Caros amigos,
Há alguns anos eu visitei um presídio desativado em Ushuaia, na Argentina. Isso mesmo, lá no fim do mundo.
A noite caiu cedo e por volta das 17 horas me vi sozinho em uma antiga ala não restaurada. Um corredor cheio de celas velhas e assustadoras. Tudo mergulhado em uma escuridão apavorante. Muito frio. Muito silêncio.
E foi então que eu aprendi. E é isto que quero dividir com você, nobre amigo:
“Deixamos de ter pesadelos quando passamos a enxergar o escuro”.
Veja, ou melhor, entenda: não é enxergarmos “no” escuro e sim “o” escuro.
Entrei em uma cela e fechei a pesada porta de madeira maciça. Lá dentro, respirei fundo e percebi que aquele espaço escuro era para mim. Me pertencia. E eu a ele. Não havia mais ninguém lá. Quem quer que fosse seu antigo locatário já havia saído de lá há muito tempo.
Me desliguei de qualquer energia ruim ou negativa do local e me liguei apenas em mim.
E senti que aquele escuro era o meu escuro. Minhas sombras, meus medos e minhas ansiedades.
Meu descontrole.
Continuei respirando fundo, fechei os olhos e pensei:
“O que de pior pode me acontecer agora?”.
Assumi o risco, abri os olhos e o que aconteceu? Apenas escuridão. Nada mais. Isto é o pior? Ou o melhor?
É o que é! E pude sentir uma paz ali dentro que raramente sinto.
Esta paz você também pode sentir aí dentro. Basta ver a sua sombra, a sua própria escuridão. Só a veja. E sinta que é apenas uma parte de você. Não tente acender logo a luz. Não há interruptores no escuro.
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Bem, meu querido, continuo até os dias de hoje a processar os meus aprendizados, mas quanto mais eu entro em paz com o meu lado escuro, mais claro tudo fica para mim.
Isso faz sentido para você? Aceitar ver e entender suas sombras? Não? Tudo bem, muitas vezes para mim também não faz o menor sentido! O quê?
Você quer saber o que eu fiz logo depois desta passagem mística pelo pavilhão desativado do presídio? Oras, passei na lojinha do presídio, é lógico!
Um beijo sem trancas e travas a todos vocês.