Depois do Carnaval, que é uma festa expansiva, a próxima celebração emblemática, introspectiva e muito aguardada é a Páscoa. Aliás, as duas estão muito conectadas, pois quando a primeira festividade termina na terça-feira, o período pascal já começa na Quarta-Feira de Cinzas, quando se inicia a Quaresma, com jejuns, orações e penitências, considerando a tradição cristã.
A Quaresma termina com a Semana Santa, na quinta-feira, quando há a cerimônia do Lava-pés. Na data também é lembrada a Última Ceia de Jesus Cristo com os apóstolos, quando da revelação d’Ele sobre os fatos que viriam a seguir e terminariam na Sua morte. Já a chamada Sexta-Feira Santa relembra a crucificação e a morte d’Ele, determinando assim o chamado Tríduo Pascal. É no domingo que se celebra a Páscoa, quando de Sua ressurreição.
Contudo esse entendimento parece ir se perdendo e prevalece a alegria por dar e receber ovos de chocolate e similares, que, nos tempos atuais, vem ganhando força também devido à criatividade das indústrias em produzir guloseimas cada vez mais atraentes. Sendo assim, é necessário resgatar a verdadeira importância da Páscoa. Então, com este texto, reflita sobre a data!
Direto ao ponto
O que significa Páscoa?
A palavra “Páscoa”, para nós, veio por meio do latim “pascha” e de seus adjetivos “pascal” e “pascoal”. Mas ela, por sua vez, teve como base o termo hebraico “pessach”, que significa “passagem”. Esse termo tem origem no grego “páskha” e no aramaico “PasHâ”. Ela é bastante antiga e, ao longo das épocas, foi ganhando significados diferentes.
A Páscoa era uma festa campestre, conhecida como Festa da Lua, pois se acreditava que esse satélite regulava a natureza, a fertilidade da terra, animal e humana, sendo o símbolo de renovação da vida. Os camponeses a celebravam no equinócio da primavera no Hemisfério Norte, no mês de março. Durante o período, comer carne de cordeiro era comum na comemoração. Era celebrada pelo povo hebreu, antes da noite em que ele foi libertado da escravidão no Egito, quando passou a ter o sentido conhecido atualmente como “passagem” e que foi incorporado com outra interpretação pelo cristianismo.
Ainda que haja elementos da celebração do equinócio da primavera, a espiritualidade é o ponto marcante no significado dessa que é uma das principais festas litúrgicas. Libertação, renascimento, arrependimento, perdão, comunhão e caridade são os aspectos que caracterizam esse período. Todos, de alguma forma, conectam-se ao divino e celebram a vida. Então, a partir daqui, entenda especificamente, o significado e a importância da Páscoa.
A Páscoa como libertação
No judaísmo, a verdadeira importância da Páscoa está em relembrar e celebrar a libertação do povo judeu da escravidão no Egito e reafirmar a liberdade e a independência divina da nação de Israel.
Há cerca de 3.500 anos, os hebreus foram libertados da escravidão a que estavam sujeitos no Egito governado por Ramsés II. Moisés, criado na corte do faraó, pediu a ele que libertasse os hebreus sob seu domínio, pois desejava cumprir a missão de levá-los a Canaã, a Terra Prometida.
Contudo os hebreus trabalhavam nas construções faraônicas, na agricultura, na pecuária e em todo tipo de tarefa no Egito, recebendo ínfimo ou nenhum pagamento. Logo, o faraó negou o pedido. Com o objetivo de abrandar o coração dele, foram enviadas por Deus nove pragas. Mas ele não se deixou convencer, até porque ele próprio se via como uma divindade. Foi somente com a décima praga, conhecida como a “passagem do anjo exterminador” sobre as casas do Egito, com a morte dos primogênitos, que ele então ordenou a Moisés que saísse de lá com o povo hebreu. Nesse ponto, o faraó já havia perdido o seu primeiro filho como resultado dessa praga.
A Páscoa como renascimento
A maior parte das religiões com fundamentos no cristianismo entende que a verdadeira importância da Páscoa reside na compreensão do que representa a ressurreição de Jesus Cristo, três dias após a Sua morte por crucificação. Nesse contexto, a palavra “Páscoa” e o sentido de passagem são relevantes para trazer ao entendimento a ressurreição como passagem da morte para a vida eterna e que o espírito tem primazia sobre a matéria.
