Precisamos de silêncio… Com a massificação indiscriminada das redes sociais, como torrentes de lama de rejeito de minérios engolindo pedaços de chão, nos interiores de um Brasil largado e desprezado, o que já era compulsivo virou regra geral: todo mundo fala e fala, de tudo e de nada, para todos e para ninguém, em convulsões maniqueístas e dicotômicas, que apenas nos deixam com a sensação de ser mais sábios que os animais irracionais sobre a Terra… Que não falam, no máximo soltam uns berros e olhe lá!
Precisamos de silêncio!
Como se houvesse cruel maldição sobre a humanidade, condenando-a a mais que ensaios sobre a cegueira, chegando ao acachapante selo de mudez para sempre, eis que há um derramar de achômetros e suas perdições acessórias sobre tudo o que possa, para o Bem e para o Mal, em todas as redes sociais.
São opiniões que nada explicam e ideias que vazam para os canais do esquecimento imediato, mas fala-se de tudo, mostra-se opinião para tudo, condena-se tudo o que não seja espelho, em um narcisismo enlouquecido e – oh glória! – chegou-se ao requinte de cada mortal poder montar e divulgar a sua própria rádio e produtora de vídeos. Isso é bom e péssimo ao mesmo tempo.
Precisamos de silêncio, daqueles que permitam ouvir o suave bater do coração da pessoa de quem seja vital sentir a proximidade íntima, um silêncio que abre as portas para o mundo dos leves gemidos e das variações da musicalidade da respiração que brinca de vento de relva nas emoções, silêncio que se espraia no pedacinho de tempo de um tiquinho só antes do sono que protege e alimenta.
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Precisamos de silêncio para ouvir o silêncio do outro e entender o porquê silencia! Será que teria optado por calar-se porque maior seria a dor do manifestar? Quem sabe o silêncio do outro é a catedral em que se refugia para orar? Ou – maravilha! – o silêncio do outro seria a paz de que necessita para usufruir o silêncio que ouve naquele(a) cuja mão a gente segura para que um vento mais assanhado não o(a) leve consigo para as alturas, movido por pura inveja?
Enquanto não tenho respostas para essas intrincadas questões, fico em silêncio e aperto a mão que seguro.