Comportamento Educação dos filhos

Quatro preconceitos que precisam mudar em relação às crianças

Retrato de alunos sentados na escada da escola.
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Escrito por Andreia Howell

A maioria das pessoas que se respeitam aprecia a criatividade, a justiça social, a inovação, os direitos humanos e o relacionamento. Mas, ainda assim, a forma como nós vemos e tratamos as crianças ainda se baseia em valores rígidos e de controle.

“Os adultos não comem alimentos dos quais não gostam, mas, por algum motivo, devemos impor às crianças um padrão diferente. Assim como quando dizemos a elas que não podem ter mau humor, dias de folga ou decidir quem pode abraçá-las e beijá-las.”

“As pessoas precisam parar de confundir o ato de mimar crianças com o de respeitá-las como respeitamos as outras pessoas.” Allies Academy

Mito 1 — O papel dos pais é moldar a criança da forma certa:

Esse “pré-conceito” é ligado ao pensamento de que os pais estão no controle e que educação é mudança de comportamento. Essa visão leva a manipulação, técnicas de controle como os quadros de recompensas, subornos e ameaças. Também leva a pais estressados e relacionamentos pais-filhos desconectados.

Deve mudar para: o papel dos pais é fornecer um ambiente de apoio que permita que uma criança desabroche e seja quem ela é.

Mãe e filho sentados em frente do computador.
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Mudar esse preconceito para algo menos controlador e mais solidário pode ser libertador. Os humanos não são projetados para controlar uns aos outros, nós somos projetados para nos relacionarmos uns com os outros.

Em vez de nos ver tentando moldar nossos filhos “da forma certa” usando técnicas de modificação de comportamento, devemos confiar que, por meio do exemplo e da comunicação gentil, podemos ajudá-los a navegar pelos aspectos complicados da vida. Com respeito e dignidade, humor e paciência você orienta seu filho, apoiando-o, fornecendo-lhe informações, mostrando compreensão quando ele comete erros.

Mito 2 — As crianças devem fazer o que lhes é dito:

Essa visão leva a crianças sendo degradadas e desrespeitadas na vida cotidiana — mandadas, “caladas”, criticadas, gritadas. Potencialmente, leva a circunstâncias perigosas, porque as crianças ficam muito mais hesitantes em falar contra algo que sabem que realmente não deveria estar acontecendo com elas.

Relacionado a outros preconceitos, como: as crianças não devem responder de volta ou as crianças não devem nos “perturbar”. Isso causa muitos problemas sociais futuros.

Pai brigando com o seu filho.
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Deve mudar para: as crianças devem ser vistas, ouvidas, e seus pontos de vista valorizados.

Levamos as crianças a lugares onde sua energia natural não é bem-vinda, pedimos que se acalmem e respeitem o ambiente e, quando não o fazem, ficamos com raiva, indignados que uma mera criança possa ousar exercer sua vontade ou suas necessidades.

O modelo de aliado nos convida a rever as expectativas que colocamos nas crianças.

Pede-nos que acolhamos as vozes dos nossos filhos, que abramos espaço para que nos respondam, que celebremos por poderem partilhar os seus sentimentos e suas opiniões. Ele nos pede para olhar para o comportamento perturbador ou não cooperativo e perguntar “o que meu filho está comunicando aqui?”

“Crianças obedientes se transformam em adultos obedientes. Eles são menos propensos a se defenderem, mais propensos a que tirem proveito deles. Eles também são capazes de atos terríveis, porque não se responsabilizam por seus atos; eles culpam quem lhes disse para fazer isso” — Dra. Laura Markham.

Pais brincando com os dois filhos pequenos no sofá.
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Mito 3 — Crianças são boas ou más

Resumido na frase: “garoto danado!”, ou “boa menina!”.

