O que, de fato, é perdoar?
Algumas pessoas dizem que já perdoaram, quando na verdade, apenas esqueceram. Elas inconscientizaram um evento, com toda a sua importância, carregado de carga afetiva e pensam que o assunto já está resolvido. Não percebem que esse conteúdo engavetado na alma segue vibrando com toda a sua intensidade e, com isso, permanece vivo e operante, interferindo nas escolhas e respostas emocionais daqueles que insistem em nutri-los. A falta de perdão alimenta distúrbios e promove desvios comportamentais, pois criamos tendências negativas que acabam consolidadas em vícios mentais.O homem expressa de forma recorrente tudo aquilo que não perdoou. Seja por meio de reações intempestivas, de fobias injustificáveis, de angústias desconhecidas e muitas outras distonias. Tudo isso acontece em função dos combustíveis emocionais que animam eventos mal elaborados pela consciência em determinadas experiências do passado.
É claro que nos esquecemos. Afinal, o cérebro precisa processar experiências novas, mas a mente inconsciente não dá trégua. Enquanto não removermos a importância desses fatos por meio de uma ressignificação, todo os componentes de ódio, medo, raiva, revolta etc… continuarão contaminando o nosso psiquismo.
Como ressignificar os eventos traumáticos, as humilhações, as traições e uma série de contrariedades que armazenamos com tanto zelo? É simples: mudando o significado que esses acontecimentos estão tendo, pois perdoar é, única e exclusivamente, mudar o significado.
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Aquilo que te machucou poderá ser relembrado não como uma agressão, mas como um aprendizado necessário. Aquela humilhação sofrida poderá ser útil para diminuir o tamanho do seu orgulho. Portanto, foi uma ação educativa. Aquela traição serviu para o seu desenvolvimento, pois você pode compreender que não devemos criar expectativas e nem querer que o outro corresponda aos nossos anseios.
Existem inúmeras formas de olhar o passado sob um novo prisma. Basta você compreender que todos esses combustíveis emocionais tóxicos que os mantêm vivos apenas conspiram contra o seu equilíbrio. Doenças, disfunções, desequilíbrios, neuroses, enfim, todas as mazelas físicas e psíquicas resultam desses venenos.
Guardar rancor, revolta ou indignação é um expediente equivocado. É como tomar um copo de veneno e esperar que faça efeito no outro. Qualquer terapeuta sério e bem-intencionado irá investigar esses conteúdos para que eles sejam enfrentados com um novo olhar, pois uma nova compreensão dará um novo significado ao acontecimento.
Perdoar, como disse, é isso: mudar o significado, nada mais do que isso. Jesus nos ensinou a perdoar tudo, setenta vezes sete. Ele foi um grande psicólogo, ele conhecia a alma humana.
Com o tempo, o ato de perdoar será desnecessário, pois muito mais eficaz do que perdoar é não se ofender. Ao não ofender-se, o homem não reveste a experiência com a importância que a manterá viva, criando incômodos. Perdoar é humano, não ofender-se é divino.