempenho sexual dos homens, inclusive. Quando veem que seus parceiros não fazem a relação sexual durar horas, como nos filmes, ou que eles não seguem o padrão dos atores dos filmes, isso pode causar decepção.
Imaginação e sentido vs. estímulo visual
A pornografia traz um estímulo visual que pode ajudar a excitar, mas há muitos outros estímulos que podem causar tesão e prazer. A imaginação é um deles. Fantasiar possibilidades, lembrar relações do passado, ansiar pelas do futuro… tudo isso pode ser muito mais estimulante do que a pornografia irreal dos filmes.
Além disso, muitas disfunções sexuais acometem aqueles que se acostumam com o prazer que sentem com a pornografia, porque podem começar a sentir pouco prazer nas relações sexuais reais, visto que se associaram prazer somente às sensações causadas pelos estímulos do conteúdo pornográfico.
A estética da pornografia
Falar sobre como a necessidade de se enquadrar aos padrões de beleza afetam a autoestima feminina é chover no molhado, mas há uma especificidade quando falamos sobre pornografia. Transtornos alimentares, como bulimia e anorexia, afetam muito mulheres que ficam fragilizadas com a imposição dos padrões.
Além disso, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de países onde são feitas mais cirurgias íntimas femininas, o que mostra que as mulheres do nosso país estão muito preocupadas com a estética sexual dos seus corpos.
Conteúdo pesado
É comum, entre pessoas que consome pornografia há muito tempo, que os próprios filmes pornográficos vão “perdendo” sua capacidade de estimular e trazer prazer, então, numa tentativa de inovar, o consumidor acaba consumindo conteúdo cada vez mais fetichista e considerado “pesado”.
E isso tem uma consequência pior para as mulheres, porque esses conteúdos “pesados” geralmente incluem agressões ao corpo da mulher, bem como humilhações e outras práticas degradantes, o que distorce ainda mais o que é o sexo real e também naturaliza a agressão à mulher.
Vício
Um estudo feito pelo Ministério da Saúde da Austrália em 2019 mostrou que quase 5% dos australianos se consideravam viciados em pornografia. Considerando que somos um dos países que mais consomem pornografia no mundo, os números devem ser bem maiores por aqui.
Assim como o vício em substâncias, o vício em pornografia tem consequências que podem exigir tratamento psicoterapêutico e causar efeitos como ausência de prazer ou incapacidade de manter realações sexuais reais, o que pode destruir a vida sexual de muitos jovens.
Violência contra a mulher
Uma indústria que coloca o corpo da mulher a serviço do prazer (e até da agressividade) masculino naturalmente contribui para o cenário de violência contra a mulher e feminicídio que vemos atualmente, já que esses filmes reforçam, desde muito cedo, que a mulher deveria servir ao homem, especialmente sexualmente.
A mulher que consome muita pornografia ou faz isso com frequência, pode acabar perdendo um pouco o “filtro” contra esses abusos, o que ajuda a naturalizá-los e a perpetuá-los na sociedade, e é claro que elas são vítimas disso também.
Esses são apenas alguns dos malefícios da pornografia para as mulheres, que são inúmeros e podem ser bastante individuais. Como qualquer coisa com prós e contras, fica sob responsabilidade de cada um consumir e moderar o consumo.
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Como são livres sexualmente, as mulheres têm todo o direito, inclusive, de consumir quanta pornografia quiserem, mas ter consciência a respeito das consequências desse consumo é essencial. O importante é, acima de tudo, ter uma vida sexual satisfatória e contentamento com o próprio corpo.