Qualquer lugar, qualquer dia… um dia, alguém te chama de senhora. Não por uma educação somente, mas porque a sua idade já é bem diferente da dela. Há 10 anos, eu tinha quase 40 e a maioria dos trabalhadores de lojas, porteiros, manobristas, médicas, recepcionistas tinha por volta dos 30. Hoje, eu tenho quase 50 e elas ainda têm por volta dos 30. Justo.
A idade é uma coisa que chega sorrateira. E, num mundo onde eu já fui proibida de ser gorda e mulher, é só mais uma coisa para lidar. Alguns “sem noção” chegam a querer ajudar você a se levantar, por exemplo. O “senhora” e “minha mãe é mais nova que você” se proliferam. É um momento estranho, mas libertador, por outro lado.
Ontem assisti, e recomendo fortemente, o filme “Nyad” sobre a nadadora Diana Nyad, que atravessou o canal entre Cuba e EUA aos 68 anos nadando. Ela começou a tentar aos 28, quando foi retirada da água quase sem vida e desistente.
Aos 60 descobriu que queria tentar de novo e depois de quatro tentativas frustradas ela finalmente conseguiu. É um relato de coragem, de medo, de dor, um pouco claustrofóbico, por vezes. É sobre teimar em existir e realizar sonhos quando todo mundo manda você tomar uma xícara de chá e esperar a morte chegar.
O que eu tenho a meu favor é o fato da população brasileira e mundial estar envelhecendo. Hoje, as pessoas vivem mais e têm melhor qualidade de vida, superando em números os jovens. Num universo onde as pessoas têm cada vez menos filhos, a conta é que, um dia, tenhamos mais velhos do que jovens.
E o que fazer com o etarismo vigente? Outro dia uma influenciadora de pele madura que eu sigo fez um desabafo nas redes sociais porque nenhuma influenciadora mais velha foi convidada para o baile de Halloween da Sephora. No final, a indústria prioriza o que eles acham que será mais inspiracional – mulheres jovens, com pele perfeitas que mal precisam de base. E estão errados?
Será que não é nossa culpa? Será que não “envelhecemos” quando alguém nos chama de senhora e nos dá um lugar para se sentar no ônibus? Não envelhecemos quando desistimos de tentar, de se levantar de manhã cheios de energia? Quando esquecemos que a vida ainda tem muito chão pela frente e que cada dia é um presente que podemos preencher com sonhos realizados?
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O etarismo, como qualquer preconceito, só funciona em quem se acha vítima dele. Eu, do meu lado, vou parar de corrigir as moçoilas que me chamam de senhora. Minha pele está ótima, tenho uma profissão bem-sucedida, uma boa saúde – ok, tem umas coisinhas pra melhorar –, e sou cercada de muito amor. E, principalmente, sei quem eu sou. E isso é a maior conquista que a idade nos traz. A paz de sermos nós mesmas.