Embora o Dia das Crianças seja uma data aguardada durante o ano todo, existe um outro dia especial para pensar sobre a infância e para refletir sobre a forma de criar os filhos.
O Dia Mundial da Infância, celebrado anualmente em 21 de março, foi criado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com o objetivo de conscientizar as famílias e os governos mundiais sobre a necessidade de educar corretamente as crianças.
Sendo assim, o Dia Mundial da Infância não deve ser celebrado com presentes para os filhos e para as filhas, mas com análises e reflexões sobre a educação, o lazer e a formação social das crianças.
Dois dos pilares fundamentais da infância são a construção de relações com outras pessoas e o exercício da imaginação. É por meio dessas duas atividades que uma criança desenvolve a empatia, o ato de ouvir, as descobertas sobre o mundo, as histórias que desejam contar e as sensações que vão acumular ao longo da vida.
Esses processos podem ser norteados e incentivados por um ato simples, e muitas vezes subestimado: brincar. De acordo com Marcia Nanaka, especialista em educação infantil, é a partir das brincadeiras, sobretudo aquelas em grupo ou em família, que uma criança aprende a respeitar os outros, a definir limites e a sentir o espaço.
Além disso, as brincadeiras são essenciais para aprimorar a fala e a coordenação motora, para que a criança desenvolva a tomada de decisões e aprenda a lidar com derrota, frustração, competitividade e vitória.
Não são só os profissionais em educação infantil que recomendem a inclusão das brincadeiras na rotina de uma criança. A pesquisa Valor do Brincar Livre, promovida pela marca OMO, em 2016, revelou que, em dez países, 98% das famílias entrevistadas usam brincadeiras no processo de educação dos filhos.
Cerca de 94% das famílias brasileiras ouvidas pela pesquisa acreditam que, sem a possibilidade de brincar, as crianças podem ter o aprendizado comprometido. Mas será que as crianças estão, de fato, brincando? Ou estão se rendendo a outros estímulos?
Tudo sobre brincadeira na infância
Quais são as ameaças?
A pesquisa Valor do Brincar Livre revela que, ainda que as famílias de dez países do mundo reconheçam a importância da brincadeira na formação de uma criança, mais de 80% dos pequenos se divertem por menos tempo do que o mínimo necessário para desenvolver todas as habilidades.
Os familiares reconhecem o problema: 87% deles acreditam que as crianças precisam de mais tempo para brincar. Os obstáculos para isso estão em dois fatores principais: tempo e espaço. Entre os entrevistados, 48% dos familiares não têm tempo para brincar com os filhos e 40% não encontram um lugar seguro e adequado para deixar as crianças se divertindo.
Com isso, surge um novo problema. A facilidade e a comodidade das telas (televisão, computador, tablet e celular) limitam as brincadeiras durante a infância. Os dados ainda apontam que 21% das crianças passam todo o tempo livre de frente para a televisão e que 89% dos familiares brasileiros afirmam que os filhos preferem esportes virtuais aos que podem praticar na vida real.
Em contrapartida, para 85% das famílias as crianças são mais criativas quando não usam a tecnologia. Isso não significa que as telas são proibidas para os pequenos, mas que é preciso controlar o tempo de uso desse recurso. O que mais as famílias podem fazer contra a limitação do brincar?
Qual é o papel da família?
Com uma rotina exaustiva de trabalho, chegar em casa e ainda ter que brincar com o(s) filho(s) pode ser desafiador. O uso das telas, que não exigem um acompanhamento direto da criança, é tentador. Parece ser a forma mais fácil e rápida de controlar o filho, mas as consequências podem ser desastrosas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os bebês de até um ano de idade sequer devem ter contato com telas. Para as outras idades, até os cinco anos, é recomendado que a criança dedique mais tempo a outras atividades: praticar esportes, descansar, brincar e conversar.
Deixar o filho brincar com os amigos, por exemplo, é uma solução para as famílias que não têm tempo para divertir as crianças. É uma forma de estimular a interação entre elas, exercitar a fala, o respeito e a empatia. Com a supervisão de uma pessoa adulta, as crianças serão capazes de brincar sem perigo.
Outra possibilidade é estimular a criança a desenhar, a ler, a se exercitar ou até a ajudar nas tarefas de casa. É claro que uma pessoa não deve colocar o filho para limpar um banheiro, por exemplo, mas ele pode ajudar na hora de arrumar a cama ou guardar os brinquedos.
Para as crianças, até a mais simples tarefa pode ser transformada em brincadeira. O ato de comer, de tomar banho, de se vestir… tudo isso pode adquirir novas características com um pouco de imaginação. Estimular a invenção é uma forma eficaz de criar uma brincadeira que não será desgastante.
As palavras-chave para as famílias são: supervisão, controle e paciência. A supervisão é importante para que as crianças brinquem com segurança e não recorram às telas. O controle é essencial para que os filhos aprendam limites e regras sobre as atividades, mesmo para aquelas que forem inventadas por eles. E a paciência é um fator essencial para que as crianças tenham o direito de errar e de aprender com os erros.
O brincar para cada idade
Tendo compreendido a importância de realizar brincadeiras, a família deve aprender quais são as atividades recomendadas para cada fase da criança. Confira cada uma delas e aplique com os pequenos!
1) Para os 2 anos de idade
Nessa idade, os melhores brinquedos são os que envolvem: audição (instrumentos musicais), tato (massa de modelar, desenho e pintura), atividade física (passeios ao parque, brinquedos de puxar ou de empurrar) e contação de histórias.
2) Para os 3 anos de idade
Os brinquedos que estimulam o tato ainda são válidos para essa idade. As novidades são o estímulo ao raciocínio, com quebra-cabeças simples, brinquedos de montar e atividades que envolvem a criação de personagens ou de cenários.
3) Para os 4 anos de idade
As atividades físicas devem ganhar um estímulo especial nessa fase. Pular corda, correr, se balançar e escorregar por um escorregador são atividades essenciais. O desenho e a pintura não devem ser abandonados, assim como os brinquedos de montar.
4) Para os 5 anos de idade
Brincadeiras mais complexas, como amarelinha, esconde-esconde e ciranda devem ser aprendidas e praticadas nessa idade. É quando a criança estará preparada para conviver com outras pessoas e poderá criar as próprias dinâmicas de brincadeira.
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5) Dos 6 aos 10 anos de idade
Na última fase antes da pré-adolescência, as crianças podem continuar brincando com tudo o que já aprenderam a usar antes, mas trazendo alguma sofisticação para as brincadeiras e para os brinquedos. Quebra-cabeças mais complexos e desenhos com uso de novos materiais são boas sugestões.