Qual foi a última vez que você fez uma nova amizade? Não um conhecido ou um camarada no trabalho, mas alguém realmente próximo — o tipo de pessoa para quem você ligaria numa emergência? Se você for velho como eu (mais de 30 anos), deve perceber que nunca foi tão difícil fazer esse tipo de amigo. Aqui, vamos explicar o porquê e também por que isso não é tão ruim.
Os principais suspeitos: trabalho, família e pouco tempo
Todos sabemos as razões óbvias do porque é tão difícil fazer novas amizades quando ficamos mais velhos. Trabalhamos 50 horas por semana, talvez casados e já com filhos, temos mais responsabilidades e com isso temos menos tempo para qualquer outra coisa. Um estudo conduzido pelo instituto Real Simple and Families Work Institute diz que a maior parte das mulheres entre 25 e 54 anos alega ter menos do que 90 minutos de tempo livre por dia, e 29% tem menos de 45 minutos. Isso não é suficiente nem para ver um episódio de Game of Thrones, menos ainda para fazer novas amizades.
No verão passado, num artigo popular do New York Times, Alex Williams atacou sua crise de amizades de meia idade, dizendo:
Conforme as pessoas se aproximam da meia idade, os dias de jovem exploração, quando a vida parece ser um grande encontro às cegas, começam a desaparecer. Os horários ficam apertados, as prioridades mudam e as pessoas frequentemente se tornam mais exigentes sobre o que esperam dos seus amigos.
Não importa quantos amigos você faça, uma sensação fatal se arrasta ao pensar que: o período de fazer seus BFFs (best friends forever), como fez na sua adolescência ou no início dos seus 20 anos, é muito longo. É hora de você se conformar com seus amigos situacionais: KOFs (kind of friends — tipo de amigos) — por enquanto.
Anos depois da minha graduação da faculdade, encontrei várias pessoas no trabalho, no meu bairro e em eventos como reunião dos professores. Muitos deles, cumprimentei e peguei números de celular, a fim de planejar algo para algum dia. Esses planos nunca saíram do papel. Parece que existe uma barreira invisível te impedindo de se aproximar, porque já é difícil manter contato com os amigos que já tenho (pessoas que conheço desde o ensino médio). Vamos nos livrar disso e tentar construir uma relação próxima com alguém novo.
Williams escreve:
Em estudos de duplas, Laura L. Carstensen, professora diretora do Centro de Longevidade de Stanford, na Califórnia, observou que as pessoas tendem a interagir com menos pessoas conforme se aproximam da meia idade, mas se aproximam mais dos amigos que já tinham.
Basicamente, ela sugere que isso acontece porque as pessoas têm um despertador interno que se desliga após grandes eventos, como a chegada dos 30 anos. Isso as faz lembrar que os horizontes estão diminuindo, então, nesse ponto, precisam dar uma parada nas explorações e se focar no aqui e agora.
Fazer amigos não é questão de sobrevivência
Outra coisa que nos leva a fazer amigos quando somos jovens, apesar de muitas vezes não ser fácil, é uma certa necessidade. Desde o jardim de infância até nos graduarmos na faculdade, fazer amigos é uma parte muito importante de nossa vida social e desenvolvimento pessoal — e nem sempre é opcional. Precisamos fazer amigos para descobrir quem somos, com qual grupo nos identificamos, como conviver num contexto social e quais pessoas vão nos ajudar a crescer como pessoa (coisas como lidar com bullying ou relações confusas).
É claro, nunca pensamos sobre isso quando estamos na escola. Estávamos confusos, fazendo contatos quase que arbitrariamente (você se sentava perto de alguém especial em uma aula chata? Odiavam um certo professor ou um grupo de crianças? Melhores amigos).
Depois de passar anos vivendo como um adulto num mundo real, no entanto, não pensamos mais que precisamos de novos amigos para descobrir como ter uma visão melhor de nós mesmos ou simplesmente não temos mais aquela pressão de ter que pertencer a um grupo. E laços que dependem puramente de circunstâncias não acontecem mais com tanta frequência. Como o comediante Louis C.K disse uma vez num stand-up:
Passo vários dias com pessoas e fico assim: “Eu nunca sairia com você. Não escolho você. Nossos filhos escolhem uns aos outros sem nenhum critério! Eles são do mesmo tamanho. Não se importam com quem me farão sair ou não.”
