Se alguém te perguntasse se você está dentro do padrão de beleza, qual seria a sua resposta? A maioria das pessoas diria que não está, mesmo aquelas que são magras, brancas e que não apresentam alguma deficiência. Nós sempre iremos olhar para os nossos corpos e enxergar aspectos que poderiam ser melhorados ou alterados, de acordo com as imagens que nos bombardeiam na internet, na televisão, nos filmes e nas séries.
Embora seja um conceito difícil de atingir, o padrão de beleza pode ser definido como aquilo que não pode ser alcançado. Não importa quantas plásticas uma pessoa faça, como o conceito de beleza é alterado com o passar do tempo, eventualmente ela estará fora do padrão de beleza novamente. Mas como tudo isso começou? Aprenda agora mesmo!
A origem do padrão de beleza
Padrão de beleza é a expressão utilizada para falar sobre o conjunto de características físicas que constituem uma beleza ideal, de acordo com uma cultura ou com um contexto histórico. Ou seja, o ideal de beleza é variável em cada parte do mundo e em cada época em que as pessoas vivem. Uma maneira fácil de observar esse fenômeno é a partir das roupas que se tornam moda durante uma década e que se tornam ultrapassadas nos anos seguintes.
Os primeiros padrões de beleza surgiram na época da pré-história. Eram mais valorizadas as pessoas que tinham os corpos adaptados às necessidades de sobrevivência. No caso dos homens, eram os músculos bem desenvolvidos, as unhas compridas e os dentes pontudos que representavam o ideal para uma pessoa. Para as mulheres, a beleza estava nos corpos gordos, que indicavam fertilidade e uma vida com muitos meios de alimentação.
Durante a Idade Média, com a Igreja Católica ditando as regras de comportamento e de beleza, o que importava era a busca pela pureza de espírito e o respeito às regras divinas, além da recusa da vaidade. A castidade era o padrão essencial para as mulheres, enquanto o exercício do poder era uma necessidade masculina.
Com o Renascimento e a consequente valorização do homem acima de Deus, o corpo humano passou a ser mais valorizado. Então, as pinturas apresentavam corpos nus. Elas se caracterizavam por serem a referência de perfeição e de beleza das pessoas, sendo que os homens deveriam ser musculosos e viris, enquanto as mulheres deveriam apresentar curvas bem demarcadas e partes do corpo avantajadas, o que era um sinal de ostentação e riqueza.
Mais tarde, a partir do século 17, os espartilhos passaram a ser usados com mais frequência pelas mulheres da realeza, definindo que a magreza seria um fator importante na hora de considerar uma mulher bonita. Além disso, homens e mulheres deveriam ter a pele pálida e branca se quisessem indicar que pertenciam a um grupo social mais abastado e, consequentemente, bem quisto.
Considerando que os povos europeus invadiram muitos países, esses ideais de beleza construídos por eles se espalharam por todo o mundo, na forma de imposições. Mais tarde, com a ascensão de teorias de superioridade racial, o padrão de beleza mais aceito no mundo passou a ser caracterizado por pessoas de pele branca, sem deficiências físicas ou mentais.
Infelizmente, a influência que os países europeus exercem no mundo ainda é marcante. Os Estados Unidos da América, antiga colônia inglesa, também são responsáveis por definir as referências que a mídia irá apresentar como mulheres e homens belos, mas esse padrão de beleza não é tão aceito em outras partes do mundo. Cada país apresenta um conjunto de características que são mais bonitas para as pessoas de determinada sociedade.
Padrões de beleza pelo mundo
Você já deve ter reparado que as pessoas de nacionalidades distintas não apresentam os mesmos traços físicos. Formato dos olhos, do nariz, da boca e até a cor de pele mudam de acordo com a região do mundo para onde estamos olhando.
Embora os padrões de beleza eurocêntricos sejam predominantes em muitas nações, ainda é possível encontrar diferenças na beleza ideal de cada país.
Na França, por exemplo, serão mais bonitas as mulheres que usam pouca maquiagem, ou que trazem um ar de naturalidade no rosto. Além disso, devem ser magras, brancas e terem o cabelo ligeiramente bagunçado. Para os homens, é essencial um corpo magro, uma linha de maxilar bem definida, sem barba e com a pele livre de espinhas ou cicatrizes.
No México, que recebe muita influência do padrão estadunidense, as mulheres devem apresentar seios avantajados, cabelos longos e ondulados, enquanto os homens devem ter as sobrancelhas grossas, uma barba cerrada e um corpo musculoso. Nesse caso, é possível perceber também os estereótipos de feminilidade (cabelo comprido e seios grandes para mulheres) e de masculinidade (pelos abundantes no rosto e um corpo musculoso para os homens).
O padrão de um corpo curvilíneo para as mulheres e musculoso para os homens também está presente na cultura espanhola. A sensualidade é uma característica essencial para uma pessoa ser considerada bonita, e a influência árabe, nesse caso, faz com que as pessoas com a pele mais escura sejam entendidas como mais bonitas.
