Existe uma coisa que me deixa inquieto quase todos os dias da minha vida. Digo quase todos, porque, em alguns dias, prefiro comer a pensar em questões existencialistas. Esta coisa se chama criança (junto ao papai e à mamãe).
Como é o que me deixa de fato inquieto, eu resolvi falar disso neste meu texto inaugural aqui no Eu Sem Fronteiras. Desta maneira, você que me lê já entende – de cara – do que eu falo e penso.
Criança me deixa inquieto, mas não falo de criança sozinha. Só fico inquieto quando vejo criança perto de adulto, criança sozinha é bicho esperto. Sabe o que faz, como faz e a melhor maneira de fazer. A gente quando cresce fica bobo, desnorteia a cabeça e só vira adulto quando, com certeza, substituímos boa parte das sinapses por ganância.
O ruim é que bicho adulto acha que sabe das coisas e acha que sabe mais que criança. E a criança, sem ter – infelizmente – muita voz dentro das discussões, se cala diante um adulto. É aí que a gente erra.
A gente erra achando que adulto sabe muito e criança não sabe de nada.
Erramos feio.
A gente erra quando passa a vigiar todos os passos da criança, erramos quando criamos o conceito de que a criança deve ser feliz sempre, não se machucar nunca, sentir tudo o que há de bom e se blindar das maldades da vida. A gente constrói uma bolha, coloca a criança dentro e achamos que estamos fazendo um bom trabalho. Erro!
A gente tem que parar de proteger criança, parar de ofertar só felicidade, deixar a criança se machucar e vê-la, sozinha, se recuperar das feridas. Tirar a casquinha, cicatrizar novamente e assim aprender. Adulto é um bicho tão besta que vive para o ontem e acumula para o hoje. Só esquece do amanhã.
Não se esqueçam, adultos, a gente nunca sabe se existirá o amanhã.
É preciso atentar-se à morte e não ter medo dela. Saber que nosso destino será, inevitavelmente, cair em suas mãos.
Quero dizer que, um dia, a gente morre e, quando a gente morre, tudo aquilo que nós privamos às crianças de aprender e sofrer – só para nunca vê-las infelizes – vai ser cobrado em dobro.
É um cordão umbilical que nunca é cortado.
Eu sou gestor de um colégio e o que mais me dói é ver um monte de mães e pais superprotegendo as crianças. Se a criança cai, a mamãe chora; se a criança perde uma competição, o papai esperneia; se a criança quer, a mamãe compra; se a criança nega, o papai emburra. E aí a criança vai crescendo e achando que o mundo é só alegria e que a bolha em que ela vive é real.
Pobrezinha, um dia ainda vai ver o que é real e como o real não é só cor de rosa. Machuca às vezes.
A gente tem que carregar na cabeça a ideia de que não dá para proteger ninguém o resto da vida. Porque um dia a gente morre e a bolha estoura.
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Se você quer, de alguma maneira, a felicidade eterna para seu filho, esqueça. Isso não existe. O que sugiro é: veja-o sofrer, mas ensine-o resiliência, a como curar a dor que a vida oferece. Vai ter felicidade também, ensine-o a aproveitar. A melhor maneira de criarmos uma criança feliz é permitindo-a ser infeliz.
A dor faz parte da vida. Aceite isso como um verdadeiro conselho e deixe seu filho sofrer, nem que isso doa em você.