Ontem, num papo informal, ouvi que todo mundo deveria fazer terapia. E imediatamente (sem considerar para a discussão as diferentes abordagens e sistemas terapêuticos) questionei o que considero fundamental para um avanço nas resoluções dos conflitos: as possíveis motivações e o grau de disponibilidade interna de cada pessoa.
A motivação que costuma ser apresentada como “pano de frente” é o conflito da “superfície” (sem o pai da causa) e suas consequências, sobretudo o sofrimento por não encontrar uma solução. Como facilitadora de processo terapêutico, costumo testemunhar a necessidade de resolução das questões nos aspectos da fuga ou da cura milagrosa, do “quero me livrar disso que está insuportável” ou “bem, você é o profissional, estou aqui, diga-me o que fazer”. Veladas ou não, pode haver uma postura de passividade do cliente ou paciente cujo primeiro chamado por ajuda acontece.
E o que pode estar por detrás dessa postura inicial?
Crenças
Os sistemas de crenças são conjunto de valores. É por meio deles que formamos a nossa percepção do mundo e de nós mesmos. E a partir dessas percepções desenvolvemos nossos comportamentos. Assim, e sem qualquer intenção de limitar outros pontos de vista e experiências referentes ao tema, tocaremos nessas condições e ampliaremos despretensiosamente nosso olhar para isso.
Vamos considerar a existência de um sistema de crenças criado a partir de experiências (inclusive de antepassados que não conhecemos) e de informações em geral assimiladas diariamente pelas pessoas, constituindo num âmbito maior, a cultura. É a partir desse sistema de crenças que formamos nossa percepção do mundo e desenvolveremos nossos comportamentos.
Entre essas crenças existem aquelas que nos comovem a atribuir a terceiros a responsabilidade por atos e fatos que trazem consequências para as nossas vidas, suprimindo nosso poder de decisão. Transferimos essa condição de poder intrínseca ao externo que irá “cuidar de nós”, seja na esfera política, religiosa, educacional, científica, entre outras. E acreditamos que as coisas são do jeito que são e não vão mudar.
Diante disso, podemos encontrar facilmente valores subjacentes que moldam nossos comportamentos, tais como:
É culpa dos políticos; é culpa de quem votou.
Deus sabe o que faz; Deus quis assim; É a escolha de Deus.
Quem não faz faculdade não será alguém na vida.
Só serei respeitado se eu tiver muito dinheiro; dinheiro é poder.
Um bom funcionário é aquele que veste a camisa da empresa.
É com muita ralação nesta vida que se consegue alguma coisa.
Eu não posso fazer nada, não sou ninguém importante.
Em resumo: transferimos o poder às pessoas, aos títulos, às instituições, ao dinheiro e aos sistemas de crenças que beneficiam poucos, acreditando que não somos capazes de sermos agentes transformadores, pois “eles estão ali para cuidar de tudo isso” e aceitaremos as regras julgando como aprendemos a enxergar. E já que não assumimos o nosso poder, reclamamos e ou aguardamos as nossas “orações” – carregadas de vitimismo, e talvez um tanto de julgamento – serem atendidas. Deste modo permanecemos na superfície e nos isentamos, sustentando as limitações das potencialidades criativas e expansivas.
Sem culpas, sem desculpas. Responsabilidade é poder
Responda: a palavra responsabilidade promove ou evoca em você certo desconforto? Como assumir algo ou alguma coisa com pesar? Então, particularmente é assim para mim e estou certa de que para muitas pessoas. Quantas vezes ouvimos ao longo de nossas vidas: “Se acontecer alguma coisa a culpa é sua, você é o responsável”, mas sempre no sentido negativo da experiência e não no sentido positivo da aprendizagem. Ok, o estrago já foi feito. Está na hora de o desfazermos, pois mesmo que leve tempo é preciso reformular esse conceito e sentir a responsabilidade como forma de poder, aquele que se manifesta pela automaestria.
Quando “bancamos” as nossas escolhas e o que nos cabe, estamos reconhecendo que somos co-criadores, agentes, autores, prontos para questionar, para fazer diferente e nos autotransformar. Nessa etapa, não se trata mais de desempenharmos papeis de vítimas, nem dos nossos auto – julgamentos carregadíssimos de crenças negativas a respeito de nós mesmos.
Vale lembrar que as ideias expressas aqui não propõem uma fórmula acabada. Ao contrário, pede busca, prática, desapego, perdão de si e dos outros, desconstrução de muitos valores limitantes e amor por si mesmo. E, pelas minhas experiências, “algumas” possíveis dores (enquanto nos desiludimos, no melhor sentido da palavra).
Então, fazer terapia passivamente não resolve as limitações de ninguém, porque quem necessita assumir a responsabilidade e poder sobre si próprio é o próprio interessado na mudança. É preciso reconhecer que o trabalho terapêutico mais eficaz é aquele feito em parceria: cliente-terapeuta. E que após terminar a sessão ou o tratamento, quem terá de dar conta do restante é o próprio cliente. Indo além: a responsabilidade da “boa” ou “má” escolha do profissional também é exclusiva de quem buscou por ajuda. E se acreditar ou sentir que não “acertou” na escolha, não há nada de errado nisso, porque não há culpa. O que há são experiências e possibilidades de aprendizagens. E o que você fará com tudo isso? Continuará a julgar ou irá se valer do aperfeiçoamento de suas percepções?
Creio que a predisposição interna do cliente abre espaço à eficácia das ferramentas que as terapias oferecem. É fundamental a postura de se colocar disponível, atento, consciente. E essa condição aliada à ação é crucial, porque o potencial liberado somado à atitude gerará resultado.
Quando a terapia “não funciona”
E quando você aparentemente “fez de tudo” e ainda não reconheceu qualquer avanço?
Atenção: eu disse “reconheceu qualquer avanço”, porque muitas pessoas estão num estado de fantasia (em busca de imagens idealizadas de seus desejos), enquanto outras, são tão severas consigo mesmas (alto nível de exigência pessoal/perfeccionismo) que não reconhecem as suas conquistas, superações e melhorias.
Também é muito importante incluir a seguinte consideração:
O que for visto como um problema intransponível (e que tem-se mantido por algum tempo mesmo com os esforços ou dedicação aplicados), poderá levar a um grau de maestria a ser reconhecido mais à frente; como uma limitação incômoda, sofrida, que conduzirá o cliente a outras conquistas mais importantes e inimagináveis, naquele momento. Então, um problema pode estar disfarçado inteligentemente como oportunidade de aprender uma lição da vida importante.
E para finalizar…
A terapia ainda pode funcionar pelo simples fato de não funcionar, promovendo a busca constante e fervorosa por respostas e verdades e um trajeto igualmente importante tanto quanto chegar a seu destino.
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Fórmula? Não existe apenas uma e, além disso, você ainda pode criar a sua!
Mas eu diria a você… Busque, estimule o resgate do seu poder, ame-se, aprimore o discernimento e deixe ir a passividade e o julgamento. Procure dar espaço para novas crenças potencializadoras de sua própria transformação positiva. Mas lembre-se: explore possibilidades, novas experiências, parta para a ação, aos novos movimentos e se refaça no caminho, aquele que você escolheu e decidiu seguir.
O caminho, quem escolhe e realiza, é você.
Até a próxima!