Quando me consultei com a psicóloga pela primeira vez foi para tratar a fobia social: morria de medo de falar em público e, na escola, passava mal e ficava muda sempre que me via diante da sala. Não adiantava, por mais que treinasse em casa, sempre que chegava o momento da apresentação eu paralisava.
Mas, como era escola e era boa aluna, consegui conversar com os professores, convencendo-os de me deixarem apenas com a parte escrita dos trabalhos em vez de fazer uma apresentação. E assim foi até eu iniciar a faculdade de Letras.
Já no começo apareceram os seminários e faculdade não é tão simples assim de se escapar. No meu caso, era a vida me dizendo claramente: “ou vai ou vai”. Por que digo isso? Porque uma das disciplinas se chamava COMUNICAÇÃO ORAL e era pré-requisito para outras várias. Ou seja, se eu não apresentasse o seminário simplesmente seria reprovada nessa matéria e atrasaria as do semestre seguinte, ficando pelo menos um ano a mais na faculdade. E detalhe: o seminário deveria ser apresentado em inglês.
Esse é um dos motivos pelo qual hoje já não fujo mais dos desafios: porque sei que se for para eu passar por aquilo e recusar, futuramente a situação piora. Piora também porque tudo o que acontece na nossa vida tem um PARA QUÊ e, às vezes, aquele desafio aparentemente tão insignificante pode te preparar para situações bem maiores.
Enfim, naquela época já estava fazendo terapia e a psicóloga me passou uma série de exercícios com o intuito de eu perder a timidez aos poucos. Comecei perguntando as horas para alguém no mercado e o objetivo era, obviamente, superar cada nervoso para chegar ao nível de conseguir falar em público. Mas o que me marcou mesmo foi o conselho dado por ela ao perceber o desespero que eu sentia:
“Se o medo insiste em ir com você, então coloca ele nas costas e vai assim mesmo.”
Ou seja: coragem. Coragem, Vanessa, coragem. Vai com medo mesmo, mas vai.
No dia da apresentação do meu primeiro seminário na faculdade, e em inglês, eu paralisei, assim como acontecia na escola, mesmo depois de todo o treino. A diferença foi que em vez de chorar e sair da sala, como fazia, eu continuei parada ali na frente de todo mundo, segurando-me na mesa para não cair, porque as pernas estavam bambas… e assim fiquei até que me veio uma ideia: perguntei aos alunos da sala sobre o tema em que ia tratar, perguntei sobre os tópicos e, conforme eles iam falando, fui dando continuidade. Não tinha noção do que é que eu estava fazendo, mas segui em frente porque aquela atitude estava me acalmando e estava até divertida. No final da apresentação, recebi muitos aplausos e a professora me deu nota 10 pela ótima interação com a sala, ela afirmou que eu havia inovado ao colocar todo os alunos para participar em vez de só falar e falar. Ainda recebi elogios dos meus colegas de classe pela desenvoltura.
Mal podiam imaginar que eu fiz tudo aquilo no total improviso, porque me tinha dado branco. Nenhum deles percebeu que eu estava fazendo perguntas porque realmente tinha esquecido e não porque eu estava “testando” ou “jogando” com eles. Mas o que importa? O que interessa é que finalmente consegui falar e ainda descobri uma técnica: fazer perguntas para a plateia, estimulando as respostas. Assim, tiro o foco de mim e do meu nervosismo.
Depois disso, apresentei vários outros seminários, cada um mais interativo que o outro; percebi que, se falasse do meio da sala em vez de falar na frente, o som da minha voz se propagaria igualmente e eu não precisaria elevar muito o tom; dei aula e era a professora que organizava debates com os alunos e preparava jogos; e fui a oradora da minha turma. Tudo na base da interação.
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Hoje, às vezes, atuo em frente às câmeras. E a primeira vez que fiquei cara a cara com uma câmera me disseram para eu fingir que ela era uma pessoa. Foi fácil. Ainda que eu estivesse fingindo, poder brincar com as pessoas na minha frente e agir conforme a reação delas se tornou algo fluído e divertido para mim.
Quem diria que isso aconteceria, sendo que, no passado, eu mal falava em público.
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