Por ocasião do Dia Mundial da Filosofia, comemorado todo ano na terceira quinta-feira do mês de novembro, a pergunta “quem são os filósofos e o que eles fazem?” merece aqui uma reflexão, sobretudo numa época em que o governo federal vem atacando as ciências humanas em geral, e em particular o ensino da filosofia no país. Para melhor explicarmos essa questão, vamos dividi-la em duas partes, como segue.
Em primeiro lugar, no que se refere à primeira parte da questão “quem são os filósofos?”, vamos nos valer de algumas ideias do filósofo prussiano Friedrich Nietzsche (1844-1900). Para ele, “O filósofo é o homem do amanhã; é aquele que cultiva a utopia; é aquele que recusa o ideal do dia”. Ou seja, o filósofo é aquela pessoa que não pensa só em si, só na sua família, no seu partido político. O filósofo é aquele que pensa no todo, no bem comum.
Dessa forma, Nietzsche é um filósofo “pé no chão”, como se diz por aqui no Amazonas. Ou seja, para ele as coisas não acontecem no “mundo das ideias”, mas sim no “mundo real”, onde habitamos. Quem filosofa são os homens reais, e eles filosofam a partir das necessidades existenciais, como por exemplo o preço da comida, o transporte público, o preço da gasolina, do gás etc.
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Nietzsche entende o filósofo como “um terrível corpo explosivo diante do qual tudo corre perigo”. Ou seja, para ele a filosofia não deve ser o refúgio dos fracos. Filosofar não é estar distante de rezar, pregar, salvar, cuidar. Para ele, o filósofo é o contrário de um sacerdote e a filosofia não é uma casa onde os doentes descansam. Filosofia é ação, é luta; filosofia é vida real.
Em segundo lugar, no que se refere à última parte da questão, “o que os filósofos fazem?”, vamos apenas acrescentar, além daquilo que já foi dito acima, e ainda se valendo das ideias de Nietzsche, que “Os autênticos filósofos são comandantes e legisladores: eles dizem ‘assim deve ser!’, eles determinam o ‘para onde?’, do ser humano”.
Dessa forma, o trabalho do filósofo é tomar consciência da “vontade de potência” que existe nele e em seguida convencer os seus pares dessa força interior. É dizer não ao senso comum. É dizer não ao preconceito. É ensinar às pessoas, principalmente às crianças e aos jovens que o pluralismo é sinônimo de inteligência e que “toda unanimidade é burra”, como disse Nelson Rodrigues.
Por fim, e não menos importante, cabe aqui lembrar que qualquer pessoa pode ser um filósofo, desde que possua suas faculdades intelectuais plenamente em funcionamento, pois se a racionalidade é a primeira exigência para que alguém se torne filósofo, e se todos os homens possuem racionalidade, logo todo ser humano pode tornar-se filósofo. Deixemos a ingenuidade de lado e sejamos filósofos!