O que você faria se o seu corpo perfeito e ágil lhe revelasse movimentos desconhecidos? Um tremor nas mãos, um tilintar dos lábios, uma flacidez dos músculos. Difícil até de imaginar.
Passamos, muitas vezes, tempo demais atrás da escultura corporal e da perfeição da forma. Uma busca desenfreada pelo belo e pelo estético, sem contar que muitas vezes desconsideramos que não temos domínio total sobre nossa vida.
Um dia, ao olhar-se no espelho nota um movimento estranho, a boca tão perfeita dá sobressaltos, ao pegar algo observa que as mãos estão trêmulas e perdendo força. Ao andar as pernas já não obedecem como antes. O corpo não responde como de costume e parece dar um sinal de alerta: algo mudou!!!
Não parece mais a mesma pessoa… Deseja andar rápido e não pode, quer falar e as palavras entravam, ao comer engasga.
Este movimento estranho a tudo o que conhece de si mesmo o faz repensar e redefinir seus conceitos.
Muitas vezes sente dores e uma sensação de não mais se reconhecer em seu próprio templo.
E surgem as perguntas:
Quem sou, afinal?
O que ocorre comigo?
Por que perdi o domínio sobre o meu movimento?
E o controle, e a pressa, o que faço com eles agora?
Toda esta cadeia racional envolve a transição de um corpo aparentemente saudável para um estado Parkinsoniano.
As limitações vão se instalando lentamente e desafiando o paciente a cada dia.
O primeiro “round” é o diagnóstico. Flutua entre um médico e outro por tempos sob avaliações clínicas sem fim.
As dúvidas, as incertezas causam um movimento interior avassalador. As suposições, as indagações, as dúvidas e, finalmente, a certeza impõem um movimento interior assustador.
Nesta dança todos os fatores anteriores fazem com que o corpo todo se movimente e clame por novas opções.
Internamente uma movimentação ocorre: células se readequando, mecanismos de defesa se revelando e uma sensação de impotência tomando espaço.
Na verdade, já que o movimento interno vive um momento de pressão, é necessário que algo aconteça para aliviá-lo.
Remédios, tratamentos, acompanhamento neurológico, psicológico, fonoaudiológico, amor, compreensão, tudo passa a ser de suma importância.
Porém, como superar o movimento interno desconhecido?
Dar-lhe a oportunidade de reaprender.
Uma das missões mais difíceis para o paciente é diminuir seu ritmo de vida, compreender que tudo ele pode, mas respeitando seus novos limites.
Mover-se mais cuidadosamente, observar tudo o que o cerca com cautela e reinventar-se.
Novos ritmos, novas possibilidades, novas formas de vivenciar as mesmas coisas.
Neste ponto, a Dançaterapia vem auxiliar, não o paciente de Parkinson, mas a reapropriação da nova versão de si mesmo que acaba de despertar.
O movimento estimula a reconhecer, aceitar e superar os limites.
As vivências de Dançaterapia são carregadas de estímulos sensoriais que despertam novas possibilidades de movimento, um movimento natural e não programado, que estimula a quebra das limitações pessoais, o confronto com o estigma “eu não posso mais”.
Na dançaterapia, toda a pressão interior pode ser estravasada; seja em movimentos amplos ou contidos. Do que decorre uma liberação do que oprime, uma quebra da rigidez iminente e a reapropriação de si mesmo.
A Dançaterapia desperta a criatividade e a predisposição para encontrar novas maneiras de agir e pensar.
As músicas e os estímulos conjuntamente, em seus diversos gêneros, facilitam a ampliação das descobertas pessoais e reforçam a credibilidade pessoal nas mudanças gradativas do corpo e de sua funcionalidade.
A Dançaterapia tem uma vasta aplicação, podendo ser aplicada a diversos públicos-alvo, incluindo pessoas com diferentes limitações físicas, psíquicas ou sensoriais.
Sua essência está no próprio ser humano, na sua bagagem pessoal e na transformação de suas crenças e valores através da releitura do movimento que o habita.
As vivências de Dançaterapia se tornam um suporte inestimável a emersão da autoconfiança e da crença no poder da força interior, oferece a oportunidade de transformar-se em um paciente ativo, que enfrenta sua zona de conforto para ser coadjuvante de seu próprio tratamento.
Quando mente e corpo se unem num processo de reação equilibrada, o todo se modifica e as possibilidades de sucesso e de uma sobrevida com qualidade e com satisfação pessoal se concretizam.
O homem é, e sempre será, o guia de suas próprias experiências e a forma como vê a si mesmo e a tudo que o cerca é determinante para sua felicidade.
Da mesma forma, a Dançaterapia, através do movimento, oferece às pessoas novas fontes de escolha e abre caminho para revelações pessoais antes adormecidas.
O Parkinsoniano necessita compreender tudo o que o afeta, sem perder a força de reagir aos desafios que se apresentam e a Dançaterapia está presente como terapia complementar neste processo.
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Nota: visite o site da Associação Brasil Parkinson (www.parkinson.org.br) e saiba mais sobre o Parkinson e sobre as atividades de apoio aos pacientes e familiares.
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