O que nós podemos fazer sobre isso
Para as pessoas que estão buscando novas amizades — talvez após se mudar para uma cidade nova, mudar de emprego, sair com novos amigos —, saibam que pode ser algo bastante desafiador. Todos estão ocupados e estamos menos propensos a ter as características que, segundo os sociólogos, são necessárias para fazer amigos íntimos: proximidade, repetição, interações não planejadas e um ambiente onde as pessoas deixam suas guardas baixas e se sentem mais propensas a confiar umas nas outras (como na faculdade).
Isso quer dizer que, uma vez que você tenha passado dos 30 anos, deve desistir das esperanças de fazer um novo amigo? Claro que não.
Tracy Moore, comparando a amizade a uma correia transportadora, diz que talvez só precisemos mudar alguns hábitos sobre as nossas amizades:
Talvez você esteja numa cidade nova com correias transportadoras desconhecidas; talvez seus velhos amigos sejam descarados hediondos e você não faça a mínima ideia do porquê tem saído com eles nessa última década. De qualquer maneira, você tem que pensar em fazer amigos nesse mundo, com essa idade e com a cabeça pensando de um modo diferente.
E, sim, realmente saia e socialize com pessoas que tenham os mesmos interesses que você. Aqui estão alguns exemplos da equipe técnica dos LifeHackers:
- Use serviços e aplicativos de encontros, que tem passeios para tudo, desde caminhadas ao ar livre a leituras de poesia para festas de dança de crianças. Whitson diz que ele foi para um encontro de Dungeons & Dragons e acabou conhecendo um grupo de quatro rapazes com quem jogou D&D pelos próximos três anos.
- Use promoções diárias, como Groupon ou Peixe Urbano, para ter aulas ou outras atividades. Alan diz que encontrou várias pessoas legais numa degustação de uísque. Na verdade, Thorin também diz a mesma coisa. Nada como comida e bebida para unir as pessoas!
- Conheça pessoas na igreja. Como Joshua brinca, “as atividades na igreja estão cheias de pessoas contratualmente obrigadas a serem suas amigas”.
- Participe de um campeonato esportivo (e ainda tem o bônus de praticar exercícios). Meu marido participa de partidas de basquete semanais que está recrutando novos membros o tempo todo.
- Dê um passeio com seu cachorro (ou até mesmo arranje um filhotinho).
- Outros jeitos óbvios, mas muito efetivos para sair incluem voluntariado, começar um novo hobby, entrar no clube do livro da sua vizinhança e até mesmo viajar.
Uma vez que você encontre um amigo em potencial, pode deixar a timidez de lado e torná-lo seu amigo sugerindo uma atividade em comum ou marcando encontros regulares (por exemplo, um café num domingo) para construir uma relação.
- Organize jantares e happy hours na sua casa onde as pessoas possam se sentir confortáveis e com a guarda baixa.
Sim, construir amizades é muito parecido com namorar — e pode exigir muito mais investimentos de esforços e emoções.
Se você é uma pessoa tímida como eu, que não chega nas pessoas, as novas amizades em potencial ainda estão lá (não importa se você se força a ser social ou não). Porque não importa em qual estágio da vida você esteja, fazer amigos tem muito a ver com sorte e química também — coisas que você não pode controlar e que podem acontecer quando você menos esperar.
A luz no fim do túnel
Por mais que pareça diferente e difícil fazer novos amigos, acho que existem alguns benefícios de fazer isso quando se está mais velho:
- Suas novas amizades serão baseadas nos seus interesses em comum — alguns novos que você não tinha quando estava na escola.
- Você não está limitado a fazer amigos apenas na sua faixa etária ou, com o poder da internet, mesmo nos seus arredores.
- Suas amizades serão mais tranquilas e menos pressionadas, porque todo mundo sabe que todos são invadidos (um tipo de amigo para cada ocasião — Moore também escreve que “é o melhor tipo de amigo que você pode ter quando adulto! são cheios de possibilidades e praticamente não envolvem nenhuma obrigação”).
- Você poderia apreciar os raros tempos em que passa com seus amigos (mais do que quando estava na faculdade e não tinha nada para fazer).
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De fato, quando você tem autoconhecimento, a qualidade das amizades que você faz (ou renova) ao longo da sua vida podem ser mais ricas do que aquelas da sua época de escola, mesmo que essas amizades precisem de mais esforço para serem cultivadas. E, como o melhor das relações, elas também podem continuar a se aprofundar ao longo do tempo.
Texto escrito por Amanda Magliaro Prieto da Equipe Eu Sem Fronteiras