Capítulo 14 – Recomeçar é optar pelo seguir vivo
Recomeçar é escolher seguir vivo!
Despertar sob a luz de um novo dia e renovar
Encontrando nova força para amar
Em tempos difíceis
Descobrir
Sem querer o quanto é frágil
Decidir
Escolhendo cada passo aonde ir
Num futuro incerto
Não é fácil, prosseguir apagando da memória
Tudo aquilo que fez a nossa história
Nossa vida de novo começar
Eu canto ao vento
Que beija os meus cabelos num alento
Eu canto ao mar
Que apaga os meus sentidos, e me faz
Recomeçar
Decidi avançar o meu caminho
Sem deixar
Que o passado, o destino, possam destruir
Uma vida honesta
Revirar
Alegrias e lamentos
Entender que só mesmo o próprio tempo
Nos dará, todas as respostas
Não é fácil prosseguir apagando da memória
Tudo aquilo que fez a nossa história
Nossa vida de novo começar
(Recomeçar – Tânia Mara)
Coloque uma tecla DELETE no teclado de acesso aos seus arquivos e decisões sobre a vida. Há tanto o que deletar e jogar fora, que agora entendo ser a tecla mais apagadinha de tanto usar, mais do que a barra de espaço. Apague todos os registros que não prestam, que servem apenas para drenar energias. Apague as frases que apenas servem para nos apequenar diante de nós mesmos, mas antes ouça a música de Tânia Mara, na sua voz de anjo preferido no coro celestial para purificar o acesso até a parte mais delicada da sua mente:
- não se esquece, coisa ruim
- toda vez que lembro, dói como da primeira vez
- se não deu, não vai dar novamente
Essas frases, ditas por mero acaso, apenas vício de linguagem ou clichê ordinário, toldam a visão de qualquer um e impedem a observação límpida dos fatos. Além disso, são frases que se juntam a muitas outras não listadas aqui, porque não convém gastar tinta e papel com palavras, expressões e frases que não falam de coisas boas.
Preste muita atenção no trecho em itálico da letra da bela canção “Recomeçar”, interpretada por sua autora, a cantora Tânia Mara. Observe atentamente cada palavra. Depois de estudar a essência das três frases, vá às três primeiras palavras e decida: é ou não é algo fácil?
Esquecer, seja o que for, não é nada fácil. Quanto mais aguda a emoção, mais profundamente se enraíza na alma da pessoas e ali fica, por anos a fio, como uma espécie de chaga que não cicatriza e que sangra a lembrança dura, gota a gota, dor a dor, atormentando a pessoa. Uma boa inspiração para acelerar o processo de apagar memórias de grandes perdas, desamores e dos traumas que nos causam as pessoas em quem apostamos o melhor dos nossos sentimentos é ouvir e apreciar uma das mais belas composições do nosso Vinicius de Moraes, que parece ter vindo à Terra apenas para resgatar o ato de amar. Eis, abaixo, a letra:
Pra que chorar?
Se o sol já vai raiar
Se o dia vai amanhecer
Pra que sofrer?
Se a lua vai nascer
É só o sol se pôr
Pra que chorar?
Se existe amor
A questão é só de dar
A questão é só de dor
Quem não chorou
Quem não se lastimou
Não pode nunca mais dizer
Pra que chorar?
Pra que sofrer?
Se há sempre um novo amor
Em cada novo amanhecer
Sem ser um milagre, sua proposta pode ser vista como uma redenção da capacidade de enfrentar o tormento interno, mediante o olhar para fora e para adiante, apostando que novos dias virão em nossas vidas e, com eles, as boas surpresas, como novos amores, novos e mais calorosos amigos e amigas, novas oportunidades para mudar atitudes e comportamentos e de acreditar que “essa tal felicidade”, um clichê muito repetido mas importante, pode chegar na vida e nela se instalar, gloriosa e absoluta.
