Eu precisava mais do que aquele vinho barato no final da noite. Sabia que era para estar em algum lugar mais adequado, mais confortável e que ao menos tivesse espaço para expor meus sentimentos, minha mobília e meu coração.
Queria um pouco mais de calma. Na verdade, gostaria de uma reabilitação. Estou jogada aqui neste chão, meu coração está no escuro.
Caramba… Quem foi mesmo que disse que o coração não sente dor? Você nunca deve ter tido o coração trucidado, meu amigão. Bom, calma, se acalme…
– “Breathe!”
Ai, meu Deus, outra coisa que você dizia não suportar em mim:
– “Nossa, por que toda vez que você fica nervosa, coloca palavras em inglês no meio?”
Você quer saber por que eu coloco? Porque eu amo o English, meu amor, me completa, sou livre, acho fantástico. I Love It.
Aliás, que saco, que bosta. Você não fazia nada de diferente, não ousava. Quer saber mais uma verdade? Nunca cheguei nos finalmentes com você.
Breathe!
Mas o foco aqui não são os dois anos sem chegar aos finalmentes. Não mesmo! Deixei que você tapasse minha voz, anulei-me a ponto de que nem eu mesma pude encontrar-me novamente. Não tinha mapa, nem migalhas de pão para encontrar o caminho de volta.
Havia as migalhas do meu coração, né?
Com o tempo fui me perdendo de mim mesma… A cada dia que passava, parecia mais e mais com a criatura que você havia arquitetado em seus pensamentos. Agora você foi embora e eu estou na sarjeta. Suja e podre.
Breathe!
Você também pode gostar
- Estou vivendo um relacionamento abusivo? Descubra!
- Veja 4 dicas para terminar um relacionamento abusivo
- Viva a experiência de 28 dias de gratidão
Mas preciso lhe confessar mais algumas coisinhas: no meio desta sala de estar, caída, debulhando-me em lágrimas, passei a refletir sobre algumas questões.
A culpa não foi sua por inteiro neste amorzinho de bosta.
Eu fraquejei, me expus de uma tal forma que você sabia cada detalhezinho do meu ser. Te contei o medo que sentia ao me encontrar na escuridão. O receio que sentia ao me encontrar sozinha nas vezes que me encontrava chorando sem motivo aparente. A forma que me sentia envergonhada em me expor em determinadas situações por medo do que fossem pensar.
Lhe dei total liberdade para mexer na minha vida, nos meus planos, no meu celular e modificar o que achasse necessário. Excluí os meus amigos pelo fato de que você dizia não confiar neles. Dei meu cachorro porque você simplesmente não gostava de animais. Das minhas plantas você também não gostava – e eu adorava aquelas roseiras. Não, não posso me esquecer de mencionar os incensos que deixei de acender, pois você simplesmente não gostava do cheiro. Parei de meditar, algo que renovava meu espírito, já que para você aquilo era tudo baboseira. Dos meus peixinhos você também não gostava. Falava que eram inúteis. Vendi o aquário e comprei uma blusa ridícula que você queria de aniversário.
Parei de ouvir Ozaki Yutaka e outros porque você dizia que não fazia sentido gostar daquele estilo musical. Deixei de ver meus pais com tanta frequência. Não praticava mais cozinha terapia porque você preferia um restaurante.
Breathe!
Virei-me do avesso. No fim, parecia-me mais com você, com o que você idealizava. Chegando neste momento, percebi que não era amor, que era tudo, menos amor. Me desfiz e montei uma pessoa irreconhecível. Mas não pude mais, não posso mais.
Agora, aqui nesta sala de estar, estou tocando bem fundo na ferida, neste rombo. Só que estou calma. Estou me virando novamente. Em um processo lento e doloroso, mas preciso lhe dizer:
Esta noite não estou assustada por me encontrar aqui sozinha, na verdade estou até conseguindo sorrir. E estou amando, amando de verdade, agora com todas as forças, e sendo tão “eu” quanto poderia ser. E caso queira saber esse amor tem nome, se chama amor-próprio. Me amo tanto agora que sei que não preciso de que alguém me transforme em alguma coisa para ser amada.
E este é o melhor sentimento que eu poderia ter!