O Flautista de Hamelin, uma fábula dos Irmãos Grimm, fala de um tocador de flautas que conseguiu a façanha de conduzir para fora de um vilarejo todos os ratos que infestavam ruas e casas apenas usando a sua flauta encantada. Seguindo-o, totalmente enfeitiçados, os ratinhos entraram com ele no rio e morreram afogados, vitimados pela hipnose que os dominava.
Este é apenas um resumo rápido de uma estória rica em ensinamentos ocultos. O texto pode ser tratado como uma metáfora do ser humano moderno, que sofre à espera de soluções que venham de fora e sonha com a vinda de um messias qualquer para salvá-lo de um vazio existencial.
Pobre alma que se converte em seguidor incondicional de doutrinas enfermiças e teologias bizarras, acreditando nos primeiros flautistas que tocarem os seus corações combalidos com promessas de êxtase ou atalhos – quase sempre perigosos – para um Shangrilá qualquer.
Estes falsos cristos, hábeis na verborragia sedutora, são grandes oradores e usam os seus recursos e encantos para explorar a boa fé daqueles que ainda não alcançaram a razão e vivem como detentos na Caverna de Platão, totalmente mergulhados na desinformação e presos em um mundo de ilusões.
São como náufragos a se debaterem no oceano, prontos para segurar qualquer tábua que lhes jogarem.
Ainda sob influência do arquétipo do adorador, trazendo na alma os instintos mais primitivos de devoção, esses infelizes prestam reverência a falsos gurus que pululam em todos os quadrantes do planeta.
Quase todos esses pretensos mestres, acabam revelando-se sórdidos aproveitadores, cegos presunçosos guiando cegos, agindo como déspotas que pregam a renúncia aos seus seguidores enquanto enriquecem e desfrutam os prazeres terrenos.
O vilão do conto não são os ratos, mas sim o flautista, porém, nenhuma criança entende isso, nem mesmo os adultos compreendem que a fábula faz referência a força irresistível e arrebatadora do som de uma flauta que representa (de forma oculta) o poder sedutor de alguém talentoso com as palavras, poucos entendem tratar-se de uma analogia que retrata alguém capaz de conduzir multidões de pessoas (ratos), de forma talentosa, ao abismo, através de discursos motivadores e soluções mágicas para as suas dores.
Enquanto o ser humano viver à espera de soluções externas, enquanto pensar que a felicidade só poderá ser encontrada no mundo que o rodeia, estará vulnerável a toda sorte de influências perniciosas de aproveitadores sagazes. Enquanto achar-se incapaz, fraco, impotente e desprotegido, estará de pires na mão a espera de auxílios transcendentais para um enfrentamento que é seu.
Só existe um Mestre, só existe um Guru e é nosso SELF (si mesmo). Ele é todo o Caminho, toda a Verdade e toda Vida, é o nosso Cristo Interior, mas calma, não significa que não existam exemplos a serem seguidos, não significa que os grandes líderes espirituais que passaram pelo planeta não devam ser tratados com reverência, porém, é preciso entender que a simples devoção é inócua, cria gaiolas de ouro, pois não podemos transferir os nossos problemas para que essas entidades os resolvam.
As dificuldades da existência são tarefas educativas e enriquecedoras, faz parte da lógica da própria evolução. O homem precisa assumir a responsabilidade plena sobre si mesmo, precisa enfrentar os dragões do seu mundo interior com coragem, para isso, as Forças do Universo estarão com ele, mas jamais lutarão em seu lugar.
Buda, Krishna, Jesus de Nazaré, Francisco de Assis, Ramakrishna e Ramana Maharshi são alguns exemplos vivos de Mestres que vieram ao mundo para ensinar, não para arrebanhar seguidores. Todos eles foram retrato de renúncia e desprendimento, elevaram nossa alma com esperanças e nos ensinaram a buscar a iluminação dentro de si mesmo.
Gurus cobrando Satsangs, Mestres desfilando em Rolls Royces, Pastores em banheiras de ouro, Santidades que apoiam governos corruptos, etc. são alguns exemplos bizarros de lobos em pele de cordeiro.
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Um dia aprenderemos que tudo aquilo que buscamos já temos, um dia conheceremos todo o poder que temos para transformar a própria realidade e não beijar o chão onde passam os gurus que nos escravizam.