Capítulo 9 – SONHAR UM SONHO SONHADO: DÁ ATÉ SAMBA ENREDO!
Esta criativa frase é de uma simplicidade contundente. Não sei a quem creditar a autoria, porquanto tenha aparecido em minha tela sei lá como, mas juro que gostaria que fosse minha. Sonhos, de padaria ou nuvens em nossas mentes, são doces, saborosos e quando acabam podem ser substituídos por outros, com novos sabores, texturas e significados. O sonho de recomeçar é de uma doçura extrema: ao que parece, o tom doce que carrega e renova em si deve ser produzido por uma abelha-rainha, conforme um conto que ouvi na minha distante infância, quando queriam que tomasse purgante para dar uma limpeza geral por dentro. Tinha cinco ou seis anos de idade, devo ter tomado aquela coisa repugnante, mas guardei comigo a ideia da abelha-rainha, porque sempre imaginei que fosse uma abelha com todas as cores e que guardava em seu coração o segredo dos açucares de todos os méis. Se o ato de recomeçar é sonho num determinado momento, pode assim se mostrar e com os toques de doçuras de que precisamos nos momentos seguintes, durem o tempo que for necessário.
Falemos em linguagem sem doces e sabores assemelhados e coloquemos o que pensar em matizes de outros sabores, começando pelo salgado, numa simbologia sem grandes voos literários, porém oportuna nesse momento: o sonho, quando se desfaz, deixa um rastro de ácida amargura, em tons agressivamente salgados. Um recomeço muito sonhado que resultou de maneira diferente ao que se esperava ou que teve que ser abandonado precisa de um tempo para ser eliminado, por mais longo que este seja. O sonho pode ser buscado novamente em outra padaria: uma vez um desconhecido me contou no saguão de um aeroporto que sempre que algo não dava certo na vida dele, o passo seguinte era trocar tudo, e para começar, já que tanto apreciava a boa mesa, ele procurava um novo restaurante para degustar um jantar “au grand complet”, incluindo vinho de adega protegida do olhar menor que o de um enólogo certificado e demorava-se na degustação de cada porção e de cada gole. Entre um e outro avaliava o sucedido e destacava o que evitar e o que fazer na sequência dos fatos (um recomeço…). Segundo ele, e não vejo razões para duvidar, a estratégia funcionava muito bem, e no mínimo, segundo me permito deduzir, pelo menos o sabor ácido/salgado era sublimado pelos sabores do belo jantar.
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O que não se pode fazer, quando de um sonho que virou fumaça, para encerrar esse pedacinho do livro é: pensar que não existe mais padarias onde comprar o sonho (tem muitas mais e algumas são criativas ao ponto de querermos mandar a prudência e a recomendação médica às favas).
Acreditar que sonho desfeito por um recomeçar mal-resolvido é devastador ao ponto de nada mais crescer em seu lugar. A esse respeito, lembre-se que os soviéticos, durante a Guerra Fria, detonaram 456 bombas atômicas no Campo de Testes de Semipalatinsk, no chamado Polígono do Cazaquistão…e consta que ainda a vida se manifesta por aquelas bandas.
Ignorar que não é sem motivo que a natureza aposta tanto na renovação, quaisquer que sejam as circunstâncias: cai uma árvore, os ninhos que abrigava serão refeitos, pisa-se na entrada de um formigueiro, logo ali será construída outra, um incêndio toma conta do pasto, não demora e a relva ressurge verde e úmida…e tem sido assim desde muitos antes da nossa saída das cavernas.