Esta semana comemoro os 35 anos de separação de meus pais. Ah, vamos incluir nas festividades os 8 anos da falência de minha loja, que carrego comigo a cada manhã em que abro os olhos. O quê? Você não acha um bom motivo para se comemorar? Sentiu certo ar de rancor ou de sarcasmo?
Veja bem, entra ano e sai ano, entra uma nova terapia e sai a tal terapia, entra curso e sai curso e eu ainda carrego um monte de lembranças de situações que me geram mágoa, raiva e um lote de outros sentimentos angustiantes em meu peito.
É verdade que tais angústias diminuíram ao longo do tempo, mas volta e meia ressurgem para me assombrar. E haja assombração dentro de mim!
Mas tudo isto veio à tona graças a uma percepção que quero compartilhar hoje com você.
Conversando com uma amiga no auge de seus 65 anos de idade, ela lembrou-se de quando passou no vestibular da USP, em meados dos anos de 1960.
Me contou como seus pais nunca a valorizavam (eu sei, eu sei, tudo é culpa dos pais…) e somente quando ela entrou na faculdade é que eles ficaram felizes e quiseram dar uma festa para comemorar.
“NÃO!” bradou a colega, com tanta ênfase enquanto narrava sua história que todos os que estavam à nossa volta no café voltaram seus olhos em nossa direção, imaginando qual deveria ser o grau de indecência que eu havia proposto a ela.
“Agora eu não quero festa nenhuma!” orgulhou-se ao recordar. Mas foi aí que algo mágico aconteceu. Pude ver claramente a energia da raiva e do ressentimento estampadas em seu rosto e em suas palavras.
E isto foi há 50 anos! Já podemos comemorar as BODAS DE OURO desta raiva! Uau!
Esta festa eu não posso perder! E você, querido amigo enraivecido?
Quais são suas raivas? Nenhuma! Ora, lembre-se de algum fato antigo e veja como se sente.
Calma, não quero que eu ou você venhamos a virar monges tibetanos com controle total e absoluto das emoções. Podemos nos lembrar de fatos desagradáveis e ficarmos incomodados, é claro, porém, quando nos lembramos de algo ruim e damos uma boa risada disso, é sinal de que a energia ruim já se dissipou.
Ouvir a história dela e ver a insanidade de tudo isto me fez despertar para o fato de que eu também estou levando em minha bagagem de vida muita tranqueira e pesos inúteis que, por vezes, me fazem parar na vida ou querer largar coisas boas que me aparecem.
O que importa não é o fato em si, mas sim a historinha com a qual nos identificamos.
Portanto, minha proposta desta semana é o seguinte exercício de percepção:
O que você leva dentro de si que dá para comemorarmos ainda nos dias de hoje?
E o mais importante: o que você acha que não precisa mais levar consigo, que não mereça tanta festa ou atenção assim?
Perceber isto já é o primeiro passo para largar o passado, seja ele qual for.
Este é um exercício de desapego.
Desapego das histórias que justificam o presente e as dores às quais levamos. Exercitar isto é sair da zona de conforto, que volta e meia nos é tão desconfortável, à medida que revivemos as histórias que acreditamos serem ruins e que tanto nos angustiam.
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Fico por aqui e quem sabe podemos dar adeus a tantas e tantas bodas que ainda estão para serem celebradas!
Um grande beijo no coração.