Questões das nossas realidades objetivas são compreendidas por nós do mesmo modo que os nossos eus oníricos compreendem o que ocorre nos sonhos. Por exemplo, num sonho, não há questionamento algum sobre coisas que seriam impossíveis de acontecer deste lado, muitos sonham que estão voando, fazendo sexo em público, falando com pessoas que já faleceram ou que sequer conheceram, e, no universo dos sonhos, tudo vai ocorrendo deste modo. Quando acordamos, não poucas vezes ficamos estarrecidos com algumas das vivencias, e, muitas vezes, podemos ficar intrigados. Não poucas vezes em que deixamos de lado um sonho, o sentimento que tivemos dele ou mesmos as imagens voltam a nos impactar ao longo dos dias. Por que será?
Porque igualmente aos sonhos, as nossas vidas são repletas de situações simbólicas que também fazem parte de questões emocionais embutidas. As sensações residuais que ficam dos sonhos e que, por vezes, se perpetuam dias a fio são outras versões de alguns dos nossos temas que nossos cérebros estão tentando resolver por intermédio dos sonhos. A ideia é que a todo tempo, os nossos psiquismos, ou algo maior que nós, estão se esforçando para sair de situações de looping, para que possamos ver e sermos além do nosso estado atual. Portanto, os sonhos nunca podem ser levados ao pé da letra, porque são produzidos no território onírico do cérebro, onde as imagens aparecem mediante a um simbolismo próprio, muitas vezes não compreendido na integra.
Os pesadelos, por sua vez, fazem parte de situações emocionais de difícil solução quando estamos em estado de vigília, e representam nossos medos e desejos escondidos. Na maioria das vezes, pesadelos, quando surgem, deixam as pessoas assustadas ou angustiadas porque elas mesmas sequer tem consciência de que muitos são medos obscuros que ficam escondidos nos porões da consciência. Questões traumáticas mal resolvidas, como diversos tipos de abuso, por exemplo, podem sequencialmente ser reveladas em formato de pesadelos durante grande parte da vida das vítimas, até que possam ser devidamente reprocessadas. Podem ser contadas, quando necessárias, com terapias de reprocessamento cerebral, tais como EMDR e Brainspotting, os quais reproduzem a fase REM do sono de modo monitorado para que a solução dos conflitos e perturbações possam acontecer de modo eficiente.
Temos cerca de seis ciclos REM por noite, e é nesse período de tempo que os sonhos acontecem
Por conta de crenças pessoais sobre a validade dos sonhos e, às vezes, pela dificuldade de receber informações do mundo interior, muitos especializam-se em somente em viver as experiências da realidade objetiva imaginando que não sonham, porém, enganam-se, pois apenas não acessam o conteúdo dos mesmos.
Sonhos podem ser vistos como portais de comunicação de nós para nós mesmos. Nem sempre estamos habilitados a nos darmos tempo para que este espaço ocorra. Com treino, se logo ao acordarmos, este tipo de espaço for instalado, as informações de contato com as vivências começam a surgir de modo espontâneo, cada vez mais preciso e eficiente.
Quanto mais despertos, melhor!
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