No início, tudo vai às mil maravilhas. A sensação é a do encontro sonhado, da realização de algo prometido juntamente com a magia do inesperado. Tempos depois, porém, no desgaste da relação, o que reinam são os sentimentos de ódio, de mágoas sem fim. O desejo é de vingança ilimitada, sendo que este vai preenchendo espaços onde antes um mais um somavam-se dois. A meta de agora se transforma na antítese de tudo o que já se viveu com o parceiro escolhido e as ações passam a ser literalmente direcionadas para destruir a todo custo a vida daquele que um dia já foi o suposto amor… Como pode?
Quando namoro, casamento ou algum tipo de envolvimento se rompe, exemplos desta ordem é o que não faltam. Como entender os motivos e os porquês disso ocorrer com muito mais frequência do que se imagina? E, se você acaso estiver envolvido nesse tipo de situação, de que forma poderia se proteger dos maus presságios saindo dessa, no mínimo, fortalecido?
A pergunta que fica é, para onde teriam ido todos aqueles bons sentimentos e se eles foram apenas ilusão ou quem sabe alguma brincadeira de mau gosto?
Veremos os dois lados da moeda. No início de qualquer relacionamento, é claro que ambas as partes projetam um no outro os seus melhores sentimentos a fim de que, inclusive, o relacionamento dê certo. Com o passar do tempo, porém, às vezes parece que as coisas que antes eram boas se transformam exatamente no oposto.
Normalmente, o que se projetam no outro costumam ser os nossos ideais, nossas mais profundas carências, nossos desejos mais secretos. O grande problema é que a maioria não é autoconsciente nem da metade de tais desejos e ideais. Além de tudo isso, relacionamento a dois é campo fértil para que inclusive se projete no outro os aspectos mais sombrios e menos iluminados de cada um. Como consequência decretada, como dizem por aí, uma hora a casa cai, ou seja, tudo o que você menos gosta em si mesmo ficará evidenciado por meio de uma lente distorcida de realidade na pessoa da sua escolha afetiva. E o seu amor escolhido, este estranho que agora se apresenta a você, é e sempre será o seu pior inimigo enquanto você de algum modo temer reconhecer e transformar aspectos obscuros em si mesmo. O perigo insistirá em persegui-lo enquanto você não encarar frente a frente o seu pior inimigo, o seu aspecto de sombra.
Todos nós corremos risco de passar por experiências de vida passíveis de serem espelhos reversos das nossas raivas mais profundas, das nossas carências e insanidades. Exemplo, ao querer e mesmo entender que necessita ser amado mais do que tudo nessa vida, pode ser que lá na frente o seu parceiro o rejeite e, pior, espelhe na sua cara as suas maiores carências e complexos em relação ao tema…
Costumo contar para os meus pacientes um exemplo que, na verdade, também funciona como antídoto valioso para começar a busca de alvos internos e metas claras para transformação radical dentro deste assustador circuito de realidade: começo por perguntar se tem conhecimento de que algumas pessoas são passíveis de serem totalmente picadas por pernilongos, enquanto que outras podem estar junto no mesmo ambiente e não sofrer uma picada sequer.
Por que será que alguns são imunes e outros não?
Dizem que as pessoas imunes aos ataques dos pernilongos tem quantidade de vitaminas do complexo B que os fazem passar longe delas. Como analogia, o processo terapêutico vai pela mesma ordem, ajudando na imunização com uma espécie de complexo B emocional. No caso de passar por obsessão em destruir a vida do outro depois do término de uma relação, a consequência é mais danosa do que picadas de pernilongo. A proposta, portanto, é a do autoconhecimento e o da iluminação de aspectos antes não visíveis. Onde não existe presença, o terreno é fértil para toda sorte de depósito emocional que vem do outro.
O antídoto é o de ocupar a si mesmo de modo saudável tratando devidamente a urgência dos acontecimentos, com terapia competente, pontual e de alvo no que antes não teve condições e suporte para vir à tona.
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Preencher a si mesmo com o seu melhor significa se iluminar em segurança pessoal e autoestima alavancando mecanismos de sobrevivência maduros associados aos recursos que foram estruturados ao longo da vida. Não precisando projetar em nada e em ninguém o que falta, o que se odeia e muito menos o que se persegue. Entender definitiva e absolutamente que ninguém é – nem jamais será – muleta de ninguém. E, se acaso por algum tempo for, cuidado, tudo tem um preço e às vezes custa caro demais.
Passar por processo terapêutico, a meu ver é e sempre será um caminho especial de transformação e de transcendência posto que ajuda a iluminar do melhor modo a nossa vida em geral.
O antídoto: buscar rapidamente ferramentas para que a sua transformação pessoal ocorra e na sequência fazer acontecer. Estar imune e fortalecido para lidar com esse tipo de situação agressiva e se habilitar a ter competências para, se for o caso, tomar atitudes mais drásticas no sentido da autoproteção. O importante é agir com bom senso visando a sua saúde emocional.