Aprendi uma técnica simples para habilitar a nossa tecla “delete” que, suspeito, deve estar instalada em nossos circuitos mentais. Ela funciona bem, com exceção dos estados de culpa, que são gravações dolorosas que requerem mais de uma vida para ser apagadas. Como o escopo deste livro não deriva para os temas que devem ser tratados apenas pelos MUITO iluminados, o que, decisivamente, não é o meu caso, o apagar das culpas não se encaixa no que descrevo a seguir sobre como “deletar” as lembranças ruins.
Num seminário sobre sensitivity training, o focalizador dos trabalhos ensinou e nos fez exercitar uma técnica que não nomeou, mas que eu gosto de chamá-la de “falar mais alto em voz muda”. Essa técnica consiste em, no instante em que a pessoa seja tomada pela lembrança ruim, imediatamente traga lá de trás lembranças explosivas, como a cena em que subiu na mesa e dançou alegre (claro que com um grau etílico elevado no sangue…) ou soltou a voz para cantar “Maria, Maria”, do insuperável Milton Nascimento! Se, ao término do show, a pessoa tenha levado um tombo e derrubado garrafas, copos e porções de picanha e linguiça, tudo junto… melhor ainda! Funciona, sim! A mente se deixa levar porque rememora algo que a divirta, para amenizar o gosto áspero das lembranças ruins! Resgate doces ou hilárias lembranças e as deixe ali bem pertinho de você, para que sejam acionadas quando sobrevierem as dores dos sofrimentos recentes. FUNCIONA! Pratique algumas vezes e experimente uma mudança de postura mental, acreditando que a SUA VONTADE é quem manda na MENTE, não o contrário. FUNCIONA!
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É preciso, também – e principalmente –, mudar a nossa postura diante dos fatos da vida, o que se chama RESSIGNIFICAR, de acordo com a PNL (Programação Neurolinguística) e que é, “…na prática, a capacidade que possuímos e quase não percebemos, de encarar de forma simples as situações que antes eram complicadas; de perceber de uma nova maneira e dar um novo sentido àquilo que já estava formatado no nosso sistema de valores e crenças” (fonte consultada na internet)
Na mesma fonte encontra-se uma bela definição para o termo: “Ressignificar é o movimento pelo qual desenvolvemos nossa capacidade de compreender as circunstâncias da vida” E, creia, não há fórmula mágica, muito menos toque de genialidade em nossa mente quando escolhemos rever nossas vidas como uma plataforma para um recomeço vigoroso, gratificante e que possa nos conduzir para um espaço em que a felicidade é bem mais que letra de música romântica ou arroubo de um coração poeta!
Uma boa técnica para operacionalizar a ressignificação pode ser assim: inicialmente, você escolhe o que um evento significa para você. Depois, ou ao mesmo tempo, não importa, quando as coisas saem erradas (e elas volta e meia INSISTEM em sair erradas, não é mesmo?), você procura o que é bom na situação e dá a isso a maior atenção. Você procura ver como beneficiar-se da situação, ao contrário de ser uma vítima dela! É simples assim.
Alguns exemplos sobre o funcionamento dessa tal “ressignificação”:
- Você está preso num engarrafamento e vai se atrasar para um compromisso. Como você pode usar a situação, em vez de se irritar se aborrecer? Relaxe e ouça o noticiário ou uma musica do seu gosto. Construa na mente o plano B, o plano C e assim por diante, de modo que consiga decidir como vai recuperar o tempo perdido ao longo do dia. Ensaie mentalmente para um evento futuro, como a estratégia que utilizará para surpreender a pessoa amada numa inocente noite de sábado. Desfrute da ociosidade forçada estudando os maneirismos dos outros motoristas, olhando de fato em volta, notando umas caras até bem engraçadas ou olhando as nuvens no céu e as esculturas nelas feitas pelos caprichos dos ventos das grandes alturas.
