Convivendo

Quem são os pais omissos na trama das mães perversas

Pais sentados no sofá descontentes com filha triste ao meio.
123RF/Andriy Popov
Escrito por Silvia Malamud

O pai omisso é o parceiro que costuma facilitar o abuso da mãe narcisista, perversa, em detrimento dos próprios filhos. Ele, porém, é mais uma das vítimas sequestradas e é tão impedido de proteger a si mesmo quanto aos seus filhos. É menosprezado, jogado para escanteio e ignorado.

As atitudes e diretrizes da família, portanto, ficam apenas e tão somente a critério da mãe, esposa desajustada.

Se acaso o cônjuge resolver reivindicar o seu posto, ou mesmo se tentar proteger as suas crias das crueldades a elas inferidas, os resultados costumam ser tão devastadores, que dificilmente conseguirá se sentir seguro o suficiente a ponto de poder se confrontar com as situações armadas.

Nas ocasiões de impacto, as respostas são repletas de dramas, descontrole emocional e encenações de mais cenários abusivos. A ira é direcionada ao marido, que, no final, para não abandonar o barco com os filhos dentro e à deriva, acuado, decide se calar. E, em seu silêncio profundo, anuncia a sua subjugação, tornando-se coparticipante da trama abusiva, pela escolha da omissão.

Por outro lado, a esposa narcisista escolhe como marido alguém com um terreno emocional e com características de personalidade específicas para que possa colocar em prática as suas desequilibradas e estratégicas ações.

A fúria, o discurso e o drama das mães predadoras são estonteantemente intensos, a ponto de calar qualquer um que estiver a sua volta. O pai, muitas vezes ciente do que ocorre, ainda assim não tem coragem de colocar limites claros para proteger os seus filhos ou abandonar a família. A causa da desistência de si mesmo se deve a conceitos culturais e também ao resultado que os acuamentos emocionais no ambiente tóxico promovem no universo psíquico.

Mulher gritando com homem, que coloca as mãos atrás da cabeça, na mesa de café da manhã.
Foto: Fabio Formaggio/123RF

Por mais inacreditável que possa parecer, algumas vezes, a mãe é quem acaba pedindo a separação desse pai, acusando-o de inútil, invasivo e impondo outras desqualificações, quando ele tenta cuidar da família ao seu modo ou mesmo proteger os filhos.

Nessa trama sem saída, se o marido se cala, é acusado de inútil e omisso; se reivindica, é acusado de sem jeito, agressivo, egoísta, desumano e desrespeitador da autoridade materna.

Essas esposas muitas vezes avisam que vão se separar apenas para acuar mais ainda e dar uma espécie de “corretivo” no marido, imaginando que com isso a submissão poderá aumentar, e elas assim ganhariam mais espaço, ficando mais autoritárias e mais magnânimas em seus delírios de grandeza.

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Se, nessa fatídica oportunidade, o cônjuge estiver minimamente desperto, ele vai aproveitar para cair fora de vez, apostando que os filhos reconheçam a vida que têm e, quem sabe, a que podem ter.

Nesses momentos, porém, mais uma guerra costuma ser armada, e essas adoecidas mães farão de tudo para minar ainda mais a imagem desses pais. A tentativa é fortalecer a aliança de submissão dos filhos, aumentando o medo do desamparo e da rejeição.

As histórias que tenho em consultório mostram que, por mais que essas mães tentem denegrir a imagem do pai, a verdade de algum modo sempre aparece.

Homem agachado em frente a uma porta de vidro, juntando as mãos com sua filha pequena do outro lado.
Foto de Tatiana Syrikova no Pexels

