Convivendo

Ouvir com o coração

Fones de ouvido em cima de uma mesa, conectado à um coração.
Escrito por Patricia Tolezano
O final de setembro reserva-nos datas comemorativas relacionadas a dois graves problemas da saúde: a surdez e os problemas do coração. No Brasil, país onde as políticas públicas não são prioridades, sempre há pouco a se comemorar e muito a se atentar. Portanto as datas de 26 e 29 de setembro deveriam servir para chamarmos a atenção tanto para a necessidade das pessoas surdas e os seus direitos quanto para um programa de prevenção contra as doenças cardíacas.

A Organização Mundial da Saúde adverte que serão 900 milhões de pessoas surdas até 2050, quase o dobro dos números atuais. A Federação Mundial do Coração afirma que a doença cardíaca leva à morte 17,3 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Números expressivos e que deveriam requerer muita atenção tanto das autoridades quanto da população. Adoraria discorrer mais sobre esses temas, mas a verdade é que, não sendo da área médica, tenho pouco a acrescentar que já não esteja em inúmeras matérias.

Ouvir com o coração

O que me leva a pensar que o Brasil, nesse final de setembro, permanecerá parado diante de um debate que mistura ouvidos pouco amorosos e corações surdos. Essa doença social está levando o país a um estado de saúde mental e psicológica tão ou mais grave do que as doenças físicas. Amigos e familiares brigam por pessoas que não conhecem. Pessoas xingam-se nas redes sociais sem conhecerem-se pessoalmente. Houve até apropriação intelectual indébita. Tudo em nome da cega em algo fora de si, da mitificação exagerada e danosa. E disso eu tenho muito a falar, até mesmo porque eu também entrei nessa onda vibracional. Claro que estou sempre a me vigiar, mas estamos todos vivendo em tempos de uma surdez coletiva viral e virulenta. Seus sintomas são a inflamação aguda dos ouvidos do coração, pois é lá que se dá o processo da escuta. Seus efeitos colaterais mais aterradores são a maledicência, a intolerância, a falta de paz, a mágoa e o rancor.

As nossas orelhas, meras antenas, não têm capacidade para abrir as portas do labirinto que são as palavras sem significação. O outro fala e nós usamos registros auditivos antigos, ultrapassados e um pouco embotados. Ouvimos sem empatia, assim, reagimos sem sentimento e falamos sem alma. Essa labirintite é um processo doloroso, uma endemia de sofrimento e desamor que ensurdece o mundo.

Há cura? Claro que sim! Temos apenas que aprender a destravar os ouvidos cardíacos. Para isso, precisamos primeiro entender que ouvir não é escutar. Ouvir é captar som por meio do aparelho auditivo, é receber um áudio. Já escutar acontece após o processo de ouvir. Por isso, o principal tratamento é fazer uso do coração, sempre mais amoroso e caloroso, mais inclusivo e seletivo. Ele seleciona a pureza da intenção de quem falou, o amor, a compaixão e a essência. Os ouvidos do coração escrutinam a frase agressiva, descobrem ali um conteúdo amoroso e são um bálsamo tanto para quem fala quanto para quem ouve.

Ouvir com o coração

Emissor e receptor ganham juntos e em conjunto. Portanto vamos escolher escutar! Destape os ouvidos, afaste o zumbido do ego, ocupe-se do outro e seja um ouvinte amoroso, um escutador de alma, pois mais vale uma audição depurada do que um ouvido apurado.

E quando alguém quiser falar, sorria e diga com o coração: “sou toda ouvidos”!


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Sobre o autor

Patricia Tolezano

Sou jornalista de formação, marketeira de opinião, analista esportiva de supetão e escritora de coração.

Se tivesse que me definir em uma única palavra, esta seria adaptação. Mas gosto mesmo é de escrever. Sou uma pessoa e escritora em construção. A partir de agora, vocês conhecerão um pouco do mundo à minha volta.

Viva sem culpa, ame sem medo. E, na dúvida, tente sempre! Para mim, isto é ser feliz.

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