“Pior do que seu preconceito, é sua capacidade ridícula de achar que uma mulher precisa usar o corpo como atrativo, quando ela tem algo chamado cérebro.”
Fui apresentada a várias propostas, aparentemente boas, mas que eu sabia por experiência própria que não passavam de enrolação. “Você pode ficar famosa”, eles diziam. “Olha só esse seu corpo, é maravilhoso.” Ia para uma entrevista de emprego, para o ponto de ônibus ou caminhava pela rua normalmente e sempre os mesmos olhares, as mesmas insinuações baratas, os mesmos elogios despretensiosos. Será que eu não podia oferecer ou ter qualidades sem necessariamente usar meu corpo? “Por que uma mulher tão bonita como você está solteira?”
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Eu bufava de raiva, não precisava de ninguém ao meu lado só por minha beleza. Estava muito bem sozinha e não era de um homem que eu precisava. Tinha necessidade de respeito, de valor. Queria zero por cento de machismo, menos elogios disfarçados de gentilezas, menos ironias. Precisava ser olhada como gente, não como um pedaço de carne que não tem nada, além do corpo para oferecer. Queria ser olhada como um ser humano pensante, capaz, independente, que sofre, que tem medo de ser estuprada pelo simples fato de usar uma roupa curta. Queria ser olhada como mulher, como alguém que precisou de séculos para ser inserida na sociedade. E melhor do que sobreviver a essas pessoas eu queria viver entre elas, como qualquer ser humano normal.
Vestir minhas próprias roupas, sem ser taxada de vadia, de puta, de promíscua. Antes de qualquer coisa, queria mais respeito. Porque ser mulher não é fácil, nada fácil, e pior do que uma menstruação é ter que lidar todos os dias com gente machista e mal-educada.
Pior do que seu preconceito, é sua capacidade ridícula de achar que uma mulher precisa usar o corpo como atrativo, quando ela tem algo chamado cérebro. Se você acha bonito meu corpo, meu bem, é porque ainda não sabe de nada do que eu penso. E acho que o seu brinquedinho aí embaixo é igual ao seu cérebro, minúsculo. E felizmente não preciso dele pra viver, querido, preciso apenas de mim mesma, e cá entre nós é mais do que o suficiente.