A ilusão de controlar como tudo deve ser permeia nossas mentes e nubla nossa visão, não nos permitindo perceber os resultados que estamos obtendo a partir de nossas escolhas e ações
“Deixa fluir” é um conselho bastante comum, já ouvimos muito e já oferecemos aos montes também. Para alguns ouvidos soa como: “Não faça nada, pois tudo virá até você”. Interessante, mas esse é só um aspecto, um ponto de vista. Ademais, o que foi feito com a nossa capacidade de avaliar e modificar o que já não nos satisfaz e perdeu o sentido? Sim, existe uma hierarquia universal. Não é possível saber tudo o que reserva o futuro. Se assim fosse, todos saberíamos o dia de nossa partida, certo? Pois é, se só temos o ticket de chegada aqui, cada minuto é único e, cada experiência, uma oportunidade de evolução. Ainda que o final dessa jornada seja uma incógnita para nós, isso não justifica uma existência sem rumos definidos.
Aquele que não sabe o que quer, seja em qual área da vida for, aceita viver submisso aos outros e não enxerga saídas. Acha que fluir é perambular pelos dias, espreitando a vida como se não fosse digno de tudo o que aprecia, almeja e sonha. Ao contrário, só se pode fluir com a vida aquele que encontra em si mesmo o que tanto procura fora. Não ter objetivos traçados não significa que nossas vidas sejam sem sentido, apenas é um sinal de que não estamos no nosso centro, em algum momento nos perdemos de nós nas distrações corriqueiras e plastificadas de sociedades desumanas demais, que enquadram e resumem a existência em telas de um punhado de polegadas.
Deixar que as coisas fluam não é sinônimo de não fazer nada, agindo como um espectador curioso que anseia um futuro qualquer pra ver no que dá, vivendo os sonhos apenas na imaginação e nunca os transformando em realidade. Tampouco é sair por aí desenfreado, agindo sem pensar, atropelando a si mesmo e aos outros na cegueira do automatismo. Duas situações opostas que não levam a lugar algum. Então, o quê?
Caminho do meio, equilíbrio…
Saber no mais profundo do nosso ser o que realmente queremos, sentimos e o que estamos buscando é um trabalho de auto-observação constante, não cessa. Quando temos essa intimidade conosco, que nos permite a compreensão do eu, entendemos que deixar fluir nada mais é do que perceber, de uma vez por todas, que, para manifestar nossos sonhos, é preciso entender quem somos e nossos reais propósitos, aquilo que nos alegra e eleva e faz o coração vibrar numa certeza tão intensa que julgamento mental algum ousa abalar.
No momento em que reconhecemos esses propósitos e os permitimos emergir, temos suficiente amparo universal
Todas as respostas sussurram aos ouvidos, e os acontecimentos nos banham em evidências de estarmos em total acordo com nossa alma. E isso é deixar fluir!
A vida nos conduz a observá-la de forma panorâmica. Olhando de cima, vemos todos os pontos: novos caminhos, oportunidades, possíveis mudanças e a coragem pra agir, pra caminhar de forma fluida, atento e com a percepção aguçada. Temos cinco sentidos que não existem à toa. Ainda temos o sexto, um bônus, comumente chamado intuição. Compreender nossas aspirações nos abre as melhores portas e isso é totalmente diferente de simplesmente adentrar qualquer porta, vivendo por viver e esperando que, sem plantar, colheremos frutos.
Se sabemos bem aonde estamos indo, ficamos mais leves para aceitar o inesperado que vem sem perder de vista o que buscamos para o amanhã. É que as vezes as coisas não saem como idealizamos; elas saem da forma que precisam para nos trazer os aprendizados que nos guiarão às respostas que tanto pedimos. O que pedimos nos é apresentado em forma de desafios, e os desafios nos tornam vencedores, aptos a descobrir mais, a transcender qualquer obstáculo. Observe: se pedimos paciência, situações complicadas nos exigirão o exercício da paciência. Só se aprende alguma coisa pelo próprio esforço e nos relacionando com os outros. É assim em todos os cenários de nossas vidas. Tudo o que se apresenta a nós está requisitando nosso trabalho.
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Portanto, toda vez que ouvimos ou sentimos que devemos deixar a vida fluir, é um sinal de que é chegada a hora de liberar um pouco desse peso que carregamos desnecessariamente. Abrir mão de certas coisas pode ser de fato muito inteligente de nossa parte e trazer aquele alívio que buscamos, mas não temos coragem de entregar, pois achamos que tudo está sob nosso controle. Melhor não pensarmos assim. Vamos seguir rumo aos nossos objetivos e deixar que a vida se encarregue de nos orientar ao próximo passo, na segurança de que somos todos merecedores do melhor e totalmente capazes de lidarmos com o pior, mesmo que não saibamos disso ainda.