Em primeiro lugar, não somos educados para nos relacionar de forma harmônica e consciente com nossos parceiros e parceiras. As mulheres, por exemplo, por muito tempo cresceram escutando dos pais que deviam se comportar ou não se impor demais, afinal os homens não gostam desse tipo de mulher, empoderada, podendo, assim, afastá-los. Ademais, as mulheres não podiam se dedicar demais ao trabalho ou ganhar mais que “ele”, pois deviam equilibrar a vida entre filhos, casa, carreira e por aí vai. A mulher também é educada, em sua maioria, para ser gentil e carinhosa com seu par, ainda que ele não o seja com ela. A sociedade também se encarrega, muitas vezes, de ditar que é preciso estarmos lindas, gostosas, poderosas e sexualmente atraentes (para eles!).
E o homem? Ah, o homem é sempre ensinado a ser o garanhão, a não chorar, ser durão, sexualmente (sempre) ativo e o provedor. Eles pouco sabem sobre seus sentimentos, vide que foram, muitas vezes, limitados a isso. Seu início na vida sexual tem como base as revistas masculinas e os pornôs de baixíssima qualidade.
Esses aspectos, infelizmente, ainda compõem um cenário de grande porcentagem da população mundial, embora já tenha sido muito pior. Em contrapartida, não restam dúvidas de que, na vida adulta, todos esses elementos são repetidos exaustivamente.
Por esses e outros motivos que, sim, é preciso reeducação afetiva, força de vontade e dedicação para estar numa relação, seja qual for o gênero que a pessoa se identifique. Compartilhar a essência com alguém, saber abrir mão, ceder, não olhar somente para o próprio umbigo e ainda assim ter uma vida independente do parceiro não são tarefas ensinadas! Precisamos nos concentrar, esforçar-nos e conquistar o próprio espaço.
A demanda amorosa, a princípio, carece de foco nas emoções, para melhor compreendê-las, porém não costumamos dar valor a isso, não é mesmo?
Em segundo lugar, a questão de estar num relacionamento é delicada, pois vivemos em um mundo que prioriza a rapidez, o dinheiro, o que é construído materialmente, enquanto a escassez para assuntos mais subjetivos, como a lida dos sentimentos profundos, o silenciar e o ponderar, aumenta exponencialmente. A resposta dessa realidade é o fato de que as pessoas aparentam não estar mais disponíveis para o outro, visto que também não estão disponíveis para elas mesmas.
Não me parece que seja interessante à sociedade que cresçamos sabendo dar valor aos nossos instintos básicos e com intuição. Mal conseguimos sobreviver a nós mesmos. Para muitos, a solidão é sinal de tristeza, o que também não deixa de ser triste.
Ficar sozinho e gostar da própria companhia são duas situações que deveriam ser ensinadas na mais tenra infância, assim como meditar, respirar, ter hobbies divertidos e prazerosos e uma vida agradável, independentemente do outro. Partindo desse pressuposto básico, encontramos a chave que nos aprisiona tanto: o medo da solidão.
Em terceiro lugar e ainda controverso, escuto muitas pessoas se queixarem por não estar numa relação, seja por medo de ficarem sozinhas, quererem se enquadrar num padrão social ou qualquer outra razão. Em contrapartida, há pessoas querendo sair de uma relação, pelo fato de ela ser tóxica, confortável ou simplesmente estar desgastada. Os motivos não importam, pois o fato é que as pessoas estão criando barreiras cada vez maiores para si. Levantando muralhas enormes para camuflarem seus preciosos sentimentos e isso muda tudo.
Experimente ser a carta da Estrela (do tarot) num ato profundo de exposição e desnudamento perante o outro, sendo você mesmo, nu e cru. Desnudar-se para o outro é tarefa árdua e não falo no sentido de arrancarem as roupas, porque essa é a parte fácil. A reflexão é grande. Não é pouca coisa…
Quem disse que seria fácil estar numa relação?
O fato é que nunca é! Claro, porém, que nem por isso precisamos desistir de compartilhar nossa vida com alguém. Uma relação a dois exige contato diário, olho no olho, bem querer, cuidado e um bocado de amor-próprio (e para o “mozão”). Como já comentei, para além do ato de se relacionar amorosamente com alguém, o autocuidado e amor-próprio são ímpares.
É preciso muito jogo de cintura. Afinal, nenhuma relação é composta somente por lírios, margaridas, rosas ou girassóis… Não, não, não.
Sempre haverá espinhos ou ervas daninhas para arrancar e, como uma flor, é preciso regar, cuidar, dedicar tempo e colocar no Sol para nutrir, mas saber tirar do Sol para não queimar. Isso é amor.
Sem isso, pasme: a coisa não vinga!
E, ao zelarmos por alguém, é preciso escuta, carinho, traquejo, cumplicidade, sexo gostoso, companhia, beijo na boca, D I Á L O G O constante e amizade.
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Seja afeto, conquiste afeto. Tenha fé em você, na relação e na humanidade. Aprenda a transmutar seus sentimentos sombrios para luminosos, abrace com frequência, diga o que sente e crie essa conexão tão fascinante que é estar em comunhão com alguém (incluindo com você mesmo). Lembre-se de que somos todos primordialmente integrais para, depois, tornarmo-nos complementares.
Estar numa relação não significa não estar sozinho, mas estar feliz na companhia do outro ou consigo mesmo.