Comportamento Convivendo Tecnologia

Por um mundo menos digital: da criança ao idoso, todos smart-dependentes

Imagem de várias pessoas engajadas em seus telefones celulares.
Cottonbro Studio / Pexels / Canva
Escrito por Márcia Leite

O celular mudou a vida de todos e se tornou indispensável. Na pandemia, idosos se adaptaram, e jovens passaram a usar telas em excesso, afetando saúde e relações. Leis agora limitam seu uso nas escolas. Você já refletiu sobre viver mais o presente, longe das telas?

E foi assim que um aparelho hoje tão pequeno conseguiu modificar tanto a vida das pessoas da mais tenra idade até os mais idosos, que romperam a barreira do analfabetismo digital.

A grande maioria dos seres humanos possuem um aparelho celular e usam, a princípio, como comunicação telefônica, muitos se utilizam das redes sociais para se comunicar, alguns, para vender seus produtos e serviços, para promover sua imagem pessoal; outros, usam para disseminar mentiras e causar confusão. Mas todos que têm uma mini máquina como esta estão, de certo modo, dependentes, como se fosse o cigarro juntamente com o café.

Nos tempos da pandemia, o mundo foi forçado a se comunicar de modo virtual, devido ao isolamento. Quem não tinha este acesso era identificado como excluído digital. Então, várias pessoas acima de 60 anos trataram de se adaptar para que sobrevivessem naquele momento de isolamento.

Diversos aprenderam a lidar com a tecnologia, baixaram aplicativos para suas transações bancárias, entenderam que a videochamada encurtaria muitas distâncias, seria possível obter informações das mais variadas – da receita de pão às pesquisas sobre a cura da doença do momento.

Os pais de crianças, adolescentes e jovens tiveram de buscar alternativas para manterem uma convivência menos tumultuada nos lares, entregaram aparelhos para seus filhos, primeiramente para poderem acompanhar as aulas online.

Adendo: estes eram os pais que tinham poder aquisitivo o suficiente para comprar aparelhos, que, mesmo usados, não têm preços muito fáceis de pagar, nem os chips, muito menos as contas pagas às operadoras.

Como consequência do uso de telas mais horas do que necessário, os filhos passaram a aproveitar os joguinhos oferecidos, e veio o sedentarismo e a obesidade; veio o isolamento e a dificuldade de inter-relacional; a residência virou uma bolha familiar, cheia de mini-bolhas.

As crianças de primeira infância (de 0 a 6 anos) também sofreram os efeitos da introdução do smartphone na vida de todos. Muitos pais, no desejo de manterem as crianças quietas, para que pudessem ter mais tempo e sossego para conversar, estudar ou trabalhar no estilo home office, colocaram nas mãos dessas pequenas pessoas, aparelhos que os deixassem entretidos por mais tempo, o que atingiu o seu objetivo primário, mas os tornou dependentes também da telinha. Chocalhos, cubinhos, bolinhas, bonequinhos se afastaram das sacolas dos pais nos passeios, já que o retângulo animado cabia no bolso.

Imagem de uma criança distraída usando o celular enquanto toma café da manhã.
Odua Images / Canva

Agora, está em vigor uma lei que proíbe o uso do celular nas escolas, só havendo exceção em caso de finalidades didáticas ou emergências. Professores e pais precisam lidar com o desmame e aproveitar a chance para estimular seus filhos a voltarem a praticar mais atividade física, ter mais contato com livros, conversar mais com amigos cara a cara, sem o celular como intermediário.

Adultos e idosos também podem embarcar nessa onda e entender que a tecnologia é muito boa, mas é importante saber quando ela deve ser utilizada e, em uma roda de amigos, talvez tirar algumas fotos, se se lembrarem. Às vezes, o bate-papo está tão bom que nem dá tempo de se recordar de registrar o momento.

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O excesso de exposição à luz do celular pode causar alguns problemas aos olhos, como ressecamento, porque as pessoas acabam piscando menos e pode haver outras enfermidades relacionadas a isso (EJZEMBAUM et al., 2023). Outra parte do corpo que tende a sofrer é a coluna, devido à posição em que os usuários mantêm a cabeça para mexer no aparelho (OLIVEIRA e PINHEIRO, 2024).

Passando da saúde física prejudicada, há também a questão da saúde mental, como mudança de comportamento, como ansiedade, depressão e práticas suicidas, e, também, problemas de cognição (PELLIZZER e DA SILVA, 2024).

Como provocação, deixo esta pergunta:

Você já parou para pensar que o mundo lá fora já é o suficiente agressivo e difícil, que fica mais fácil encontrar maneira mais suaves e coletivas para dedicar a sua vida com as pessoas que ama, ao invés de se manter isolado com os olhos grudados na tela de um aparelho que parece inofensivo, mas que tem trazido muitos problemas para as pessoas que se tornam dependentes dele?
Pense nisso!

Referências:

Ejzembaum, Fábio; Nakanami, Celia R.; Solé, Dirceu; Vasconcelos, Galton C.; Rossetto, Julia D. ; Silva, Luciana R. ; Hopker, Luisa M. ; Graziano, Rosa M. Uso de Telas e Repercussão sobre a Visão. Grupo de Trabalho Oftalmologia Pediátrica (Gestão 2022 – 2024). Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico. Brasil, 2023. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24005b-DC_Uso_de_telas_e_a_repercussao_sobre_a_visao.pdf. Acesso em: 22 fev. 2025.

Oliveira, Letícia Alexandrina de Sousa; Pinheiro, Yago Tavares. Associação Entre o Uso de Dispositivos Móveis e A Ocorrência da Síndrome de Text Neck. Artigo. Revista Interdisciplinar em Saúde. Cajazeiras, 2024. ISSN: 2358-7490. Disponível em:https://www.interdisciplinaremsaude.com.br/Volume_32/Trabalho_29_2024.pdf. Acesso em: 22 fev. 2025.

Pellizzer, Luiz Gaspar Machado; Da Silva, Suzyleia Terezinha Gomes de Matos. Como o uso excessivo do celular pode afetar a saúde mental de crianças e adolescentes: efeitos a curto e longo prazo. Artigo. Brazilian Journal of Health Review. Curitiba, 2024. ISSN: 2595-6825. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/download/73138/51188/180323. Acesso em: 22 fev. 2025.

Sobre o autor

Márcia Leite

Pós-graduada em Gestão Municipal, graduada em Farmácia e em Tecnologia em Comércio Exterior. Através de meu perfil multidisciplinar, busco instigar os leitores a entender que existem outras sabedorias e que é possível conviver pacificamente com todas elas, para atingir a paz coletiva e duradoura.