Quando eu era menina, meu pai de vez em quando me levava para passear perto de casa. Minha mãe colocava em mim uns sapatinhos de laço, um vestidinho florido, e lá ia eu. Eu e meu pai. Ele me pegava pela mão, abria o portãozinho de casa e descíamos a rua. Eu nos meus passos miúdos, coração pulando alegremente, os cabelos soltos, o vento batendo neles delicadamente. Recordo muito do clima de outono, as flores e folhas caindo das árvores imensas, a pracinha onde os meninos da rua jogavam bola de gude.
Nós descíamos a rua devagar, e eu na minha meninice enxergava tudo muito grande: as pessoas, os carros, o pipoqueiro que ficava na esquina, os cachorros que latiam nos portões da vizinhança.
Eu olhava casa por casa, achando tudo bonito. Um telhado diferente, um portão, uma santinha iluminada em um oratório na parede (muito comum naquela época), um jardim colorido. Eram tantas novidades para uma cabecinha de criança! Pensava comigo mesma: quem mora dentro delas? Como são os móveis? De que cor são as paredes? Será que tem gatinhos? Um aquário? Quantas crianças brincam nesses quintais? Será que já jantaram? Assistem a novelas ou só gostam de filmes? Será que são felizes?
Esses passeios não aconteciam todo dia, por isso o encanto. Era uma época cheia de brincadeiras lúdicas, sem internet e de céu estrelado como nunca mais vi (depois que cresci).
Na volta do passeio eu sempre pedia para irmos pela outra calçada, para que eu pudesse olhar as outras casas e sonhar acordada com elas, com seus moradores, seus bichinhos de estimação, seus jardins.
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Engraçado como esses momentos de alegria pueril marcam nossas memórias de forma permanente e tão vívida que eu chego a sentir o cheiro bom de comida na mesa em uma das tantas casas construídas nas minhas recordações.