Jesus Cristo foi um grande líder espiritual, que conquistou seguidores durante a vida pregando os ensinamentos de Deus. Quando Ele e seus discípulos chegaram a Jerusalém, num período de Páscoa judaica, Ele lavou os pés de mendigos, em sinal de humildade e benevolência. Teve a Última Ceia, tradicional Sêter, no qual bebeu vinho e comeu pão, ambos não fermentados. Durante esse evento, Ele informou os apóstolos sobre o Seu destino. Era uma quinta-feira. Jesus Cristo veio à Terra com um propósito e o concretizou voluntariamente em benefício da humanidade, que conquistou uma nova oportunidade para se redimir, mudar e renascer.
Na sexta-feira que se seguiu, Ele foi julgado e injustamente sentenciado à morte por crucificação (uma das mais humilhantes e dolorosas de que se tem notícia). Torturado e humilhado, Jesus Cristo foi crucificado e, ao contrário de ter o corpo deixado na cruz depois de morto, ele foi sepultado. Depois de ter descido até o reino dos mortos, Ele ressuscitou no terceiro dia (Domingo de Páscoa) e anunciou a sua condição durante os seguintes 40 dias. Depois, ascendeu aos céus e lá permanece vivo, em espírito.
Com base nisso, a verdadeira importância da Páscoa é a transformação, o renascimento para uma nova oportunidade, para ter esperança e para cuidar da espiritualidade, pois ela é a parte da vida, definitivamente eterna. Também é o momento para agradecer o sacrifício de Jesus Cristo e seguir o Seu exemplo de benevolência.
A Páscoa como fertilidade
Antes mesmo do sentido religioso da Páscoa, a data era conhecida e celebrada com importância à fertilidade, ao amor e ao renascimento, dando base às mitologias anglo-saxã, nórdica e germânica, de onde vêm os termos “Easter” (inglês) e “Ostern” (alemão). Assim, povos antigos, que atribuíam a abundância da vida e o sucesso da colheita à deusa Ostera, celebravam o equinócio da primavera e a homenageavam com símbolos como lebres e ovos coloridos.
Nesse sentido, havia uma festividade em 30 de março, que, com o passar das épocas, fundiu-se aos costumes e às tradições da Igreja Católica. E símbolos como a lebre e os ovos de aves que eram pintados e decorados (tradição que permanece), transformaram-se nos coelhinhos da Páscoa e ovos de chocolate, respectivamente.
Aliás, as lebres ou os coelhos são animais bastante férteis. Assumindo a tradição milenar desses povos, os ovos de aves foram comparados ao sepulcro de pedra onde o corpo de Cristo foi deixado antes da ressurreição. Principalmente entre os cristãos ortodoxos, eles passaram a ser coloridos em vermelho, lembrando o sangue derramado por Jesus Cristo para salvar a humanidade.
Assim, o consumo de ovos nas celebrações da Páscoa passou a ser cada vez mais frequente, até porque equilibravam o jejum durante a Quaresma (período que vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Quinta-Feira da Semana Santa). Os ovos de chocolate só surgiram entre o fim do século XIX e início do século XX, na França.
A Páscoa como evolução espiritual
Algumas religiões não reconhecem o período de Páscoa em suas doutrinas, como é o caso do budismo, do islamismo, do hinduísmo e do taoísmo, entre outras. Contudo todas elas apontam a existência de uma força superior que move a humanidade ou de divindades que representam as forças presentes na natureza e na vida. A espiritualidade é vista por praticamente todas as religiões como uma fonte de sabedoria e evolução individual e da humanidade.
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Assim, enquanto uns celebram a Páscoa, essas pessoas utilizam o momento para refletir sobre a vida, a forma de se relacionar consigo mesmo e com os demais e para fazer evoluir a própria espiritualidade. Preferem exercitar a compreensão sobre como todos podem se tornar pessoas melhores para conviver e fazer do mundo um lugar mais digno e benevolente com todos os seres que aqui se encontram.
Concluindo, a verdadeira importância da Páscoa está em como, de acordo com nossas crenças, a entendemos. Porém, independente de dogmas, o período é sempre para renovar em nós mesmos o nosso amor ao próximo e a nossa fé. Por isso, saboreie ovos de chocolate, pensando no fato de que eles representam a abundância de bons sentimentos, liberte-se de velhos conceitos e do julgamento e renasça para a vida sob a perspectiva de entender que, como seres humanos, temos a oportunidade de evoluir e influenciar positivamente o mundo em que vivemos.