Certa vez atendi um filho único, que ficou grande parte de sua vida distante do pai, que havia se separado da sua mãe. Tinha lembranças das inúmeras vezes em que o esperou para passear e que ele não aparecia. Tinha lembranças da sua mãe falando mal dele, dizendo que ele era assim mesmo. Também tinha uma lembrança específica de um dia em que o pai veio visitar e trouxe um colar de presente para a sua mãe, provavelmente em uma tentativa de reconciliação, e que ela não aceitou. Poucas vezes o viu depois disso; mas, apesar das falas da mãe e da dor de não mais o ter encontrado, lembrava-se do pai sempre sendo afetivo consigo. Já adulto, casado e com filhos, a sua mãe adoeceu gravemente. Sendo ele seu único filho, largou tudo, passando um bom tempo no hospital com ela, até que inusitadamente o seu pai aparece, olha para ele e diz: “filho, você está cansado, vejo no seu olhar, vá para casa, tome um banho e, a partir de agora, este posto é meu”. Depois de um tempo, sua mãe faleceu e realmente amoleceu antes de partir, permitindo-se ser cuidada. O meu paciente também pôde entender toda a trama que houve, além da que ele próprio havia passado com a mãe.

Os filhos que vêm fazer terapia conseguem discernir, fazendo as reparações necessárias, cuidando de si mesmos, porque também são vítimas que sofreram bastante.

Quanto mais despertos, melhor!

Silvia Malamud

Sobre o autor

Silvia Malamud

- Psicologa
- Especialista em temas relacionados ao Abuso Emociona com narcisistas perversos em relacionamentos afetivos, familiares, mãe/pai filhos, escolares, sociais e de trabalho.
– Especialista em Terapia Individual, Casal e Família /Sedes
- Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
- Terapeuta Certificada em Brainspotting - David Grand/ EUA
- Terapia de Abordagem Direta a Memórias do Inconsciente.

EMDR e Brainspotting são terapias de reprocessamento cerebral que visam libertar a pessoa do mal estar causado devido à experiências difíceis de vida, vícios, traumas, depressões, lutos e tudo o mais que é perturbador e que seja uma questão para que a pessoa queria mudar. Este processo terapêutico, por alterar ondas cerebrais viciadas num mesmo tipo de funcionamento, abre espaço para que a vida mude como um todo, de modo muito melhor, surpreendente e inimaginável anteriormente.

Mais sobre Silvia Malamud: Além de psicóloga Clínica, é também formada em Artes plásticas- Terapia Breve - Terapia de Casais e Família pelo Sedes Sapientiai. Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e em Brainspotting David Grand/EUA. Desenvolveu-se em estudos e práticas em Xamanismo, Física Quântica, Bodymirror. Participou e se desenvolveu em metodologias de acesso direto ao inconsciente, Hipnose, Mindskape, Breakthrough e outras. Desenvolveu trabalho como psicóloga Assistente no Iasmpe, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, com pesquisa sobre o ambiente emocional de residentes durante o período de suas residências, de 2009 até 2013. Participou do grupo de atendimentos de casais do NAPC de 2007 à 2008. Autora dos Livros "Projeto Secreto Universos", uma visão que vai além da realidade comum e Sequestradores de Almas, sobre abuso emocional que podemos estar vivendo, sem ao menos saber, sobre como despertar e como se proteger.

· Conhecimento terapêutico: Cenários e imagens: Já presenciei diversos pacientes fazerem "viagens" às vidas anteriores, paralelas, sonhos e mesmo se reinventarem em cenas reais ocorridas ou não. Vi-os saindo do túnel do reprocessamento, totalmente mudados e transformados, inclusive em suas linhas de tempo. Para mim, fica uma pergunta de física quântica... O que acontece com a rede de memória da pessoa se a matriz do acontecimento muda totalmente não o afetando mais? A linha do tempo e todos os significados emocionais transformam-se simultaneamente. Todos os eventos difíceis que a pessoa teve em relação ao tema ao longo da vida perdem o sentido e até parece que nem existiram, embora se saiba. A pergunta que fica é: O que é o tempo quando podemos nos transformar e nos auto-superarmos nesta amplitude?

· Coexistimos em inúmeras camadas de realidades que são atemporais. Por exemplo, o seu “eu” criança pode estar existindo e atuando em você até hoje... Outros aspectos desconhecidos também podem estar, sem que você suspeite.

Silvia Malamud
Psicóloga clinica Especialista em Terapias Breves individual, casal e
família/Sedes - CRP: 06-66624
Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
Terapeuta Certificada em Brainspotting – David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem Direta a Memórias do Inconsciente.
email.: malamud.silvia@gmail.com