Leva a crianças sendo sobrecarregadas por um rótulo, adultos tentando manipular ou controlar as ações ou o comportamento de uma criança com palavras, levando a impactos de longo prazo, como crianças que precisam de feedback externo positivo em vez de serem intrinsecamente motivadas.

Deve mudar para: se uma criança PODE ser boa, ela SERÁ boa.

Não existem filhos bons ou maus, existem, no entanto:

☞ expectativas inúteis colocadas sobre as crianças (ficar sentadas por longos períodos/ não explorarem/ ficarem em silêncio etc.) e raiva infundada quando as crianças não atendem a essas expectativas

Mãe ensinando os dois filhos com o notebook aberto.
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☞ crianças tentando se comunicar de uma forma considerada inadequada (por exemplo, uma criança gritando com um dos pais pode ser vista como “mal criada” OU pode ser vista como uma criança tentando, com o melhor de sua capacidade, transmitir algo importante)

☞ crianças atendendo às suas próprias necessidades (por exemplo, tirando cereais e leite do armário e fazendo bagunça ou pegando um brinquedo de outra criança), algo que deveria ser admirado ou, se socialmente inaceitável, conversado gentilmente indicando as normas de nossa sociedade.

☞ necessidades não atendidas — muitas vezes, quando as crianças estão com fome, cansadas, sobrecarregadas ou sem apoio, elas agem de maneiras que algumas pessoas classificariam como “difícil”

Lembre-se: “todo comportamento é comunicação”.

Pais brincando com a filha.
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Mito 4 — As crianças não sabem tomar boas decisões

Resumido na frase: “porque eu disse”.

Leva a crianças que não são capazes de ouvir seus corpos ou confiar em suas próprias necessidades, pais forçando as crianças a fazerem coisas que não funcionam para elas. A relação de confiança entre pais e filhos acaba sendo afetada negativamente.

Relacionado a outros preconceitos, como: a mãe sabe mais/ as crianças não sabem o que querem ou precisam/ os pais são os únicos seres racionais na relação pai-filho.

Deve mudar para: as crianças têm voz nas coisas que lhes dizem respeito.

As crianças são seres humanos com sentimentos e esperanças, muitas vezes estão bem posicionadas para compreender suas próprias necessidades e devem ser apoiadas para conhecê-las. Acreditamos no mito de que apenas adultos podem saber do que uma criança precisa e que as crianças devem obedecer a tudo o que lhes é transmitido.

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Isso é problemático porque muitas vezes os adultos não sabem o que está errado. Crianças satisfeitas sendo obrigadas a comer, ou se sentindo desconfortáveis em alguma roupa ou algum sapato que está apertando em algum ponto, ou cansadas, e assim por diante…

Cada um de nós tem seu próprio conjunto de “pré-conceitos” que carregamos conosco. Eles são baseados em nossa educação, nossas experiências de vida. Agora é um bom momento para considerar o quão bem eles estão servindo a nós, nossos filhos e nossas famílias. E, se eles não estão nos servindo bem, vamos aplicar aquele bom e velho mantra: fora com o velho!

Sobre o autor

Andreia Howell

Andreia morou na Austrália e desde 2007 reside nos Estados Unidos.

Graduada em Nutrição com Pós-graduação, atuou 15 anos na área de Nutrição Clínica.
Formada em Ballet Clássico dançou e deu aulas no Brasil e Estados Unidos.

O seu estilo de vida trouxe a oportunidade de conviver com indivíduos de diferentes continentes e culturas.
Apaixonada pelos mistérios e enigmas do desenvolvimento humano, nos últimos 8 anos vem estudando e observando o comportamento humano, principalmente ligado a primeira Infância, o que a levou ao processo de desescolarização e um interesse crescente sobre o início da vida e o condicionamento e adaptação da mente humana em diferentes ambientes e circunstâncias.

Seu trabalho tem influência de Gabor Maté, Shefali Tsabary e Gordon Neufeld entre outros.

E-mail: andreiahowell@hotmail.com