- O seu melhor amigo ia sair de férias junto com você e, no final, decidiu não ir. Que tal surpreender outro amigo, convidando-o para ir com você? Ou decidir que ir sozinho é a oportunidade de transformar suas férias numa aventura daquelas bem loucas, tipo sair sem rumo e só parar quando der muita vontade? Ou usá-la como uma oportunidade de desenvolver o seu relacionamento mais importante, que é a sua relação consigo mesmo, e cuidar de si, do corpo, da mente ou tentar aquele sofisticado prato cuja receita conseguiu sabe-se lá como?
- Você planejou passar o dia no campo e, lá chegando, está chovendo. Como você pode usar a situação em vez de se lamentar que a natureza ou Deus nunca lhe dão uma folga? Então que tal aproveitar para andar na chuva e se enlamear num feroz percurso de “bicicross”? Pode estar certo(a), caro(a) leitor(a) que inexplicavelmente a Natureza o(a) protegerá contra gripes, resfriados e essas chatices!
- Um relacionamento muito pessoal terminou. Você pode sentir pena de você mesmo ou ficar zangado com a outra pessoa, mas pode optar por deixar passar a fase do coração partido e se abrir para próximo relacionamento, também como uma oportunidade para um começo completamente novo, usando a liberdade para uma remodelação pessoal na forma como se entrega aos amores e sofre os desamores.
Se alguém lhe disser que isso não passa de negação, olhe para essa pessoa com alguma piedade (não muita, porque não deve merecer!) e assuma que você não está negando nada. Em vez disso, você admite plenamente: “Sim, eu preferia que as coisas não tivessem mudado ou que tivessem se encaixado nos meus planos.” Você sempre poderá fazer uma escolha de como reagir a esta realidade: “Sim, eu posso escolher me sentir irritado ou sentir pena de mim mesmo. Ou posso me concentrar nas vantagens da situação e procurar ativamente um modo de fazer essa situação me beneficiar”. Ou pode, in extremis, sair por aí e ver o que “vai rolar”. Ficar sob o peso dos escombros do que se foi, porém… nem sob tortura!
Como opto por não relatar as minhas vivências nos livros que escrevo, preferindo registrar o que vi ou ouvi, sempre mais interessantes relatos do que as minhas tropicadas aqui e ali, lembrei-me de uma curiosa ação de ressignificação vivida por amigo de longa data e centenas de horas de trabalho conjunto. Treinador de pessoas como eu, ele utilizava um criativo exercício para aguçamento das percepções como ferramenta para melhor conhecer o outro: numa sacola relativamente grande, ele colocava uns 30 pequenos objetos diferentes, para que o treinando, usando apenas o tato, acertasse o maior número possível deles em três minutos. Na sacola havia muita coisa, inclusive cinco preservativos em embalagens individuais, e foi aí que aconteceu a encrenca! Sua companheira de então cismou que os tais preservativos faziam parte do estoque de uso do meu amigo em supostas “puladas de cerca” e que estavam na dita sacola apenas para disfarçar. Foi o estopim para rompimento, mesmo porque estavam bem estremecidas e corroídas pela rotina as relações entre ambos. Eis, então, que o injustiçado treinador, passadas as semanas de dores e saudades agudas, resolveu usar o seu estoque de preservativos (como material para treinamento vivencial…) e vender por unidade na noite da zona boêmia da cidade, porque sabia que, pelas folhas tantas, um pouco altos por causa da bebida, sempre surgia nos boêmios a emergência: ter um(a) parceiro(a) para namoros do tipo “it’s now or never”, mas faltar o indispensável preservativo. Depois que vendeu tudo, percebeu que havia um nicho de mercado e, nos dias de hoje, seu expediente de trabalho começa às quintas-feiras, por volta das 22 horas e se estende até a manhã de domingo, portando elegante bolsa de couro na qual há tudo para uma noite de sair faísca, tudo mesmo, que ele revende a preços exorbitantes, mas que nunca sobra…
Pois é…
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