Se você costuma ler conteúdo sobre psicologia ou sobre espiritualidade, provavelmente já deu de cara com o termo “self”, mas você compreende o significado dele? “Self” é um termo em inglês que não tem tradução exata para o português, pois depende do contexto em que é aplicado, mas significa basicamente aquilo que diz respeito a si mesmo, por exemplo: “self-esteem” é “autoestima”, enquanto “myself” é “eu mesmo”.
Há três principais significados para “self”. Um deles baseia-se na psicologia de maneira geral, outro na teoria do psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung e o terceiro na espiritualidade, que é mais amplo.
O “self”, segundo a psicologia
Desde o início do estudo da mente humana, o ser humano tenta compreender o conceito de “self”, isto é, de maneira geral, do si mesmo, de como nos vemos. Um dos primeiros psicólogos a tentar dar contornos mais definitivos para esse conceito foi o norte-americano William James (1842-1910), filósofo, psicólogo e o primeiro intelectual a oferecer um curso de psicologia nos Estados Unidos da América.
Segundo escreveu James, em seu livro “Psychology: the briefer course” (1892), temos em nós duas instâncias diferentes, o “eu”, que é o modo como vemos o mundo e o interpretamos (“I as a knower”, “eu como um conhecedor”, em tradução livre), e o “si mesmo”/“self”, que é o modo como vemos nós mesmos e nos interpretamos (“self as known”, “eu como me conheço”, em tradução livre).
Outro psicólogo e pesquisador, Roy F. Baumeister, publicou em seu livro “Self-esteem: the puzzle of low self regard” (1993) uma definição para o “si mesmo” que se baseia em três tipos de estímulos que nos afetam. Segundo ele, a percepção que temos de nós mesmos é advinda de:
- A capacidade e a consciência reflexiva que temos sobre nós mesmos e que é, naturalmente, distorcida, pois não somos suficientemente imparciais para nos avaliarmos;
- As relações interpessoais, por meio das quais recebemos informações sobre o que as pessoas pensam que somos e a maneira como agimos;
- A capacidade intrínseca que o ser humano tem de se perceber como um ser ciente e de agir com base nisso.
Ainda segundo Baumeister, o “si mesmo” é dividido em dois aspectos distintos: um aspecto descritivo, que é o modo como nos “vemos”, mas sem fazer juízo de valor, que é a autoimagem; e um aspecto valorativo, a autoestima, que é o modo como nos avaliamos: se somos bons ou ruins, fracassados ou bem-sucedidos e por aí vai.
Como você deve saber, a psicologia não é uma ciência exata e há várias vertentes e linhas de pensamento para interpretar o comportamento humano. Apresentamos acima apenas algumas das muitas ideias do estudo da mente humana.
O “self”, segundo Jung
Um dos conceitos mais populares do “self” foi desenvolvido pelo célebre psicoterapeuta e psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961). Para Jung, o “si mesmo” é o principal arquétipo do ser humano – arquétipos são como imagens primordiais que estão profundamente incrustadas no inconsciente coletivo da humanidade. De acordo com a teoria junguiana, o “si mesmo” é o centro de toda a psique, então dele emana todo o potencial energético disponível para o funcionamento da psique.
Segundo os estudos de Jung, o símbolo do “si mesmo” é um círculo, mas também pode ser representado por uma mandala. Quando esses elementos aparecem num sonho, portanto, é porque essa manifestação da vida onírica está dizendo respeito a nós mesmos e ao modo como nos vemos.
Ainda segundo o modelo junguiano, a personalidade total é dividida em três partes: consciência, inconsciência e ego. O “self” ou o “si mesmo” é o centro dessa personalidade, é o centro de tudo, sem o qual nada existiria, já que nada faríamos, pensaríamos e sentiríamos, se não tivéssemos consciência de nós mesmos.
O “self”, segundo a espiritualidade
Hoje já não é mais possível falar sobre espiritualidade de maneira direcionada e única, já que mesmo aqueles que admitem seguir uma religião ou uma crença incorporam elementos de outras religiões e crenças em sua fé; mas, em linhas gerais, em relação à espiritualidade, o “self”/“si mesmo” é aquilo que nos diferencia do todo, mas que ao mesmo tempo nos insere no todo.
Isso significa que, como somos alguém e temos consciência disso, não somos mero objeto ou uma parte insignificante do todo, já que participamos dele e podemos alterá-lo também, mas o todo é inescapável, então o fato de que temos uma consciência de que somos e existimos automaticamente nos coloca no todo, na vida ou em outra palavra que você deseje utilizar.
Alguns autores costumam dizer que, enquanto a alma/o espírito é o núcleo metafísico de quem somos, isto é, aquilo que somos e permaneceremos sendo em essência, mesmo quando a vida neste mundo acabar – algo que transcende esta existência –, o “self”/“si mesmo” é a consciência de que existimos neste mundo atual, portanto este “si mesmo” ficaria neste plano quando chegar a morte, enquanto a alma transcenderia. Em outras palavras, o “self” é a consciência de nossa vida atual neste plano e neste planeta, enquanto a alma é a consciência e a essência que transcenderá este plano e este planeta, quando a nossa vida nele chegar ao fim.
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Independentemente de qual abordagem lhe interesse mais, se a da psicologia, a da psicologia junguiana ou a mais espiritualizada, o “si mesmo” existe e a todo momento estamos em contato incessante com ele, já que é a consciência de que existimos que faz com que realizemos as atividades diárias mais bobas, como tomar um banho porque nos sentimos sujos ou com mau odor, até as atividades mais psicológicas e imateriais, como fazer planos e pensar em nossos sonhos.
Assim como cuidamos do nosso corpo físico ao fazer exercícios, manter uma dieta equilibrada e evitar excessos, precisamos tomar cuidado e cuidar do “si mesmo” (seja lá o que isso signifique para você) e de tudo o que o envolve, como nossa autoestima, nossa autoconfiança, nosso autoconhecimento e tudo aquilo que pensamos a respeito de quem somos. Acredite você em alguma coisa ou não, cuide de si mesmo, porque você é a parte mais importante do seu mundo, já que nada mais existiria sem ele.