No Oriente Médio, a atenção se volta aos olhos das mulheres, que, se forem muçulmanas, serão a parte do corpo que mais irão mostrar. Elas também devem ter cabelos grossos, compridos e ondulados, além de um corpo gordo, representando fertilidade e ostentação. Os homens, por outro lado, só precisam de um nariz grande, de uma estatura mediana e de olhos escuros para estarem dentro do padrão.
Na Coreia do Sul, embora a maioria das pessoas tenha os olhos menores, para que uma mulher tenha mais oportunidades de emprego ela deve seguir o padrão ocidental, apresentando olhos amendoados. Por isso, milhares de cirurgias plásticas são feitas com o objetivo de alterar o formato da pálpebra. Os homens bonitos, nesse caso, são aqueles que apresentam feições suaves. Ambos devem ter a pele branca.
São muitos os padrões de beleza que se manifestam em cada parte do mundo, mas a partir dessa visão geral é possível entender que nem sempre uma pessoa branca, de cabelos e olhos claros e magra será a mais bonita em uma cultura. Porém, o que há em comum na maioria das nações é que nenhum padrão de beleza inclui as pessoas com deficiência, com cicatrizes ou com algum tipo de ferimento.
E quem não se encaixa?
As pessoas que não se encaixam nos padrões de beleza, que são a maioria, sofrem a pressão estética, o racismo, o capacitismo, a transfobia e a gordofobia. Muitas delas perdem oportunidades de emprego, são desconsideradas para relacionamentos românticos e para amizades, não encontram roupas que sirvam em seus corpos e podem ter o acesso a espaços públicos negados.
Embora muitas pessoas não se encaixem totalmente nos padrões de beleza, há aquelas que estão mais distantes de alcançá-los, e por isso enfrentam mais dificuldades. É compreensível, dessa forma, que tantas tenham o desejo de realizar cirurgias plásticas para modificar características que poderiam aproximá-las do padrão de beleza tão essencial para ter uma boa imagem na sociedade.
A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética (ISAPS) apontou, em 2020, que o Brasil foi o segundo país que mais realizou cirurgias plásticas em todo o mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos da América, sendo que as principais cirurgias eram de aumento das mamas, rinoplastia e lipoaspiração.
Todas essas intervenções cirúrgicas têm como objetivo melhorar a aparência de uma pessoa perante a sociedade, a fim de evitar que ela sofra com comentários negativos, humilhações e discriminação. Não são todas as formas de preconceito decorrentes da aparência que podem ser evitadas com a cirurgia plástica, e é aí que está outro problema.
Uma pessoa negra, por exemplo, dificilmente se verá representada como uma referência de beleza, assim como uma pessoa gorda, uma pessoa com deficiência ou uma pessoa que tenha qualquer cor de pele diferente da branca. Uma mulher que não segue os estereótipos da feminilidade (se manter depilada, ter os cabelos compridos, etc) também terá dificuldade para se encontrar na mídia. O que fazer para que essas pessoas reconheçam que elas fazem parte da sociedade e que também são bonitas?
Como combater os padrões de beleza?
Combater os padrões de beleza é um projeto. Ele deve começar nas representações midiáticas para que a sociedade mude a forma como enxerga os corpos das outras pessoas. Se os comerciais incluíssem uma variedade de corpos e de cores de pele, por exemplo, a população iria educar os olhos para não sentir repulsa ao se deparar com a diferença.
O relatório global de autoconfiança feminina Dove de 2016 entrevistou 10500 mulheres em 13 países, e 71% delas afirmaram que gostariam que a mídia se esforçasse mais para retratar mulheres com diferentes tipos de beleza física. Propagandas inclusivas e escalações para filmes, séries e novelas que trouxessem pessoas de diferentes raças, idades e gêneros já seriam um bom primeiro passo, mas não representariam a vitória da beleza individual.
As pessoas que não se encaixam nos padrões de beleza precisam ocupar cargos de notoriedade em instituições e empresas, mostrando que elas têm valor intelectual acima de tudo. Muitas vezes, as pessoas que são consideradas feias pela sociedade também são vistas como pouco eficientes, preguiçosas e indesejáveis. É preciso incluir todas as pessoas nos espaços que já pertencem a elas.
O trabalho para romper os padrões de beleza também não deve partir apenas da mídia ou de grandes instituições, embora elas sejam responsáveis por definir a forma como vemos os outros corpos e pensamos sobre eles.
Você já parou para pensar que cabe a você romper com os padrões de beleza? Quando você julga uma pessoa como feia, quando tenta minimizar outra pessoa pela aparência dela ou quando faz comentários odiosos em redes sociais sobre o corpo de alguém, está contribuindo para a perpetuação de estereótipos que só fazem mal para a sociedade. Mude sua forma de pensar!
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Os padrões de beleza existem na sociedade, mas há um esforço coletivo para que eles sejam cada vez menos valorizados, compreendendo que a verdadeira beleza é se sentir bem com o próprio corpo. Não tente alcançar os padrões de beleza, lute para que eles deixem de existir! Assim, você faz bem para si e para a sociedade como um todo!