De todas as Américas, o Brasil é o segundo país com o maior número de casos de depressão. São aproximadamente 12 milhões de pessoas depressivas, o que equivale a 5,8% da população.
Apesar dos números preocupantes, muitas vezes, a depressão é encarada como falta de vontade, frescura e até preguiça. Porém a indisposição causada pelo transtorno nada tem a ver com a sensação de preguiça ao sair da cama em um dia chuvoso, por exemplo. Na verdade, são coisas bem diferentes. Entenda por quê neste artigo.
Direto ao ponto
O que é depressão?
A depressão é uma doença psiquiátrica que provoca alterações do humor, geralmente marcada por uma tristeza intensa associada a vários outros sentimentos negativos. Apesar de poder ser desencadeada por situações traumáticas, ela não se refere à dor passageira causada por acontecimentos difíceis e pode até exigir o uso de medicamentos.
Cada caso é individual, mas existem alguns tipos de depressão que ajudam os psiquiatras a definirem a linha de tratamento, como a sazonal, distímica, atípica, psicótica, mista ou melancólica.
A depressão maior, a mais comum e prevalente entre os pacientes, é classificada em três graus ou fases diferentes: leve, moderada e grave. Na primeira, os sintomas são poucos e menos preocupantes, mas vão aumentando até se tornarem incapacitantes na última.
Por isso, apesar de poderem ser confundidas no início, depressão não é sinônimo de preguiça, como veremos a seguir.
O que é preguiça?
A preguiça é um estado de espírito que causa muito sono ou cansaço e dificulta a realização das tarefas do dia a dia. É aquele sentimento ao termos que levantar do sofá para ir lavar a louça, por exemplo. Uma indisposição que acaba levando ao atraso ou demora em cumprir as missões do cotidiano.
Apesar de socialmente ser considerada um defeito, ela pode até ser boa, ajudando a rever o ritmo com que temos levado a vida. É uma forma de o corpo pedir descanso quando as coisas estão muito aceleradas.
Para o psicólogo Paulo Emílio Pessoa Lustosa Cabral, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, existem três significados atribuídos à preguiça. A preguiça heroica, que relaciona o ócio ao trabalho e à criatividade; a preguiça onírica, associada aos extremos do “fazer nada”; e a preguiça-tristeza, esta, sim, ligada à depressão e outros quadros.
Nessa última, a preguiça surge como uma melancolia que impede que a pessoa foque qualquer objetivo. Mas, ainda que isso também aconteça em pessoas depressivas, o transtorno vai muito além. Continue lendo para entender como ela se manifesta.
Quais são os sinais de depressão?
Os primeiros sinais da depressão são a tristeza profunda, durante boa parte do tempo e que se prolonga por vários dias, bem como a perda de interesse em atividades que antes davam prazer.
Porém ela também pode afetar outras áreas do corpo, levando a alterações de peso (ganho ou perda), problemas com o sono (insônia ou sonolência excessiva), cansaço frequente, culpa exagerada, dificuldade para se concentrar, pensamentos suicidas ou ligados à morte, baixa autoestima, oscilações no desejo sexual e problemas psicomotores, como agitação ou apatia.
É, inclusive, dessa apatia que surge a associação da depressão à preguiça. Por esse motivo, no início, pode ser muito difícil para o próprio paciente identificar que está passando por isso.
Além de acontecimentos traumáticos, como dissemos no início do artigo, o que leva uma pessoa à depressão são certas doenças sistêmicas, como o hipertireoidismo, o consumo de drogas lícitas ou não e o uso constante de alguns tipos de medicamentos. Fatores genéticos também podem ter influência, causando maior predisposição a desenvolver o transtorno.
Dessa forma, se um desses fatores estiver presente em sua vida, preste atenção aos sinais. Abaixo, vamos começar a entender as diferenças entre a preguiça inofensiva e a depressão.
Como saber se é preguiça?
A preguiça geralmente surge por uma motivação aparente, que desafia a condição de inércia do ser humano. Depois de um fim de semana, a pessoa fica sem vontade de retomar o trabalho. Depois de muito tempo sedentária, ela não se sente disposta a começar a praticar exercícios físicos. O que provoca a preguiça é ter que realizar um esforço físico ou mental, na maioria das vezes, indesejado.
Já a depressão, por alterar a forma como encaramos a vida, expande essa indisposição até para as coisas que um dia já desejamos. Entenda mais sobre essa relação, a seguir.
A depressão pode deixar uma pessoa preguiçosa?
A verdade é que, sim, a depressão pode deixar uma pessoa preguiçosa. Mas não necessariamente de forma consciente ou fácil de corrigir. Como o transtorno interfere no entendimento dos sentimentos, as tarefas legais ficam indiferentes; as indiferentes, difíceis de tolerar; e as ruins, intoleráveis.
Quando o paciente demora para fazer uma tarefa simples do dia a dia, como tomar banho, por exemplo, ele tem a consciência de que não está no seu ritmo ideal, mas não tem a energia necessária para realizá-la. Vai muito além de uma simples “falta de vontade”. Nessa hora, inclusive, os julgamentos mais atrapalham do que ajudam.
O contrário, porém, é mais difícil. Veja abaixo.
E a preguiça, pode tornar uma pessoa depressiva?
Não. A preguiça em si não é uma patologia e é até esperada que aconteça em alguns momentos da nossa rotina. Como vimos, ela pode ser passageira ou se manifestar como o sintoma de um transtorno. Além da depressão, a preguiça pode ser sinal de narcolepsia, (excesso de sono), síndrome da fadiga crônica ou até problemas como obesidade e doenças do coração, os quais exigem esforços maiores na realização de tarefas simples.
Afinal, quais são as diferenças mais marcantes entre elas?
Então vamos revisar: enquanto a preguiça surge em sair da inércia para fazer alguma atividade indesejada, a depressão torna todas as tarefas indesejáveis, causando, em alguns casos, a preguiça – que nada mais é do que a falta de motivação e energia.
A preguiça pode surgir ligada ao cansaço por uma noite maldormida ou ao excesso de coisas para fazer no trabalho, sendo passageira e sem impactos graves na vida social ou profissional da pessoa.
Já a depressão é mais insistente, durando um longo período, interferindo na qualidade de vida e sendo acompanhada de outros sintomas, como a sensação de vazio, tristeza, apatia e alterações de humor. Acompanhe e descubra o que fazer se suspeitar que está com um quadro depressivo.
Depressão é doença e tem cura!
Quando esse estado de melancolia e perda de interesse ultrapassam duas semanas, especialmente se acompanhados dos demais sintomas, é hora de ligar o sinal de alerta. Não acredite nos preconceitos da sociedade de que é só frescura ou “mimimi”. Na dúvida, procure um psicólogo qualificado e converse sobre o que está sentindo.
Você também pode gostar
Uma vez diagnosticada, a depressão exige acompanhamento médico. Nos graus mais leves, a psicoterapia, mais conhecida como terapia, é capaz de render bons resultados. Já os mais graves podem exigir antidepressivos, os quais são prescritos apenas depois da avaliação de um psiquiatra. É ele quem vai orientar o melhor uso para evitar a dependência e medir os prós e os contras dos efeitos colaterais.
A associação da preguiça à depressão não passa de uma forma de menosprezar os sinais de um transtorno que atinge milhares de pessoas diariamente. Não caia nesse papo, procure informações sobre a doença. Depressão não é brincadeira. Ela é real, é uma doença e deve ser tratada com dedicação como qualquer outra. Não tenha vergonha de pedir ajuda.